Antonio Montes
FEITA
N'essa feita insatisfeita
pelo leito do lado direito
pelo liquido expelido do peito.
Espeto crava n'essa feita
a marca assada do símbolo
o símbolo na porta da casa.
Essa feita sob espreita, foi feita
e ainda se esconde, imperfeita.
Antonio Montes
ESCAPULIR
Quando você, bater n'aquela porta,
para ir embora...
Não olhe para traz, não olhe porque:
Se olhar...
Irá perceber que meus olhos chora...
Siga o adeus da minha mão,
e as lagrimas por terra...
Caídas do meu coração, saiba que:
Meu choro estará sobre pedras pontiagudas
d'essa sua paixão.
Quando você bater n'aquela porta,
para ir embora...
Vá! Não pare, não pare porque, se parar...
Ouvirá a lamuria do meu chorar,
e as lagrimas do meu ser a soluçar.
Se parar... Ira ouvir, o gritar do meu coração
e verás o meu afogar na poeira da sua estrada
em desalento com o meu amor
e o salutar da minha triste dor.
Quando você chegar n'aquela porta
para ir embora...
Por favor... Não abra, se abrir... Não vá...
Fique comigo para sempre,
porque, para sempre eu irei te amar.
Antonio Montes
EMINENTE
Sabemos que o céu é blues...
Blues, é sua cor toda calma alada
e essa cor toda calma toda azul assim...
Nós sabemos, e como sabemos!
Sabemos que sobre ele,
pauta uma tristeza em elevado silencio
um marasmo de canto a canto!
Sabemos que nas altura, sem cântico
e sem som... Nem uma musica ecoa
nem uma boca contem batom
tudo é apenas... Blues.
Antonio Montes
BOM PARECER
A viúva debruçada sobre a janela do desespero,
estava lacrimejando, quando o alvorecer passou
seus olhos chorosos,nem viram o momento
a tarde que com sua inabalada calma chegou.
Quando prestou atenção em sua volta revirada...
o verde, estava amarelando em sua pradaria
por isso, não apreciou, pétalas da meiga vida
nem as flores, sobre os ventos do seu dia.
Hoje a esperança é um ponto no ontem
e um passo no futuro de caídas, asas
e o amanhã, está acoplado no presente.
Não chore viúva, não chore... Se chorar
Ventos poderão carregar suas lagrimas
e aguar a decepção do seu, onipotente.
Antonio Montes
ANTES FOSSE
Quantas noites! Quantos medos...
Quantos escuros!
Escuridão.
Quantos becos! Quantos segredos...
Quantos todos
Hum! Corujão?!
Cachorro uivando na rua
Ladrão pula sobre o muro
O mundo inteiro no terreiro
No quarto...
Plóc, plóc sapateiro.
Olhe o pé da Cinderela?!
Aquela moça na favela
Tão pobre!
Tão bela!
Espera o encanto no cavalo
O sonho trota no ralo
Antes mesmo do badalo.
O canto do galo...
Os segredos das noites
A prata da lua, causo bom
Kkkkk... Antes fosse.
Antonio Montes
GEADAS DA VIDA
Verde, preto em manhãs desfolhada
sacode gelo sobre a terra
bacia com água fica coalhada,
é assim que amanhece o dia
em manhãs de geadas.
A dona Quitéria, mulher fera
se levanta sedo, bem cedinho!
E segue em passos frios,
para tirar leite da vacada.
O curral esta cheio de berros
as vacas com vestes em malhas
mugem em suas danças sobre a janta
e os bezerro em desespero...
Almejam em suas sedes de esperanças.
É... O viver tem lá o seu preço
nem sempre a vida sana
os sonhos de sua gana.
Antonio Montes
FLORES DE OZÔNIO
Com a chuva da língua sumida
a plantação de palavras, não arriba,
e esse sol ardente em chamas, inflama
... Pelos cumes dos arrebóis,
pelas sementes da vida,
pela enxurradas que carregam as lamas.
O poeta deixa de colher suas flores
de cores vivas, meigas queridas...
e perdeu a hora do alvorecer da criação,
atualmente tem sido, tingido pelas sombras
e sobre o escuro do seu desengano
nem uma pétala sobre as flores caídas
tem voado no jardim do seu triste coração.
Todavia a ampulheta do imaginar quebrou-se
e as areias, do seu tempo, esvoaçou ao ar
e sobre o vento impiedoso do deserto
o poeta perdeu-se nas margens do seu amar.
Assim como um passe de mágica
deixou de encher suas sesta de meiguice
e com ramalhetes que todavia te fez feliz...
Perdeu as flores pelo caminho da fosca visão
as quais deram vida ao tilintar da vida
e hoje, trocadas pela modernidade
estão sobre os jardins dos sonhos, esquecidas.
