Antonio Matienzo
“Realização” (também conhecida como felicidade) é a palavra dada para a percepção de correspondermos ou superarmos nossa vocação de grandeza pessoal.
E conseguimos isso através de uma única coisa: a parcela do nosso tempo que dedicamos a coisas úteis nesse sentido.
Para um diálogo ter alcance amplo, 90% do nosso trabalho deve se focar em não falar besteiras, não menosprezar, não ofender. Uma vez já trabalhados esses moldes, podemos dedicar os 10% da energia que restam à divertida tarefa de afirmar ideias.
A relação de conversão entre “benefícios recebidos” vs. “colaborações necessárias a eles” antecede toda ideologia.
No labirinto dos meus desejos, o cumprimento do dever sempre se revelou a saída mais eficiente. Talvez, a única existente. E teria sido também a mais simples, se não fossem as mentiras que eu insisti em contar para mim mesmo.
Se você é um enrolador compulsivo e incurável, como eu, tenho um recurso que aumentou bastante minha produtividade: mudar de tarefa sempre que estiver entediado. O segredo é: nas mais importantes, voltar a elas mais vezes. Nas menos importantes, voltor a elas menos vezes. A mudança de tarefa combate o tédio, que é a grande causa da minha enrolação.
Se eu quiser que minhas afirmações tenham alguma utilidade, 90% do meu esforço deve se focar em não menosprezar, não ofender e, sobretudo, em não falar bobagem. Uma vez já trabalhados esses moldes, posso permitir meus 10% da energia restantes à divertida tarefa de pensar e afirmar.
Excetuando compromissos, a solução para minha improdutividade é: fazer outra coisa sempre que a tarefa estiver muito interessante e pouco útil, ou muito útil mas pouco interessante. Já para cumprir os tais compromissos, a solução parece ser ranger os dentes mesmo.
Um dos fatores que mais encoraja meu veganismo é jamais ter conhecido algum crítico (do veganismo) que demonstre ter estudado minimamente a questão.
Vejo clara identidade entre seres e sistemas de seres vivos: ambos tem limites e, por conseguinte, um caminho melhor na moderação das disparidades e na censura ao excesso.
Nada me dissuade de que o útil é aquilo que se opõe à dor, e de que minha própria inutilidade é meu demônio real.
Sendo natural que percamos metade do nosso dia, faz parte da sobrevivência aproveitar muito bem a outra metade. Mais do que isso é ingressar no pelotão de destaque.
O caráter totalmente absoluto do tempo é tão humano quanto nossa percepção totalmente relativa dele.
O humano passou a ser humano quando deslocou o sentido de si
da realidade
para a representação da realidade
na linha de tempo da evolução, isso parece coincidir com o surgimento do neocórtex no nosso cérebro, de 1 milhão de anos para cá, coisa que os outros mamíferos não tem,
a capacidade de conceitualizar se tornou vantajosa evolutivamente, dando sobrevivência aos indivíduos mais "teóricos" (mais capazes de construir artefatos, atacar, se proteger, etc)
A desvantagem é que esse "ser conceitualizador" passou a ser vítima dessa sua própria racionalidade. A razão propiciou enorme ajuda para resolver suas necessidades básicas, mas acabou trazendo o efeito colateral de "criar" uma quantidade potencialmente infinita de novas necessidades, e a principal dessas "novas necessidades" é precisar de uma "razão para viver", enquanto os outros animais simplesmente vivem, aqui e agora. Como disse o genial Sêneca, "o homem sofre antes do necessário, sofre mais que o necessário".
Esse vazio humano está expresso em todas as épocas e lugares, e cada cultura procurou dar um jeito de resolver isso.
O Gênesis bíblico relata uma expulsão do Paraíso, que pode ser interpretado (pelo menos eu interpreto) como a expulsão de uma época onde as coisas tinham somente a dimensão e a importância que deveriam ter, sem racionalizações superiores (árvore do conhecimento)... e essa narrativa está no berço da tradição ocidental, que atribui a causa de tudo a poderes transcendentais (sobrenaturais) aos quais deveríamos nos conectar para nos salvar.
Os distantes orientais certamente sofriam do mesmo "vazio" que nós, mas buscaram explicações na natureza em si, tentando compreender a organização do universo, ao invés de cogitar forças externas a ele. A salvação do sofrimento terreno (para hindus e budistas) estaria muito mais em corresponder aos desígnios da evolução do que aos interesses individuais, onde o "não-pensar" (meditação) seria muito útil.
O sofrimento é algo tão intrínseco à natureza quanto o nascimento, o amor e a morte. Tudo indica que o advento da razão humana foi um acidente evolutivo utilizado basicamente como tentativa de mitigar o sofrimento da própria espécie. Mas não se pode eliminar da vida algo que é intrínseco a ela, assim essa “razão” começou a se caracterizar como um “elemento estranho” na natureza, como um câncer quer se amplia até hoje.
Esse desvio próprio da espécie humana acarretou na artificialização do planeta inteiro. Atualmente 3/4 de todo o tecido vivo da terra já tem interferência direta humana, E toda ciência ambiental demonstra que no século XX violamos perigosamente a capacidade dos recursos naturais se sustentarem.
É uma bola de neve: Humanos infelizes buscando caminhos para amenizar sua infelicidade, gerando um aumento na infelicidade geral.
O mundo mudou nos últimos 150 anos mais do que em toda a história da humanidade. E dá para apostar que essa velocidade de mudança só tende a aumentar.
No que vai dar? Não estaremos aqui para ver.
