Ângela Beatriz Sabbag
Não me pergunte o motivo de eu estar triste, não me pergunte nada. Me ignore completamente, solenemente...
Não suporto meias preocupações, meios amores, meias considerações. Sou assim e ponto. Gosto do bem querer genuíno, da saudade que aperta, do cuidado que não vacila. Não estou querendo mudar você, estou apenas dizendo com todas as letras que o pouco me cansa, que o quase nada me mata.
O amor está sempre espreitando por aqui, está sempre esperando a brecha que não precisa para impregnar toda a atmosfera. Será que ainda não percebeu que aqui é soberano, que guia minhas ações e pensamentos e que é totalmente dono do meu existir? É por ele que meu coração bate, é tão somente por ele que eu respiro e vejo o mundo da maneira linda como foi criado...
Comungo com você da sensação horrível das despedidas, mas ao acordar e constatar que partiu sem uma palavra, um beijo e um até logo doeu mais. Estou com uma sensação estranha! Será que não foi bem recebida, não se sentiu acolhida, fiz ou alguém fez algo que não deveria ter feito? Acho que daqui por diante, por mais triste que seja dizer até logo, vou preferir passar por essa dor do que abraçar o vácuo.
A música que toca no momento em minha casa é o mais profundo silêncio, mas não existe algo que faça tanto barulho como esse tal silêncio...
E passado o arroubo de outrora fui me cobrindo cada vez mais, me resguardando e blindando com altos muros. Fechada em capas e copas, observando sem suportar que me vejam.
Ela era conhecida no Irajá por suas maluquices, portanto não causou estranheza os classificados que mandou publicar:
Preciso de um namorido que durma no emprego. Trabalho só às sextas, sábados, domingos e feriados. Tem que amar fazer hora extra e fica terminantemente proibido de usar uniforme.Não necessita ser bilíngue, basta falar bem o português. Trabalha nas férias e descansa no período de férias dos demais mortais.
Não sei o que aconteceu, ninguém no Irajá sabe. A única coisa que ficou sabida foi do completo desaparecimento da maluca depois desse classificado.
Já pensei em comprar régua e compasso, mas esse amor que sinto por você creio que não haja traço que o direcione ao meu regaço.
Futebol não é circo, é arte. Pão até gosto do pãozinho francês, mas se fosse brioche a coisa ficaria feia. Gosto mesmo é de croissant, e assim mesmo não é qualquer um que passa pelo meu crivo.
Hoje tremi nas bases pensando no discurso dos chatos de plantão que querem nos tirar um dos poucos prazeres que ainda temos, que é o de poder ter acesso a um espetáculo que é pura arte. Tremi e temi, perder o jogo e ter que engolir mais um governo vermelho. Mas os deuses do olimpo que protegem os jogos desde a antiga Grécia fizeram a justiça que o árbitro não fez. A nação brasileira hoje teve o direito de embriagar-se de felicidade.
Não me venha com altas doses de realidade, porque todo louco sabe que realidade é para ser administrada em gotas, lentamente para que não cause um choque. Não é nenhum tipo de choque elétrico, hipovolêmico e nem anafilático. Mas choques nos chacoalham de maneira abrupta, sem o mínimo de condescendência. E o grande barato do artista plástico e do escritor é que com simples traçados ou letras podemos criar uma realidade paralela. Não somos deuses, só pensar tal coisa já seria imensa heresia. Mas no universo que criamos, que não tem a menor obrigação de ser coerente com a realidade que nos rodeia somos deuses sim.
Quisera poder fazer o hino internacional do amor,
Quisera descobrir o mantra para apaziguar as almas,
Quisera ser apenas um elo numa interminável corrente do bem,
Quisera...
Quimera!
Sou muito desinteressante, comezinha ( no sentido de banal ), presença divertida e interessante quando estou numa reunião social, totalmente esquecida quando ausente. Isso deve ser muito ruim, mas garanto que não é um desastre enquanto para mim ainda rendo incomensuráveis gargalhadas. Pronto, espero que essa seja a última vez que me dispo e me exponho tanto assim.
Não sou do tempo das paqueras em coretos e nem dos "footings", mas por intermédio de leituras e relatos de pessoas mais antigas sinto nostalgia por algo que não vivi.
