Antonio Montes
CHANURA
Lua cheia sobre as telhas
poço no rio, peixe na fileira
a cumeeira tem lá a sua coruja.
Luz baixa sobre a curva turva
apito de um sentido, sentimentos
grito... Uma falha no tempo.
Se solte, solte a sua vontade
mas não deixe a euforia
entornar as suas verdades.
Nem todo dia é dia de acerto
se segure, segure o seu cesto
não coloque seu plano no espeto.
Antonio Montes
O TECO-TECO
Cuidado com teco-teco
ele dispara e eu não breco
decida abaixo esta perto
para, pare! Vou dar um treco.
Olhe a lagoa, veja o marreco
bregueço, breco ou não breco
desenvolvido pelo progresso
hoje outro voar eu ate peço.
Não eu não quero passar perto
desse troço treco de teco-teco
ultima, estava com meu caneco
passando baixinho muito perto
matou assim o meu marreco.
Eu quero mesmo é um burrinho
para sair logo cedo bem cedinho
ainda assim sem vê no escurinho
descer muito bem devagarzinho
aquele estreito caminhinho.
Antonio Montes
CHORRILHO
Meu amor...
Vim as carreiras,
mas trago flores para você
... Margaridas, pétalas e vida
para avivar o nosso querer.
São flores da nossa estrada
mas essas, encontrei na feira
são para ti, oh minha amada!
esse amor, que tanto cheira.
Antonio Montes
GATO E PÁSSARO
O gato e o pássaro, lá de casa
o dia inteiro o gato pula
o pássaro vasa...
Voa e arrasa, com suas asas.
O gato com sua gula...
Extravasa! Todo sorrateiro
esgueira-se pelo canteiro
por detrás do capim santo
se esconde no seu canto
E fica ali o dia, inteiro.
E o pássaro?
O pássaro voa ligeiro
E lá do alto, voando
visualiza o mundo inteiro.
O gato com o saco se espanta
e se arranca em disparada carreira
levanta poeira
sem eira sem beira
e com sua mansidão
sai na escuridão, para roubar
mais um peixe na feira.
O pássaro?
O pássaro levanta-se do chão
se propagando pelo tempo
com sua vida costumeira
e segue desfrutando do sol
pela descida da comprida ladeira.
O gato e o pássaro...
Sempre apostos a se mirar
Não se amam
mas nunca param de se olhar.
Antonio Montes
ESTOU INDO
Idoso eu sou
com pouco anos
vivi a vida
com muito planos
toquei meu sonhos
e me enganei
nos desenganos.
Espero o ponto
da minha chegada
pesado eu vou
só com amor
não levo nada.
Antes limpei
hoje me sujo
trabalhei tanto
agora em planto
sou vagabundo.
Dores me levam
carnes tremida
nervos estão fracos
olhares buracos
turvos embaraços
com pouca vida.
Dias lembrei
hoje lembrado
pra tanto andar
ensinei caminhar
acalantei o chorar
hoje sou andado
Cantei pra dormir
segurei sua mão
sustentei seu corpo
me fez tanto gosto
caído no chão.
Já velei por amor
já plantei paciência
agora enfadado
acalmei a tal dor
nesse mundo irado.
Confesso, o caminho
que aqui me levou
me deixou sozinho
pobre passarinho
embrenhado em dor.
Quero amor
quero amor...
pra chegar aos meus restos
e mesmo se não presto
eu detesto protesto.
Vai chegar a sua vez
assim como cheguei
vai lembrar que um dia
tu foste criança
sujou fez estripulia
e eu os cuidei.
Quando eu não estiver
quem sabe a saudade
te levará a infância
cairá na verdade
da vida que é.
Antonio Montes
FAZER LÁGRIMAS
Não vou mais chorar...
Mas se por ventura
eu vier fazer lagrimas!
Farei baixinho
para que ninguém ouça
e nem venha me ver.
Não...
Eu não vou mais chorar!
Mas se eu chorar...
Tenha há certeza
que será por você.
Antonio Montes
FIM DE ILUSÃO
A vela sobre o tempo
inflama cresce a chama
e transborda de felicidade!
Ilumina em sua volta
crepitando o seu amar
E inebriada com o vento,
se apaga... Perde as chamas
sem ter tempo de chorar.
Antonio Montes
FIM NA ESTRADA
O morto na beira da estrada
não tinha riso
não tinha nada.
A alma estava triste...
Com o olhar seco e profundo
como se tivesse perdido tudo.
Não importava mais o mundo
seus olhos, prostravam-se indiferentes...
Desprovido de lagrimas...
Não mais chorava.
N’àquele instante, ali...
o ar se fazia frio
o vento, não ventava
pássaros não cantavam
Uma sombra de mal goro
pairava sob o ar.
N’àquele momento nada se ouvia
Exceto... cri, cri de grilos...
