Ângela Beatriz Sabbag
Totalmente sóbria me sinto ébria. Se consigo fazer o quatro? Nem o um sai a contento, é como se eu tivesse secado todo o álcool do mundo. Está tudo girando perigosamente ao meu redor...
Quer saber? Resolvi fazer algo diferente esse ano...depois de "saecula saeculorum" resolvi procurar um namorado até o dia doze de junho. O tempo será exíguo, hoje já é quase o último dia de maio. Mas tenho que deixar claro que não quero compromisso, só quero mesmo a figura para comemorar a data ' comme il faut'. O rapaz tem que ser elegante, educado, culto, bem humorado...acho que está bem de qualidades já. Então ele com seu incrível bom gosto fará as reservas para nós dois num excelente restaurante onde jantaremos sem pressa e brindaremos muito. Mais tarde, o melhor hotel da cidade já reservado pelo cavalheiro também, nos receberá para a mais louca e ardente noite de amor. E viva a um dia em consagração aos namorados!
Vou vestir um vestido de gala, desses que costumamos usar quando o traje pedido no convite é black-tie. Quero estar com o cabelo impecável e os traços mais bonitos realçados por uma make. Usarei aquele par de sandálias que fizeram Cinderela ter uma síncope de tanto ciúme e usarei o meu perfume como eu gosto: de sentí-lo como se estivesse em outro corpo porém me atraindo cada vez de forma maisa intensa e visceral.
Afinal me dei conta de que sou privilegiada, sou convidada da festa mais importante da qual se ouviu falar até a data de hoje, que é uma festa chamada VIDA. Claro que vou dançar, aprendemos que a dança faz parte dos rituais mais importantes da face da terra desde tempos imemoriais. Vou cantar baixinho a música tocada e nem vou me preocupar com a dor que ficarei sentindo no maxilar de tanto sorrir. A VIDA é uma só e não é inteligente nem grato lhe fazer qualquer espécie de desaforo.
Traga o meu champagne, por favor!
Posso passar o resto da vida aqui, a contemplar esse mar tão azul, sentindo o calor do sol a tocar minha pele na medida certa, e de vez em quando ainda para completar sensações tão inexplicáveis, uma brisa discreta envolve com doçura todo o meu corpo com a areia.
Nos intervalos das vicissitudes da vida há sempre as brechas chamadas de momentos felizes...é questão de agarrá-los com unhas e dentes.
Quando amadureci encontrei o amor, fiquei total e irremediavelmente apaixonada, e quem foi que disse que eu gostaria de um antídoto para essa paixão? Todas as qualidades que procurava em outro encontrei-as todas em mim. Sou minha companheira de todas as horas, compreendo meus pensamentos mais descabidos, não recrimino meus sonhos aparentemente mais impossíveis, rio muito comigo. Sabe? Nós duas temos muito bom humor, e isso é fundamental. Não tenho aquela necessidade de ter um dia ou uma noite só com os amigos, pelo contrário, é uma concessão que eu faço ao deixar-me para conversar com outra gente. Mas sempre, indefectivelmente, por melhor que esteja a rua eu não vejo a hora de voltar e dividir a diversão e as abobrinhas com quem? Comigo!
E se eu quiser chorar à exaustão de saudade de Mr. Peres?
E se eu acompanhar Cat Stevens cantando com minha voz desafinada?
E se eu ainda não conseguir engavetar todos os sonhos que sonhamos juntos?
E se meu coração parece que está apertadinho?
E se eu não acreditar que vou encontrar outro homem minimamente parecido com você?
Bem, aí é melhor sublimar todo sentimento romântico, entregar-me de corpo e alma a alguma causa humanitária e ficar santamente esperando a última viagem.
Meu beijo é água, e não é por saciar a sede não;
É incolor, insípido e inodoro;
Nunca mais marquei como marcava, encantava e descabelava os rapazes;
Sou a garota do primeiro e único encontro;
Sentia orgulho de mim por quê mesmo?
Eu não sou nada, e não ser nada não tem nada a ver com o niilismo.
Pobre escrava da minha própria loucura...
O esporte é um espetáculo, fascina multidões até o momento em que os adversários se atrapalham e começam a se enxergar como inimigos.
Se continuo ingênua até essa quilometragem da vida, tudo indica que assim permanecerei até o meu último suspiro. Jurava que artistas não padecem de certos Pecados Capitais, tais quais a avareza e a inveja. É melhor que eu vá ser inocente assim na China!