Com a sequidão dos sentimentos,
o poeta não é capaz de sentir o gosto do riso,
e sob o rosto de um meigo menino,
não sente o piscar feliz da bela mulher
nem tão pouco vê o arco-íres
esbanjando suas cores sobre as nuvens...
Agora o pesadelo flutua em seu sonho
não consegue colher ilusões
nem embarcar na canoa das fantasias.
É meu poeta...
Abra o diafragma para alegria
abrace a simplicidade e siga com suas braçadas
pelos oceanos dos sonhos,
assim quem sabe, a chuva cairá
e você voltará a colher suas flores...
Nas retinas do seu ameaçado ozônio.
Antonio Montes
AQUELA BOLHA
Aquela bolha de sabão colorida
Tão leve... Tão solta no ar
Continha n’ela o nosso amor
Você colocou sobre ela!
E como se fosse um sonho...
Sopraste rumo a lua,rumo marte
Sopras-te para o alto do calor.
Com os ventos dos sentimentos
Aquela bolha de sabão, subiu...
Subiu, subiu e ao o sol tiniu...
Tiniu de tanto carinho e amor!
Tiniu nas anciãs e vontades
Tiniu nas volúpias dos nossos corpos
Tinindo ela se elevou sob as estrelas
Rodopiou sob os anéis de saturno
E ao mundo todo em segundos
Cantou suas alegrias pelos ares
E nunca mais, sentiu dor.
Antonio Montes
AS ÁGUAS
Eu sou as águas...
Amazonas Paraná, rio Nilo, velho chico...
Olhe ai o São Francisco, Solimões
O Yangtzé, Mississipi Missouri, Yenisei
Tenho águas tenho peixes orcas tubarões
Estou indo! Que saudades!
Será que volto?
Tive uma morte honrada
A onde morria no mar
Hoje minha morte e desgraçada
Morro todo dia!
Pelas nascentes, pelas margens
Eu sei que vou me acabar.
Eu sou o rio de lagrimas após o arpoar
Lagrimas, derramadas pelo amor
Lagrimas aos ventos de dor de amar
Sou o rio, sou rota sou caminho
Sou energia para sua vida
Carreira para sua canoa
O cais do porto o embarcar
Ninho para o seu Iate
Balança para a sua lancha
Balsa para suas cargas
Viagens, apoios para seus navios
Eu sou o rio que hoje...
Seca pelo efeito do seu estio.
Fui induzido
Perdi as nascentes
Para as ignorâncias das gentes.
Descabelaram o meu leito
Poluíram as minhas lagrimas
Eu sou o rio e já matei muita sede
Semeei vidas
Atiraram-me redes
E com meus frutos, sanaram as suas fomes
Sou o rio...
Todavia explorado pela mão do homem
Roubaram as minhas pedras
Meu ouro
Meus tesouros
Fiquei fraco esmoreci
Não consigo mais fazer estouros
Gasoso, evaporo aos céus
E caio como chuva orvalho
Faço cachoeira
Como enxurradas corto atalho
Embelezo os jardins os risos
Amplio a bonança disperso prejuízo
Sou a fonte que vem dos montes
Sou vida dos mais, pequenos
Ate aos grandes como os elefantes
Olhe o banho olhe a comida
Estou na panela na cacimba
Eu sou o rio... Sou vida.
Antonio Montes
DEIXE-ME VOAR
Passarinho, pense e me diga
Porque que escolhe casas
Se teu viver no mundo arriba
Todavia foram as asas?
Vejo-te voar pelos espaços
Em canto com seu cantar
Segue com seu encanto ao leu
Chilreando sobre o azul do céu
Passarinho eu já sei
Que o seu viver é amar.
Passarinho... Ensine-me a voar?
Não me deixe aqui no chão.
Eu tenho sido arrastado
Por terríveis corações
Voando, ganharei os céus
E plainarei pela imensidão.
Aqui no chão sou arrastado
Pelas leis que me rodeiam
E ao imposto condenado
Que sempre me trouxe peia.
Antonio Montes
CONDADO
É preguiça ou enfado
Desse gato danado
Que nem se levanta nem pula
Desse mundo quadrado.
Enfado ou preguiça?
Desse mundo tiririca
Que atiça a sua gula
E se transforma em titica.
Mas que mundo de enfado!
Que universo malvado
Sempre tecendo o seu fardo
Com seu sonho enterrado.
Vá de frente com a vida
Não! Não olhe de lado
Pode ser que a partida
Ainda tenha condado.