Revoar de morcegos
E o gorjear de corujas.
De repente!... Visitas
expressões de fim
mimica de perca
O mundo estava perdido ali.
E nesse ínterim...
Brota uma mistura de choro
cochichos de bramuras
a falta de esperança
o desprezo de uma cura.
Os sentimentos estavam
pendurados nas margens do abismo
a cisma prostrava se inquieta
Uma interrogação no ar...
Porque que o mundo é aqui?!
Antonio Montes
FLORES COM LAGRIMAS
Dois olhos
dois rios
chuvas de lagrimas
enxurradas.
Lagos de tudo
enchente do mundo
águas.
São tantos choros
em meio a soluços
tanto impulsos!
Saudades danadas.
Antonio Montes
INUNDAÇÃO
Em silencio chora a sua dor...
Uma dor profunda
que inunda
que afunda em seu peito,
as farpas magoas do seu eu.
E que às escuras,
dilacera as suas lagrimas...
Uma a uma!
Uma a uma se desnuda
diante dos olhos de Deus.
Envolve-se em sua angustia
e o desespero...
Assombra a ti mesmo
e em sua tremula sombra
vê tudo em surreal
mas em sonho, nada pode fazer.
Diante da velocidade dos seus atos
os quais como dardos
projetam sua coordenação e tato
ao mesmo tempo em que
esconde de ti...
o alvo principal.
Agora, já não tem tanta certeza
nem a destreza do seu sono
e os sonhos arredios...
Não te lembram do seu sonhar.
Antonio Montes
LÁ VAI JOÃOZINHO
Sobre o alvorecer cheio de sol
assoviando pelo caminho
lá vai Joãozinho!...
E vai sozinho,
no mundo o seu pedacinho
admirando o seu destino.
O vento sobre os arbusto
o farfalhar daquelas folhas
o chilrear da passarada
as sombras em suas encolhas.
A placa velha na estrada
as margens cheias de flores
as cores das borboletas
os pássaros com seus amores.
Lá vai Joãozinho...
de vez em quando aos saltos
com pensamentos lá no alto!
Quando crescer não terei sede
curarei todo verde
para nunca mais faltar água.
Farei rios no nordeste
matas de sul ao leste
e luzes que nunca se apaga.
Vou formar outra Amazônia
descobri outros países
não apenas pra roubar.
Farei, pais ficar com filhos
no deitar e levantar
sem nunca os abandonar.
Joãozinho saiu pensando
nas coisas do mundo mundano
o que fazer pra melhorar.
Descobriu que a politica
é a engrenagem da invenção
a onde todos é contra todos
e irmãos é contra irmãos.
Joãozinho cresceu ficou triste
quando viu que sua carreira
já não era mais brincadeira
e o para traz, não mais existe.
Antonio Montes
LÁ VAI O TREM
Piui, piui...
Lá vai o trem
Passa por ai
passa por aqui
sobre os trilhos de ir e vim
passa como colibri.
Da vontade de passar
e nas janelas olhar
as flores das velhas estradas
o ponto da bela chegada
que me leva a passear.
Piui, piui...
Lá vai o trem
vai tremendo o seu trilhar
corre lendo sob o vento
com seu tempo de chegar.
Esse trem leva saudade
da lagrima que viu cair
deixou no ponto a verdade
e a felicidade ao partir.
Piui, piui...
Já foi o trem
deixou o olhar do horizonte
pelos campos ao sumir
no ponto, prantos aos montes
com a vontade de seguir.
Sobre o vento, deixou lenço
abanando a despedida
foi para endereço tenso
expelindo lagrimas da vida.
Antonio Montes
LAÇO ESTENDIDO
Parada sem canto
no verde das arvores
chilreia e desencanto
que no peito invade.
É voar sem traço
embaraço com asa
planar de abraço
o amar de uma casa.
É um pássaro no galho
família sobre a mesa
é amor sem entravo
alegria e beleza.
Um canto com encanto
sentimentos reunidos
é lagrimas sem pranto
em laço estendido.
Antonio Montes
LAVA TUDO
Lava, lava lavadeira
lava descida e ladeira
e a lua pra namorar.
lava calor frenesia
canseira, aroma de flor
horizonte além do mar.
Lava a casa de Maria
agonia do amor
e a cama pra se deitar.
A geleira da Sibéria
lave com frio no osso
e lave a louça do jantar.
As panelas do almoço
o teu gosto, lave a gosto
e não deixe jejuar.
Lave a vida com toda água
reluzindo os sentimentos
sem nunca se afogar.
Faça do tempo, limpeza
alvoreça os pensamentos
com o modo do seu limpar.
Lava, lava lavadeira
Lave lá o azul do céu
e a prata do luar.
Lave o troféu do Nobel
da bomba que explodiu na rua
e da tática de matar.
Lave a cara e a coragem
dos quatros cantos do mundo
a construção da bobagem
e a politica que engole tudo.
