Ângela Beatriz Sabbag
Vestindo o hábito, habito a sacralidade tão arduamente buscada e enfim encontrada. Sonho já há certo tempo acalentando, encontrar a paz de um convento, apreciando o barulho do vento e escutando meu coração. O silêncio mais mágico e impressionante habita esses muros, essa clausura que encerra fora de si toda a "fissura" humana. Ousei crer na transcendência e percebi que era só uma questão de buscá-la com firme propósito. Fiz o caminho inverso ao do despojar as vestes, me cobri, meu corpo e minha fortaleza.
É maravilhoso sentir gratidão por todos os rios que passaram por nossas vidas, mas mais mágico ainda é não ter usufruído de nenhum deles apenas na superfície. Se houve ousadia para um mergulho profundo não restará a sensação de não tê-lo conhecido. Há momentos de águas límpidas e turvas, mas o rio permanece íntegro. Há aqueles rios que deixam saudade porque precisam mudar a rota e desembocar em outros oceanos, e ainda há aqueles que nos provocam alívio pelo seu distanciamento. Porém seja qual for o motivo que tenha afastado o rio de você, seja grato pela sua passagem na sua existência.
Sim. Amo você devastada pela passagem de um vendaval.
Sim. Amo você arrastada pelas lavas incandescentes de um vulcão.
Sim. Amo você atada por correntes inexpugnáveis.
Sim. Amo você na contramão do tempo.
Sim. Amo você torturantemente, deliciosamente, depudoradamente...
Mil vezes me ferro, me estrepo porque no embate entre minha razão e a minha emoção a emoção sempre prevalece. Tento mudar, sei que não devo me deixar levar pelos sentimentos, mas minha racionalidade é cega.
Tirei a fantasia,
Recusei-me a despir-me da alegria,
Mas como manter o sorriso,
Sem as alegorias,
Destituída da alforria a duras penas conquistada?
Plantadora de Sonhos
Ia levando porrada aqui e ali mas continuava encantada pela vida. Uma rasteira de vez em quando, mas continuava acreditando que encontraria terrenos mais firmes. Às vezes surgia uma decepção, mas ela se sentia mais forte para encontrar as boas surpresas. Ela era basicamente uma plantadora de sonhos...
Ultimamente andava numa pindaíba de dar dó, mas continuavam a povoar-lhe a mente as coisas mais lindas, coisas brutas e manufaturadas. Era essa a sua essência, seu mundo particular era feito de boas intenções, de maravilhosas ações, onde não cabia a falta de esperança.
Caríssimas Lulus, não sei explicar a razão mas posso garantir que é fato a realidade que se descortina cristalina à nossa frente, às vezes até nos tornamos cegas por pura conveniência, para não dilacerar os nossos corações já tão machucados. Lulus e Bolinhas podem até terem conseguido equiparação em direitos e deveres, mas a causa lutada por nossas bravas antecessoras não conseguiram nada mais que isso. Ouso até dizer que fomos prejudicadas por essa luta insana. Morfologicamente, estruturalmente,e desde os gametas somos diferentes. Mulheres são audição e homens são visão. O homem nos vê como caças e troféus para suas aventuras e nós o vemos na maior parte das vezes como o príncipe encantado com o qual sonhamos uma vida inteira. Seja esse inteiro quinze, trinta ou quantos anos forem. Somos por natureza românticas e sonhadoras, e não conseguimos dizer um eu te amo se realmente não existir amor. Quando amamos damos todas as desculpas para o fato do alvo do nosso sentimento ser lacônico, ausente, faltoso e descuidado. Acho que passou da hora de nós Lulus acordarmos, pois se o alvo dos nossos ais e sonhos mesmo quando estamos acordadas não corresponde a frequência com a qual nele pensamos, as desculpas que vivemos arrumando para que ele não nos procure, para o silêncio que fica presente e pela total falta de interesse dele em saber de notícias nossas, pode ficar segura de que isso é um resultado matemático traduzido em palavras: esse homem não nos ama. Quem ama teme demorar e encontrar o lugar ao nosso lado ocupado por outro. Simples e doído assim...
Os Sem-Teto são os exilados dos podres poderes, os Sem-Terra são bandidos legitimados pelos podres poderes, e eu? Sem...não tenho a quem reivindicar.
