Em câmera lenta
preguiça na imbaubeira
passa a outro galho.
Brilha mais ereto
o penhasco sob o sol:
ah o verão fértil.
Sozinho na casa.
Lá fora o canto das cigarras.
Ah se não fossem elas...
Grito de agonia:
periquito na jaqueira
preso na resina.
Broca no bambu
deixa furos de flauta.
O vento faz música.
Um pombo no mar
traz ao bico verde ramo:
terra à vista?
A flor do ipê-roxo
cai deixando saudades.
Ah, a moça da tarde...
vermelho relâmpago
irrompe do capim seco:
a cobra coral.
Folhas do ciclame
ao vento pra lá e pra cá -
um coração pulsa.
Na noite de inverno
o frio não é só no corpo:
as tábuas estalam.
Quase desperdício.
Moscas sobre caquis podres
Só o sapo come.
No embalo do vento
palmeiras se abraçam:
dois amantes?
Apenas um gesto
e o homem é capaz de vida -
reparto o caqui.
Fugiu-me da mão
no vento com folhas secas
a carta esperada.
De manhã, a brisa
encrespa o igarapé
e penteia as águas.
Já é quase dia
e a lua brilha no lago.
Ainda é primavera!
Na calma do lago
um bufo entre a canarana:
peixe-boi respira.
Solidão de outubro:
folhas varridas no vento
levam meu recado.
No embalo do vento
palmeiras se abraçam:
dois amantes?
Uma vida é só uma vida
só uma vida é vivida
melhor se for dividida
e tudo mais é só
e tudo mais é
e tudo mais
e tudo
e