Lave também a esperança
pra nunca faltar a fé
o homem e a criança
e a rudez da mulher.
E essa tal escravidão
lave até acabar
e toda enganação
não deixe te enganar.
Lavadeira lave a roupa
e coloque-a pra quarar
enxague estenda na sombra
pra não queimar ao secar.
Antonio Montes
LEILÃO MALUCO
Quanto me dão...
Pela cesta de tristeza e o fim da beleza?!
Uns dias?!
Uma hora?!
Uns gravetos?!
Uma tora?!
_ Uma tora!
_ Umas toras dou-lhe uma...
Uma tora dou-lhe duas...
Vendido nesse momento agora!
Vendido por uma tora!...
Para o cavalheiro, cheio de pranto
que se encontra lá no canto!
Senhor indivíduo
Não de ouvido...
Pegue a sua tristeza
e vá embora.
Vamos continuar o leilão?!
Nesse momento, agora...
Vamos leiloar, uma lágrima sem água
lágrima dessa que:
Com o tempo se afaga.
Vamos lá senhores!
Quantos me dão pela lágrima
do defunto passado, vivendo no sonho
vamos! Essa é a hora certa...
Façam as suas ofertas?!
¬_ Noites e noites de sonho!
Momentos e tempo de lembranças.
_ Momentos e tempo de lembranças...
dou-lhe uma!
Momentos e tempo de lembranças...
Dou-lhe duas!
Momentos e tempo de lembranças...
Dou-lhe três!
Vendido para a dona recordação
A mesma senhora...
Já rematou muitas e muitas saudades!
É isso ai senhora?!
Pegue a suas lembranças e sonhe
sonhe, sonhe e um dia será feliz.
Vamos ao leilão?! Vamos ao leilão?!
Agora vamos leiloar...
A partida!
Quanto me dão pela partida?!
_ Um sentimento de desprezo!
_ Atenção! Atenção!
O aceno de mão ofertou....
Um sentimento de desprezo pela partida...
Um sentimento de desprezo!
Dou-lhe uma!... Dou lhe duas!...
Dou lhe três!
Vendido para o aceno de mão!
Uma boa aquisição
Não se esqueça que:
Partida sempre machuca o coração.
Antonio Montes
LUGAR NEM UM
Eu sei e o será...
Juntou-se ao talvez
E saiu por ai
sabe-se lá quando!
Um papo de: Não sei oque.
Um dia... Quem sabe...
Uma hora... Não agora!
No ano que vem?
Ora, ora, quem diria!
Ah! Não há nada!
Na, dica de nada!
Será mesmo...
Não... Não sei
pode ser... Quando?
Vai chegar?!
Do jeito que a coisa esta
Nã, nã, ni... Nã não!
Antonio Montes
CIRCUNSPEÇÃO
A chama? ah essa chama...
Que chama engana e esgana
inflama com gritos, ressalta e brama.
Como chama essa chama!
Será labareda, voz de articulação ou gana?
ou um chamado estridente de bacana.
Quando ouvires uma chama que chama, vá
Mas tenha cuidado... Com o fogo da chama.
Antonio Montes
EXPECTAÇÃO
Uma lagrima serena
em tardes tão pequenas
vida breve de dá pena
cravada n'essa novena.
Não chore seu choro
por príncipe nem um...
Quem sabe ele é sapo
enchendo-te de sopapos
cheio de zum, zum, zum.
Se segure, que amanhã
lhes trará um novo sol
horizonte,e bela flor
coração cheio de amor
braços aberto e arrebol.
Antonio Montes
NO PRETO E BRANCO
Um romance de amor na parede
em moldura de um tempo sem cor
à poeira que queimou nosso verde
um amor que a prisma registrou.
Os abraços e beijos...
No branco, e no preto ficou
os desejos e ensejos
suspenso na parede... Amarelou.
Flores e jardins, no chassi, estão cinza
E o arco-íris...
Um surreal preto esvoaçado no ar.
Pássaros sob espaço
chuva de risco
lágrimas pontilhadas
olhos de carvão...
Água branca para matar a sede
venha menino...
Vamos com essa vida rindo
Me de a sua mão.
Antonio Montes
FREÁTICA
Uma torneira cromada, na parede
Água, água com veneno filtrada
no calor, gelada para matar sede
poluição na rede, freática d'água.
Antonio Montes
PLANOS
Enquanto planos vertem lagrimas
o amanhã chora para alcançar
a aurora desperta em água
e os caminhos patinam no lugar.
Antonio Montes
DESAPEGO
Desapego, ah esse desapego
desapego da fome, logo sedo
salada temperado com bredo
isso , pode ser um desapego.
Antonio Montes
SURRUPIOS
Roubo de grande é desvio
diante das leis deles próprios
pequenos, porões de navios
nesse mundo de impróprios.
Antonio Montes