Todos estamos nos equilibrando entre o que devemos fazer para nossa própria satisfação e o legado que deixaremos para as dores do mundo. Cada qual conforme suas características pessoais, Cada qual no seu caminho. A somatória de tudo irá compondo os resultados.
O único paraíso que minha insignificante individualidade encontrou foi observar e vivenciar o inocente amor que os animais vivenciam.
Considerar-se do “lado do Bem” é uma das predisposições humanas mais clássicas para praticar “o Mal”.
Considerar-se do “lado do Bem” pode até nos trazer (por algum tempo) autoestima e conforto interior, mas inevitavelmente coloca alguém do “lado do Mal”. Eis o problema. E, assumir (por antecipação) que pessoas pertençam a um "lado do Mal” configura óbvia corrupção para o juízo e perigosa predisposição para praticarmos justamente… “o Mal” que dizemos combater.
Frases típicas de quem se vê do “lado do Bem”:
- Quem come carne é indiferente ao sofrimento.
- Políticos de direita são maus para a sociedade.
- Ateus são pessoas desencaminhadas.
Seguindo o raciocínio acima, temos uma demonstração paradoxal: só poderá existir “lado do Mal” em torno de princípios definidores (eles próprios) de um “lado do Mal”, visto que promovem preconceito em si mesmos (exemplo: nazismo). Salvo esses casos, só se pode verificar “Bem” e “Mal” em atitudes, porquanto inserem ou retiram sofrimento do mundo.
A tendência para inferiorizar quem não pensa como nós (ou não consegue enxergar o que nós conseguimos) certamente existe porque é uma postura bem mais cômoda do que exercer nossos tais “princípios bons”, um truque para elevar artificialmente nossa reputação moral e uma desculpa para nossos instintos vis.
O maniqueísmo é o par perfeito do egoísmo. Ambos devidamente maquiados, perfumados e infiltrados nos valores mais caros às nossas sociedades, e desoladoramente ensinados às nossas crianças desde o berço.
Em tese, seguindo a ideia de que o argumento e a demonstração triunfam, seria possível transformar os valores da sociedade através do diálogo. Mas, na prática, o diálogo é ferramenta débil perante o contrafluxo das paixões. Assim os valores, quando não custam a progredir, não progridem.
O processo evolutivo conferiu à espécie humana um poder de conceitualizar e solucionar tão grandes que expulsaram-no do paraíso selvagem do tempo presente, arremessando-o em um limbo cíclico e infinito de conceitualizar e solucionar problemas, gerando novos problemas, ad infinitum.
E foi justamente Na tentativa de escapar desse ciclo que alguns homens precisaram desenvolver o amor e a compaixão de uma maneira nunca antes existente no mundo. Na busca de sua pacificação interior, o homem conseguiu contrapor seus próprios horrores internos cim um elemento inexplicável pela concepção materialista de evolução, que vem a ser o altruísmo genuíno.
Os animais endotérmicos gozam de Potenciais afetivos similares aos humanos, normalmente restritos ao seu grupo basicamente Como resposta necessária à sobrevivência. E para a felicidade deles, não desenvolveram nenhum tipo de carma cerebral como o homem. Assim, não lhes foi necessário desenvolver o altruísmo no nível que desenvolvemos (capaz de beneficiar muito além do seu grupo). A condição selvagem dos animais lhes submete a severos riscos e hostilidades, mas suas mentes regulares de certa forma os protegem, limitando seu sofrimento ao tempo e à quantidade inevitável. O homem conseguiu se cercar de seguranças e amenidades, mas se tornou vítima de sua compulsão solucionadora, que lhe tira a paz.
Assim que coisa singular aconteceu na relação doméstica entre homens e animais endotérmicos. Esses animais, quando expostos a um ambiente não-selvagem propiciado pelo homem (livres do permanente alerta pela sobrevivência e expostos a afetos favoráveis permanentes) incorporam o amor sem as contrapartidas do conceito e da dúvida. Ou seja, colhem o benefício simultâneo do cérebro equilibrado e do ambiente altruísta. Por isso percebemos o amor dos animais como diferenciado, e temos nesses animais a condição de seres elevados, capazes um amor puro e pacífico como nós homens não somos capazes de experimentar. Em outras palavras, se configuram nos seres reais mais próximos daquilo que nas representações ficcionais humanas São denominados como “Anjos”.
Se o povo é analfabeto político, tanto faz ter democracia ou não, entra nos grilhões da mesma forma.
Passei quase 50 anos de vida para incorporar o óbvio: que acordar cedo faz o dia render mais, e que insistir no fácil costuma ser o mais difícil.
Desde o alvorecer da nossa espécie, o avanço tecnológico tem causado resultados benéficos e maléficos à humanidade, mas nenhum deles me pareceu ser tão constante e garantido quanto a maléfica "concentração de poder exploratório". E isso não pode dar em boa coisa.
Ninguém sabe quando e por qual meio ocorrerá o fim da nossa espécie, mas não há dúvidas que ele decorrerá dos implementos tecnológicos humanos que, somados, resultaram na concentração de poder e na potencialização dos nossos atributos morais. O que não significa que nossos atributos nocivos sejam mais recorrentes que os benéficos, mas que causar estragos é incomparavelmente mais fácil e rápido do que causar benefícios.
Tal regra dificilmente será quebrada, o que parece apontar para o "fim dos tempos" da nossa espécie. Nesse fim, imagino que a humanidade não conhecerá Deus, mas justamente demônios.