António Prates
O fanatismo é uma loucura epidémica, conduzida por velhacos, num delírio contagioso, que se transforma facilmente em raiva.
Poeta da província: um chico-esperto para o povo, mas sempre útil para os políticos locais usarem em nome da cultura.
As mentiras que ouvimos quando escutamos os políticos são as mesmas que lemos quando publicamos fotos nas redes sociais.
Fiz um intervalo atrás do sol-posto,
duas, quatro, cinco, dez léguas ou mais,
pra contar as rugas que tenho no rosto
e medir as causas desses meus sinais...
Calculei o tempo em cada refego,
dividi o tempo que passei sozinho,
subtraindo as penas q' inda aqui carrego,
por causa dos danos desse meu caminho...
Vendo barbas brancas vi um ar mais velho,
vi nesse momento mais de mil respostas,
e num alto grito escavaquei o espelho
e aventei as rugas para trás das costas...
Sei que minhas costas têm muitas cargas,
sei que nos meus ombros tenho um grande peso,
mas nestes meus ombros destas costas largas
também acumulo tudo o que desprezo...
A vida é composta destes intervalos,
destes retrospectos sempre benfazejos,
que nos dão imagens, que nos contam calos,
com aquele gosto que nos dão mil beijos.
O trabalho da nossa comunicação social confunde muitas vezes o dever de informar com o adultério de fazer propaganda.
Nos frequentes alaridos,
muitos são os que procuram
emprenhar pelos ouvidos,
e parirem, divertidos,
muitas coisas que censuram.
Nem sempre estou acordado, nem estou num só lugar, e no afã deste meu estado, quando me sinto cansado, acordo e volto a sonhar.
Através das palavras que não sabem ler aprendi a escrever os meus sonhos, e onde a ciência não chega estará sempre Deus.
Quando tens prosperidade, nunca tenhas a mania que um quintal é uma herdade. Hoje podes ser cidade e amanhã uma freguesia.
Foste um fundo verde no longo prado,
pintaste telas pelos limbos das colinas…
Foram searas, doce aroma nas campinas,
neste lugar descolorido, acastanhado…
Pisei veludo pelos quadros da natura,
enternecidos pela fauna e pela flora…
Eis outro viso, com tudo o que vejo agora,
contendo o rosto que a calma aqui segura…
Vi corrupio nos montados que aqui vejo,
em tons diversos, neste pasto ressequido…
Hoje, as planícies parecem não ter sentido,
mas mostram sempre o calor deste Alentejo.
Existem dificuldades para todas as pessoas, pois até aquelas que julgamos donas de tudo vivem em busca de felicidade.
Costumamos dizer que "as pessoas não precisam dos outros quando têm algum dinheiro." Esse conceito, além de estar muito longe da verdade, contribui ainda mais para o egoísmo das pessoas, para a desunião das famílias e para a solidão de quase todos.
Do que vejo nada estranho ante as almas que se sentem sós, e a liberdade perdeu o tamanho no pronome do rebanho que existe em nós.
Não sou poeta desses adereços
ornados por um fim superficial,
tampouco sou um verso de começos
sem termos no sentido horizontal.
Talvez por ser assim sou como sou,
quiçá por ser assim sou mais directo,
porém, nunca a verdade me deixou
a pé entre este chão e o nosso tecto.
E assim, vou bendizendo os eruditos,
os grandes lavradores da velha arte,
aqueles que nos seus versos bonitos
alastram o seu clamor por toda a parte.
As flores, a ilusão, os rendilhados,
alcançam admiração e todo o resto,
deixando os outros versos confinados
a este meu tributo que lhes presto.
Têm o coração vazio todas as pessoas que só conseguem orar com os bolsos cheios, ou para terem os bolsos cheios.