André Villas-Bôas

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Armazenei muita melancolia, e ao me perceber abominável, tive que decantar a tristeza para extrair alegria. Vestido com a carapaça da autossabotagem, vislumbrei mazelas inexistentes e senti que meus poros afogavam minha pele. Abdiquei do ereto e me curvei até parecer impossível caminhar até meus sonhos, antes tão palpáveis. Ao me distanciar do propósito, desesperei, e numa espécie de ecdise, arranquei minhas roupas sujas como quem troca de pele. Uma nova muda brotou e minha respiração cutânea desopilou meu lado ofegante.

Percebi que julgamentos são muito mais cruéis quando somos juízes da própria sentença, e que podemos definhar nosso corpo se nossa mente aceita passivamente a prisão perpétua imposta pela culpabilidade que entranha sem aviso prévio. Meu reflexo começou a mudar no inconsciente e minha consciência simplesmente assumiu a cegueira repleta de catarata. Passei a me ver com os olhos do açoite, e me castigar do abstrato nada concreto.

Cheguei em um estágio onde nem minhas maiores virtudes conseguiram resgatar minha essência, integralmente sequestrada pelo medo. Quando me vi sem saída, órfão do próprio destino, diante do horizonte senti o mundo conspirando para me tocar. Um toque afávelacariciou meu coração e subitamente esvaziei de receios e inflei de anseios. Ansiei fortemente e fui operado pelo projetista daquilo que voltei a vislumbrar ao abrir os olhos da consciência.

Me percebi bipolar ao continuar sentindo os reflexos do cárcere recente. Foi como se o lado que me sentenciou à morte súbita, quisesse arbitrar novamente. Cogitei a possibilidade de uma alforria provisória, e temi pelo regresso de uma âncora em pleno mar. O oceano havia se aberto novamente, e ao invés de velejar, apavorei meu bom senso com algumas figuras de linguagem. E assim, a conspiração que me rodeava virou tapa ao invés de toque. Comecei a remar novamente, e hoje ouço o que aquele toque e aquele tapa queriam me dizer ao ouvir as pessoas que mais amo: “Não tenha mais medo, pois você é incrível.”

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Hoje faz um ano que meu irmão partiu, e não quero externar tristeza ao me defrontar com um dos principais marcos deste ciclo de resignação, quero expandir minha consciência e recuperar toda a energia que, ao longo deste tempo, foi manipulada pelos meus maiores medos e receios.

Enquanto parte do que sou, descansou, outra parte, ainda bem viva, respira e busca evoluir diante dos caminhos que levam a uma série de projetos que envolvem paz, saúde, família, equilíbrio, sucesso, e evolução física, mental e espiritual.

Meu irmão não partiu em vão, sua missão foi cumprida no plano físico. Já no plano espiritual, tenho a convicção de que a leveza sugerida para estes pontos de aproximação – nós e ele – deve remeter aos pensamentos e lembranças que canalizem energia pura e nova.

Pureza e novidade aceleram nossa renovação, e limpam nossa mente daquela nostalgia que nos leva ao calvário ao invés de estimular um passado mais distante, onde ele vendia vitalidade e nos contaminava com seu carisma singular. Esta é a verdadeira castidade entre elos que foram partidos. Quanto ao novo, ressalto a importância do campo das ideias e das realizações como um contraponto à tristeza. Quanto mais ativos e criativos, menos chance de cedermos espaço para uma infantaria repleta de ansiedade e depressão.

Neste primeiro ano de ausência, quero inundar este marco com a inteligência emocional que me faltou, transbordar o remanso em orações silenciosas, convidar meus entes queridos a fazer o mesmo, e assim, orgulhar aquele que se foi na matéria, mas que continua vívido em nossos corações.

Irmão, que a serenidade destas palavras chegue até você, e que o reflexo desta troca silenciosa irradie luz em todas as direções. Clarividência para prosseguir, resiliência para entender as insígnias de Deus.

