Anne Frank
Cheguei ao ponto em que tanto faz viver ou morrer. O mundo continuará a girar sem mim. O que tem de acontecer, acontece, e, de qualquer forma de nada adianta tentar resistir. Confio na sorte e só faço trabalhar, esperando que tudo acabe bem.
Por que é que se gastam todos os dias milhões para a guerra se não há dinheiro para a medicina, os artistas e os pobres?
Não acredito que a culpa da guerra seja só dos governantes e capitalistas. Não, o homem da rua também tem a sua culpa, pois não se revolta.
Não compreendo que alguém diga "sou fraco" e continue fraco. Se conhecemos os nossos defeitos por que não tentamos então corrigí-los?
Perguntei-lhe se, como prova de nossa amizade, se podíamos sentir os seios uma da outra, mas ela se recusou.
Tenho vontade de gritar com Margot, Van Daan, Dussel — e com papai também: "Deixem-me em paz, deixem-me dormir ao menos uma noite sem molhar de lágrimas meu travesseiro, sem ficar com os olhos inchados e a cabeça latejando. Deixem-me desaparecer, sumir do mundo!" Mas não posso fazer isso, não quero que saibam do meu desespero, não quero que vejam as feridas que me causam. Não suportaria a piedade deles nem seus carinhos "compreensivos". Ficaria com vontade de gritar mais alto ainda. Se falo, sou exibicionista; se me calo, ridícula; se respondo, sou grosseira; se tenho uma ideia nova, metida a sabichona; preguiçosa, se estou cansada; egoísta, se como um pouco mais do que devia; estúpida, covarde, espertalhona.
Vou vencer a minha dor e seguir o meu caminho. Só gostaria de ter, de vez em quando, um pouco de sucesso, de ser estimulada e encorajada por alguém que me tivesse amor!
Não me condene! Por favor, compreenda que, às vezes, não posso mais!