Antonio Montes
CHORO CHORADO
Nas lagoas desses copos meus
Afogo-me por ti
Toda essa minha dor
A cada tim, tim um adeus
Sobre o qual eu banho-me
Em lagrimas desse amor.
Meu bem...
Eu trombei no poste
E calo em mim o galo dessa paixão
Eu sei... Você sabe...
Não sou forte!
Então eu choro
O choro chorado da desilusão.
Antonio Montes
CORRI DAS ÁGUAS
Corri das águas que choviam
E minhas lagrimas orvalhadas
e molhadas, fugindo eu não as via.
Também não via o tempo
que jazia
Partículas no ar me empurravam
e molhavam os sentimentos
que na vida escorregavam
e eu não sentia.
Antonio Montes
TRANSLADO
Essas marcas, essa pele
um dia irá se acabar
sucumbirá com as favas
que em sua derme esta.
Ficarás os seus rascunhos
moldado com sentimentos
desenhos feitos em punho
configuração dos pensamento.
Você vai... Você fia
estudo de tudo novo
sabedorias te indica
avanço de novos povos.
Te copiarão como cria
no refazer da geração
serás novo nesse dia
ao cunho de novas mãos.
Antonio Montes
PERFEITO EU
Perfeito eu? Não... Nã, nã, ni, não, não!
Eu não sou perfeito e não poderia ser
Pois sou humano e tenho um coração
Coração que me eleva aos céus dos
sonhos e que as vezes torna à mim...
Há esse mundo cruel e medonho.
Um coração que leva as trevas me
coloca entre intrigas e me castiga com
a solidão, me empurra para baixo
fazendo-me sofrer com a minha paixão.
Eu não sou perfeito, também não levo
jeito de ser, nem poderia... Imagine fui
moldado de barro, ganhei vida com
assopro, minha forma é fraca, qualquer
tempestade me faz tremer.
Deixei-me enganar-me por uma
asquerosa rastejante, vendi a lealdade
por um punhado de moeda
e ainda flagelei e crucifiquei o amor.
Eu sou balançado pelos ventos,
perco as minhas vontades para o tempo, tempo
altos e baixos permeiam meus sentimentos.
Sou frágil, sou sentimental eu posso
sim... Eu posso chorar por perder,
por ganhar... Eu posso enganar e ser
enganado, eu sinto...
Há qualquer momento eu posso rir, chorar
posso viver e também é claro...
Sim! Sim... Poderei morrer.
Antonio Montes
A CARESTIA
A carestia outrora d’aqueles dias
Era a mesma de hoje no mundão
Assombra a gente, teme a emoção
Até mesmo no centro da eucaristia.
O sacramento... Todavia se safra
Passa tempo, mas não os seus dias
Esperança de pobre se ensaca
Aos olhos do poder... É cortesia.
O século vinte e um, chegou a trote
Voando a motor na popa de bote
Espalhando contraventor e rebeldia.
Já não se vê mais, touros nem garrote
Até fortes e muralhas dão seu pinote
Nessa vida de descarte... Quem diria!
Antonio Montes
A CARTEIRA
Na beira do meio fio da rua
Próximo à boca de lobo
Despencou em tombo, caiu
Sem fala ali, ninguém viu
A carteira, bordada de couro
Sem vida e com repartições
Tombou com alguns tesouro
Ali, Bem ali! Em um dia de estio
Sempre muda, ficou sem fala
Sobre o paralelepípedo frio
Interno de seus segredos
A bela carteirinha, continha...
Cartões de créditos, cheques
Carteira de identidade, CPF
Titulo de eleitor para votar
Carteira de habilitação para dirigir
Uma carta de amor toda cheia.
Era noite tinha brisa, tinha lua
E o luar estava todo cheio de prata
Tinha até receita para um coração
Veja... Um pouco de paciência
Alguns sentimentos de coerência
Um fecho de gratidão
Um sorriso nas presenças
E harmonia dotada de paixão.
Tinha até um bilhetinho...
Era em paginas com pauta
Mandava beijo para a ingrata
Dizia algumas estripulias
Insinuava algumas cascatas
Tinha nele, certos desejos
Tinha abraços, tinha beijos
Tinha até um Deus te cuide!
Na carteira também tinha...
Comprovante de moradia
Rascunhos de recordações
Contava muito carinho
Zipado com sentimento.
O bilhetinho, tinha margens
Tinha flores, falava de amores
Nele... Não tinha rancores.
Antonio Montes
PERVAGAR
Quando meu olhar, cruzou com o seu
... Meus sentimentos amenizou-se...
Senti timidez vergonha,
tremi gelei, esquentei
me vi com os pés no chão
correndo na chuva do tempo,
no mesmo instante em que voava...