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Mulheres de lua
Mulheres de marte
Para chamar de sua
Que valorizam a arte

Mãe, filha, beldade
Causa, efeito, paixão
Mulheres com ansiedade
Mulheres com depressão

Saudosas, presas na nostalgia
Ansiosas, sequestradas pelo destino
Frustração como filosofia
Esperança com ar clandestino

Guerreiras da resiliência
Esteios da própria família
Autodidatas da contingência
Doutoras em logosofia

Mulheres, maravilhas, verdade
Pausa, peito, menstruação
Divas com propriedade
Mulheres com a, o, til, ão

Inserida por andre_villasboas

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Ganhamos a terra
Recebemos o ar
Constituímos morada
Plantamos subsistência
Destruímos com negligência
Guerreamos com incoerência
Ampliamos nossa prepotência

Invadimos o céu
Nos apossamos do mar
Demarcamos fronteiras
E como consequência
Aniquilamos a resistência
Aumentamos a abrangência
Perdemos a transcendência

Esquecemos de Deus
E ficamos a par
Vangloriamos o Homem
E a partir da ciência
E sua obediência
Vimos a convergência
Esmagar diligências

Chegamos à lua
Para lá explorar
Rasgamos o Gênesis
Cuspimos sem condolência
Escárnio cuja iminência
Nos levasse a sucumbência
De uma lição exemplar

E de tanto achar
Que somos o centro de tudo
E que todo o mundo
Fosse conjecturar
O que era evidência­­­
Sem clarividência
Ficou singular

E diante desta vigência
Com toda nossa anuência
O Homem assassinou
E Aquele que consagrou
Diante de tanta dor
Olhou para Lua e disse:
- Amanheça, por favor

Inserida por andre_villasboas

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Penso, repenso
Exclamo intenso
Algo pretenso
Sem muito consenso
Inundo meu senso
Transbordo imenso
Meu caráter denso
Me deixa propenso
A ficar suspenso

Da minha pujança
Eterna herança
Que desde criança
Chamou pra uma dança
E nessa andança
Casei de aliança
E minha esperança
Verossimilhança
Chamei minha criança

De intensidade

Inserida por andre_villasboas

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Sou eu assim
Claro, escuro
Dom Juan
Dom Casmurro
Jovem, maduro
Arcaico, imaturo

Sou eu assim
Brilhante, obscuro
Veia sábia
Sangue burro
Mente que queima
Cheiro de esturro

Sou eu assim
Um carinho
Um murro
Mastigável
Osso duro
Gritaria e sussurro

Sou eu assim
Estufa, ar puro
Céu sem fenda
Inferno com furo
Outrossim
Seguro, inseguro

Sou eu assim
Passado, futuro
Intenso presente
Esquecido, expoente
Bem assim
Em cima do muro

Inserida por andre_villasboas

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Forjei as rugas do meu semblante com a juventude da minha alma e consolidei a promessa de nunca mais anoitecer. Retalhei minha tela com ensejos do meu propósito, e percebi que de noite ainda era dia, que o sorriso não anoitecia e que o choro desvanecia.

Armei meu picadeiro com as farpas do deboche alheio, preparei meu espetáculo com as lascas da inveja distraída e protagonizei uma história singular, de expectativa abstraída. Frustrei as pretensões do inimigo ao virar de costas para inabilidade opositora, e com este simples gesto, provoquei o conluio e a fúria em manifesto.

A incompetência se vestiu com os farrapos da imperícia, e inapta, limitou-se a bradar, intolerante, blasfemando contra a sabedoria e a jornada do herói itinerante. Foi quando as pedras do silêncio ignorante se chocaram com as vidraças emolduradas pela voz de um certo lábio. A poesia virou arma, e o errante se curvou ao sábio.

Inserida por andre_villasboas

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Quem me dera persuadir a surdina
com meu talento.
Ver minha utopia clarear a cegueira
do desatento.
E minha palavra sorrir nos olhares
o meu relento.

Quem me dera matar a sede
com ideologia.
Esculhambar o que não procede
com analogia.
E minha palavra substituir o dislate
da apologia.

Quem me dera entender a trajetória
de cada vento.
Ver meu privilégio esmagar a vitória
sem merecimento.
E minha palavra vencer a escória
de algum pensamento.

Quem me dera inebriar as volúpias
sem burocracia.
Administrar a incontinência verbal
sem posologia.
E minha palavra despertar a inconsciência
da letargia.