Sempre soube que regras são feitas para serem quebradas, ainda mais as unilaterais, mais ainda as que não prejudicam ninguém além de você mesmo.
Um dia a gente casa na intenção de legitimar uma família, de construir um lar e de viver uma nova etapa em nossas vidas onde preferencialmente seremos felizes. Essa é a intenção e ela é genuína. Mas uniões são como qualquer outra espécie de fato da vida onde um dos ingredientes que não pode faltar é a sorte. Não estou creditando somente a sorte a responsabilidade de uma união feliz, muitos outros ingredientes são indispensáveis para que a receita dê certo. Aí chega o dia tão esperado, a felicidade é presença de destaque na festa de núpcias, os noivos embasbacados se dão conta de que a festa tão sonhada conseguiu superar qualquer expectativa que vinham acalentando desde o momento em que tomaram a decisão de unirem suas vidas para sempre. Maravilhoso se essa cumplicidade existir e resistir ao tempo e as intempéries de uma vida a dois, mas o que mais acontece nos dias de hoje, é que aquele par que tinha a certeza absoluta de ter encontrado um no outro a sua alma gêmea, vai deixando esfriar a paixão e não sabem agir diante do amor. Aquela união que preconizou que seriam felizes para sempre fez com que fossem felizes enquanto aquela relação foi satisfatória e enriquecedora para ambos.
Acabou e não adianta chorar. Agora é seguir com a maior dignidade cada um para o seu lado tentando encontrar novamente a felicidade. E hoje, como somos uma geração de egoístas, de pessoas que não cogitam dividir seus espaços e suas manias com mais ninguém, vai se tornando uma população que não abre mão de suas individualidades e manias por ninguém, e assim muitos amores possíveis são abortados. Nossa, suprema felicidade dormir do lado da cama que nos faz feliz, arrumar nossas coisas sem a preocupação de agradar a uma outra pessoa, deixar a tábua do vaso sanitário levantada ou abaixada ao seu bel prazer, comer o tipo de comida que aprecia, mas vai percebendo aí, isso tudo é uma sucessão de pessoas egoístas que não abrem seus espaços para mais ninguém.
Até aí seria tudo perfeito se não fossemos uma legião de adultos solitários que vivem reclamando que não há mais pessoas que valham a pena namorar e com as quais é inviável construir uma nova vida a dois.
E como tenho a convicção de que já esgotamos todas as possibilidades acho que não demorará muito para que revivamos os românticos Anos Dourados.
O domingo para mim é melhor definido no idioma francês: Dimanche...remete à ideia de mancha, de desmanche...é o dia onde tudo se desconstrói para ser recomeçado na segunda-feira.
Nessa noite fria de inverno quando a solidão não é opção mas uma imposição do destino, tudo o que eu quero é tomar umas duas ou três taças de vinho. Enquanto minha face fica afogueada vou brindando em sua memória.
Pessoas que parecem ser feitas de açúcar deveriam ser doces. Para si querem todos os mimos e bajulações, mas no trato com o próximo são secas, rudes e lacônicas. Fazem-me rir!
Século XXI : o mundo está para além de Nietzsche. Atualmente é forçoso pedir que não me roube a solidão mesmo que me ofereça verdadeira companhia. Isso porque as companhias tendem a durar no máximo até a página dois.
Pois é, nós ficamos chocados diante da crescente e assustadora violência que grassa pelo mundo. Isso me levou a uma reflexão simples porém não mais animadora: quantos semelhantes nós não vamos matando ao longo de nossas vidas? Não usamos arma de fogo e nem arma branca, mas usamos nossa intolerância, soberba, arrogância e outros tantos vis sentimentos para eliminar dolosamente o outro de nossas vidas...é amiguinhos, não somos tão bonzinhos assim!
Minha cabeça está estourando de dúvida. Não sei o que me torna uma mulher tão indesejável...o motivo ou muitos deles.
Eu não sou descartável, você é?
As pessoas não por serem más, mas imbuídas do desejo de satisfazerem desejos momentâneos têm tido o péssimo costume de usarem os outros. Seja por carência, admiração, lascívia ou qualquer outra coisa que seja atraente para si no momento. Se importam como o outro vai se sentir ao ser descartado? Não, não mesmo. O que vale é ser feliz, é satisfazer um capricho, e que se dane o outro. E assim vai se formando um imenso contingente de lâminas.
Muitas relações sexuais que poderiam ser extremamente gratificantes ficam numa espécie de limbo porque os amantes não deram sequer uma segunda chance para que a intimidade entre eles pudesse comparecer. Pobre mundo das relações superficiais.