Ganhamos muito em tecnologia, avançamos em todas as matérias exatas. Pena é não poder dizer que andamos nem um centímetro sequer nas questões humanas, principalmente no que tange as relações humanas. Estamos pagando um preço caro. Pessoas solitárias, carentes e que têm todas as condições de encontrarem a quem amar e por quem sejam amados estão cada vez mais assustadas, e calam-se preferindo perder a chance de encontrar a pessoa que caminhe ao lado, tendo afinidades e peles que se atraem pelo simples pavor de receberem um não. E assim, ao invés do olho no olho, da conversa que denuncia afinidades, dos coretos e "footings" engrossam cada dia mais as estatísticas de aplicativos que permitam a paquera. Será que ser moderno é algo de que devemos nos vangloriar?
De repente fui completamente preenchida pela avidez por novidades.
Novos desafios, novas amizades e novos amores.
Conheço muitas pessoas desligadas, mas eu sou inclassificável. No que ia pegando o interfone para solicitar ao motorista para aprontar o carro para uma viagem sem volta, me lembrei que não tenho automóvel, motorista e muito menos um amor.
160º andar do Burj Khalifa Bin Zayid, com um par de 38 cano longo de tirar o fôlego e uma caixa de Rivotril. Tenho pânico de alturas, vermelhas são minhas botas e o Rivotril é para o Monsieur que me acompanha, porque está quase desmaiando ao colocar os olhos gulosos nas minhas coxas.
Revendo meus conceitos sobre mim descobri que sou muito insignificante, perfume que não fixa a fragrância, um vinho de qualidade inferior, uma coxinha de festa, daquelas engorduradas que se quer logo livrar do sabor, Sou música que não dá vontade de dançar, e que nem ao menos fica na memória. Sou mais descartável do que as lâminas do gênero. Acha que fiquei triste? Bingo! Mas como toda moeda tem duas faces o choque de realidade chegado avassaladoramente me atropelando foi muito bom, assim me situei e vi que não sou o macarron remanescente da "Fauchon". Descobri que sou apenas a mulher ideal para mim mesma. Ia me esquecendo que sou perfeita também para a mais completa solidão.
Vivo num mundo tão outro que para quem vive no mundo que não seja esse outro é impossível que me faça ser entendida.
A infância e a adolescência, via de regra, são aquelas fases onde o indivíduo é feliz e todos os seus problemas são hipotéticos.
Camarada, não gosto de domingo sem missa, gente que conversa sem encarar nos olhos, diz palavras carinhosas com "quartos" intenções, fica em cima do muro, é muito certinha e não ousa nada novo nunca, critica por criticar, se acha sempre o dono da razão, promete coisas sem a menor intenção de cumprir, cativa coração de alguém por esporte, parecendo que com isso quer apenas contabilizar mais um troféu para sua vasta coleção de mau caratismo, nunca se coloca no lugar do outro, aponta o dedo para a falha alheia se esquecendo reiteradamente de mirar-se no espelho, de gente que se compraz somente deixando o próximo na bancarrota...amo gente de carne e osso, gente solar, gente do bem, gente que se não tem uma palavra boa e de encorajamento para quem precisa se cala, gente que faz o bem por opção, gente que é bacana anonimamente, sem alarde e nem ao menos pensa que ser bom é mérito. Caramba, é difícil encontrar gente assim, mas quando essa dádiva ocorre, mesmo que essa pessoa vá embora sua presença continua por onde passou.
Bendita poesia que nos alivia da crueza da vida,
Bendito mundo ideal, onde não são necessários tijolos, concreto ou outros materiais de construção a não ser o uso das letras.
Graças a essa arte podemos ser imortais, habitar o mundo somente com pessoas solidárias, ler apenas manchetes de jornais que encham nossos corações de júbilo.
Criamos um mundo sem estúpidas guerras, onde as crianças sejam sempre protegidas como devem ser, onde não haja essa diferença abissal entre as classes sociais, e que por isso mesmo são a gênese de tantos crimes.
Bendita ficção que tem o condor de nos abstrair da realidade cada vez mais triste que nos cerca, que nos distrai mesmo que por breves instantes das dores do dia.
O que é o amor?
O amor não é para saber,
O amor é para ser sentido,
E quanto menos explicado for,
Aí sim estará verdadeiramente o amor.
É sabido e notório que Amelie era uma mulher do mar, mas foi aconselhada a ir a um local bucólico, de preferência com cachoeiras, onde pudesse fazer longas caminhadas para não cair em tentação e voltar a fumar. Mas ela não quis, não era mulher dessas paisagens, lhe apeteciam outras paragens...