Sorri, cantei,
rodopiei no terreiro da felicidade
tive impulsos, como se fosse
uma peteca jogada ao ar.
Quando meus olhos cruzou com os seus
Flutuei como se fosse uma canoa
sob sopros nos mares...
Naveguei nos ventos das fantasias
E como criança, em meio aos jardins
do mundo, viajei pela vias lactas estreladas
e sob o meu voar, me vi flechado pela
flecha do seu amor.
Quando o meu olhar, cruzou com os seus
vi ali, que entre nós, nunca existiria adeus.
Antonio Montes
EXASPERAÇÃO
Ofuscada pela claridade da lâmpada
a mariposa da noite, é atraída
pelo reflexo d'água... Despenca de cima
caindo no interior de uma vasilha e,
a um espaço de poucos centímetros
quadrado, mas que para ela é como
se fosse, um oceano de desenganos.
Em desespero, sob água, bate asas
... Bate asas, e não consegue se
desvencilhar do afogamento, bate asas
... Bate asas, e vê o mundo todo
passando n'aquele momento.
Debatendo-se ela observa que o fim
esta próximo... Despeja os últimos
desejos de suas asas no ar...
E nunca mais consegue voar.
Antonio Montes 28/10/16
LOBRIGAR
Sentado a beira da praia
vejo areia veja espuma
vejo azul do céu e as brumas
se perder nas andas do mar.
Ouço os cânticos das sereia
banhar os meus sentimentos
espumas e mares cheias
balançar a todos momentos.
Vejo as asas das gaivotas
bater palmas de felicidades
a alegria bater nas portas
do horizonte e das cidades.
A calma vem ao meu peito
com jeito de paz mundial
no rosto um riso satisfeito
acordando o alto astral.
Antonio Montes
CARNIÇA
Pegue os seus cachorros
E atiça... Atiça em mim?!
Atiça por ai com seu rompante!
Com camuflagem da estupidez
E com a sua preguiça...
Atiça e não analisa e nem observa
Com a sua carranca só faz cobrança
Não se dá conta que é para a carniça
Que você vai e que eu vou...
Todos, todos iremos
Pode ser plebeu padre juiz ou doutor
Filho, mãe, pai, neto ou avô
Com provocação ou não
Se defendo ou se atiça...
Um dia, todos irão se transformar...
Em carniça.
Antonio Montes
CASA COM JANELA
Uma casa com janela que olhava...
Olhava e não via nada!
Nada através do muro de sua lateral
Então olhava para frente de sua rua
E para a parte de traz do seu quintal.
Uma casa com janela que abria...
Horas abria para o seu quintal e visualizava
toda aquela calmaria
Horas abria para a sua lateral...
Nada! Nada era normal
E quando abria para frente, sentia esperança
Viajava em sonhos e via muita gente desigual.
Uma casa velha, já toda broca...
Já não abria... Sonho não tinha
Também não tinha mais agonia
Às portas todas tortas regiam
E a esperança? A esperança tinia e...
Se perdia em seus sonhos...
Todavia, em pesadelos medonhos.
Uma casa com telhado queimado
Que rebatia a seca de um sol fustigado
... Fustigado que queimava que ardia
Rebatia a tormenta de granizo, que tremia
E as goteiras que caia toda fria.
Uma casa com quartos de sonhos...
Sonhos que sonhava ao dormir e cochilar
Sonhava ao pensar e a divagar
Uma casa que era a sua morada...
Seu tudo no mundo uma casa que:
A harmonia um dia reinava.
Antonio Montes
CIRCUNSPEÇÃO
Cuidado com a tua gola!
Que, em uma hora d'essas,
n'essas festas com arestas
nesse aperto, feito sem jeito
se fosse em mim,
apertado assim...
Ai de mim, ai de mim!
Essa sua gola...
Que, parece mais com angola
cheia de pinta, tanta tinta!
Ai de ti, ai de ti!
Já pensou... Se essa sua gola,
toda feita com amor
te degola?
Antonio Montes
DESFRUTA
Essa manga... Ah essa manga!
Essa manga, toda grande, enrola
com seus botões entrando na casa.
Essa manga que manga hem?!
Com tantos risos, tantas risadas
embaixo do pé, mangas ao chão.
Sombra densa, passa mão ninguém se manda
mula manca em trote, se debanda de banda.
Antonio Montes
DUBIEDADE
A esperança esta...
De asas vãs, quebradas e tombadas
pelo nascer do amanhã e a mão do irmão.
Cambaleamos sobre o funeral da fé,
e sucumbimos no emaranhado da duvida
do alvorecer e de cada aperto de mão.
Tentamos se firmar sob a flecha dos planos
e voamos ao sopro sincronizado dos sonhos.
Antonio Montes