Eu, por mim mesma:
Sou aquela que sempre que vê um helicóptero sobrevoando minha casa tenho a certeza de que receberei chuvas de pétalas de um homem apaixonado;
Aquela que acha que o Sedex legitima sua criação só para me entregar mimos;
Aquela que espera uma música que lhe fale as palavras certas;
Aquela que espera o poema mais simples mas o mais repleto de amor;
Sou aquela que espera o resgate de um cavaleiro andante que venha me raptar sem o mínimo desejo de me deixar voltar.
Sou romântica, uma mulher à moda antiga...
Tenho em mim todo o amor do mundo,
Tenho tatuada em minha pele a paixão mais desenfreada,
Tenho urgências voluptuosas,
Tenho o eu mulher exalando por todos os poros.
Sou um oceano profundo,
Sou aquela que desperta com uma deliciosa gargalhada,
Sou menina elencada no rol das mais vaidosas,
Sou a adulta que encontra o mais genuíno aconchego em seus olhos.
Essa sou eu, é uma grande parte de mim.
Jean Pierre, acenda a lareira e pegue meu urso de pelúcia, por favor. Depois deite-o no tapete e frente a lareira, deixe a sala na penumbra, feche a porta e pode se recolher!
Não estamos longe um do outro, pois a mesma lua linda que o espiona aí me observa aqui. A lua é mesmo dos namorados, ela nos une no mesmo céu onde reina soberana. E a nós dá vontade de ceder aos nossos desejos mais primitivos e uivar...
Porquoi tristesse?
Minha cara, você não me apetece.
Em meu DNA tenho a felicidade,
Muito embora finais de semana se esqueçam disso.
Ata-me ou desata-me,
Me ame ou não me ame,
Beije-me ou cuspa-me,
Me faça saber do seu amor ou desenhe o seu desamor.
Creio que minha inteligência amorosa não exista,
Por isso faz com que insistentemente insista,
Naquilo que só meus olhos cegos me fizeram ver uma pista.
Preciso me embriagar de alegria,
Me vestir de euforia,
Conquistar a minha alforria...
Existem pessoas constantes,
Eu não tenho norte,
Sou lançada à sorte...
Urge uma pausa no momento ermitão,
É hora de ir às ruas de montão,
Despretensiosamente levitar,
Pois a continuar recolhida sinto-me murchar,
Perder a habilidade para dialogar,
Ficar ranzinza e só murmurar.
Solidão
Tenho pessoas queridas ao meu lado, quase nunca estou sozinha...
Qual o motivo de sentir essa solidão que me oprime à morte?
Só pode ser pelo estado de espírito, só pode!
Já fui ótima nessa arte, arte essa que não posso revelar. Acho-me muitíssimo melhor nessa fase outonal da existência, diria mesmo que quase perfeita. Para a barriga negativa que perdi e o bumbum que ainda é grande mas não é tão durinho quanto outrora, ganhei em ser. Sou uma mulher que eu amaria ter como minha se eu fosse homem ou se gostasse de outra mulher. Sou uma mulher segura, ciúmes zero, companheira para todos os momentos, gosto muito de apreciar comidas e bebidas e já acordo com um bom humor raríssimo de se encontrar em cada esquina. O meu grande problema é que tenho que admirar o homem que se apresenta, sentir orgulho simplesmente por estar ao seu lado e ele tem que ter humor fino, ser protetor e nada, nadinha egoísta. Assim venho fazendo carreira solo há muito mais tempo do que quando formei com alguém uma dupla. Confesso que na maior parte do tempo, contabilizando as venturas e desventuras que isso me traz, contabilizo superávit nessa balança, Mas como nada é perfeito durante todo o tempo, quando a mulherzinha que habita em mim toma conta da cena isso se torna muito chato. Putz, ninguém é perfeito.
Quem há de querer embriagar-se de mim? Sorver essa taça com volúpia e satisfazer a sede que o ressecou. Quem há?
Vim de muitas batalhas, enfrentei dragões e coisas de fato, carrego cicatrizes e medos. Quem me vê na superfície não consegue nem imaginar, pois coisas assim só enxerga quem se arrisca a profundos mergulhos.
Sou livro. Não descobri ainda em que página ou em que capítulo deixo de despertar qualquer interesse. Nessa altura acho que não descobrirei mais...
Eu o convido Senhor Sol a me acordar amanhã perpassando seu calor pela minha janela. Vou esperá-lo confiante de que atenderá ao meu pedido, pois pode haver no mundo quem o ame tanto quanto eu, mas mais é impossível. Sou movida pela sua energia, minha vitalidade depende da sua presença.