Antonio Ramos da Silva
Ser real
Se pudesse
esfoliar a alma;
rasgar a roupa,
tirar a fantasia.
Desnudar o corpo.
O que será que sobraria?
Voltar ao ventre...
e em nascente silêncio ficasse
sugando o liquido que somos.
Energia realmente.
A essência!
A fragrância.
Sem casca.
Grafado
Disseste que sentes faminta,
quer por que quer
minha pele sorvida.
Habitat onde escreveras o teu amor.
Na duvida despetalei as margaridas.
Escolhi o meu querer.
Nem pensei.
Não me perdi.
Nem quis adivinhar.
Na pele grafei:
"Amor por ti".
Carícia
No rastro de saliva em meu corpo deixado.
Banhaste um dilúvio de felicidade temperado.
Agora beba o amor que me deste e dirija sem controle.
Escreve-me com tua língua e apague os vestígios
das palavras que te afastam de mim. Folheia-me...
Trem da alegria
Jamais me encontrarás
no solo pobre da depressão.
Refugiarei a minha tristeza
na tua alegria.
De onde para onde
Não desista daquilo que te faz feliz,
mas se depender de outrem a tua felicidade,
persistir sim, desde que exista pelo menos uma trilha
que poderá levar-te a uma estrada.
Faço o teu para os outros.
O que sobrar é teu.
O berço macio da vida é a nossa paz interior.
Lago manso onde repousa a nossa realidade.
Controle
Uma enfermidade não se origina na matéria. É da matéria para o campo das emoções, mente e espiritualidade. Aprofunde-se e equilibre esse trio.
Tua falta
Feche teus olhos
e me diz o que vês.
O vazio sombrio,
a escuridão sem fim...
Essa é minha vida sem você.
Apagada,
solitária,
infeliz assim.
Prometa-me
Uma doce mentira
é melhor que uma
irônica verdade.
Prometa-me.
Diz que sim!
Deixa-me ser o que te sinto.
Ter o que te escrevo.
Moldurar o ter e o ser
ao meu modo.
Sê-lo-ei feliz!
Silêncio
Todo o silêncio
têm o ruído leve da alma.
Uma melodia latente
comungada dos sentimentos.
São ecos mudos somente
audíveis a quem encosta
no coração os ouvidos.
Calor
Uma clara lua,
tom áureo com o azul escuro da meia-noite;
deleita-me com os afagos na sombra,
mãos que o amor retoma os seus direitos
quando me deito em aquarela,
desenhando-me nu, no corpo dela.
Solitária janela
Aquartelei minha alma a eternidade.
Escrevi o amor nas arestas do coração.
Em perene partida semeei o adeus
num pedaço de chão.
Ah! Quanta saudade.
Olho para trás aquela solitária janela.
Triste e abandonada.
Espelho das horas quietas.
Lenta a vida carrega.
Acendo o tênue pavio em espera.
Trafega, navega nos meus desertos e mares.
De carona na vida
ilha-me os sentimentos tragados.
Elos
O que atrai não é a casca e sim a composição. Uma árvore frondosa se cortada podemos aferir a sua maturação.
“Dar tempo ao tempo, para que ele nos traga o que tanto desejamos, pois tudo é possível, já que o impossível só o é, até acontecer”.
“Olhar de quem respira paz tranquilidade e bem estar interior, que se manifesta claro na beleza das fotos”.
Vem
Careço da água sorvida dos teus lábios.
Tua ausência é desespero.
Meus olhos já não veem a lua alta.
Não sentem a terra quente.
Transtorno-me. Fico Diferente.
Nada me é mais temperamental do que a tua falta.
Segredo
Se saberás ler-me saberás traduzir-me. Tu és a palavra-chave que me abre e o código que me decifra.