Quem me dera preencher o som
com meu sustento.
Ver minha lisura consumir o tempo
com discernimento.
E minha palavra rachar o deboche
do descaramento.

Inserida por andre_villasboas

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Olhos fechados
Nariz diligente
Ouvidos apurados
Paladar aguçado
Eu machucado

As nuvens divorciadas
A solteirice amarela
Ardi, anoiteci
A flor da pele
Eu queimando

A casa inacabada
O véu de cada árvore
Uma profusão de cores
Identidade própria
Eu boquiaberto

O templo azul e branco
Dragão traveste vitória
Confluência de calçadas
Casas, ruas, estradas
Eu caminhando

Quem vai
Quem chega
A roupa ao relento
O galo fora de hora
Eu indagado

Ansiedade abduzida
Eu livre, imerso
Um folha em branco
Um lápis zeloso
Eu escrevendo

Sensações partilhadas
Verso meu
Prosa minha
Espírito, matéria
Eu abençoado

Detalhe contemplado
Silêncio ressignificado
Um café delicioso
Nenhuma palavra
Eu bebendo

E no final
É a vida me dizendo:
- Relaxa, se aquieta
- Tudo vai dar certo
Eu saciado

Inserida por andre_villasboas

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Quem teme ser vencido
Tem certeza da derrota
Quem tem o brio rescindido
Vê surgir a bancarrota

Se a arte de vencer
É aprendida no revés
A mão dá, a mão tira
O impulso vem dos pés

Não há virtude sem vitória
Nada vale o que nos custa
Protagonize sua história
Valorize sua busca

A utopia é covarde
Quando a alma esmorece
Covardia já vai tarde
Vinte lutas, uma prece

De que serve ao Homem
Conquistar o mundo inteiro
Encaminhe o teu, os seus
Como fez o carpinteiro

Se a moda é pisar na Lua
A discórdia acelera
A vida é curta, nua e crua
Plante e regue a sua terra

Inserida por andre_villasboas

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Eu não escrevo
Apenas transbordo
Extasio sensível
Deleito bombordo

Farejo meu verso
Divago nascente
Acho minha rima
Desatino poente

Haverá um dia
Em que a sinestesia
Mudará de endereço
E morrerá: poesia

Mas enquanto isso
Arda comigo
E se não for riso
Chore! se preciso

E com estas lágrimas
E a cal da minha glória
Farei o cimento
Da minha história

É perspectiva
Utopia futura
Feridas expostas
Minha arquitetura

E neste relevo
De altos e baixos
Mostro meu acervo
E todos meus passos

Inserida por andre_villasboas

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Meu sábado com cara de segunda tem um leve presságio de domingo com os pés descalços. Inebriante sensação de vitória acometeu minha cafeína matinal, e eu recusei o fardo que me desviara do propósito.

Meu cérebro não é latifúndio da aristocracia de direita, e sim uma colmeia com a mais pura e linda quimera esquerdista.

Inserida por andre_villasboas

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No principal domingo do ano
Da luta e da paz desmedida
De um Brasil sem miliciano
Gritarei contra o genocida

Do suor que escorre vermelho
Nas mãos sujas de um aristocrata
Jamais vou cair de joelho
Viva Prestes, Guevara e Zapata

Estudei Nabuco, um abolicionista
Vi morrer a Sociedade escravista
Até elegerem um certo fascista
E renascer a Confraria racista

Dia de um povo marcado
Do negro, do gay, do andrógino
E de um gado, um eleitorado
Ver cair seu idiota misógino

E no fim do abominável
E seu bando alienável
Primavera linda, impagável
Aqui jaz, um inominável

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Tão bom quanto ruim
Saber que sou tanto
Para tão pouco
Tão bom quanto ruim
Saber que meu canto
Vai me deixar rouco
Tão bom quanto ruim
Saber que seu espanto
Vai me deixar louco
Tão bom quanto ruim
Saber que meu acalanto
Embala tampouco

Tão pouco
Tão rouco
Tão louco
Tampouco

Tão poesia quão prosa
Saber que meu pranto
Regou sua rosa
Tão poesia quão prosa
Saber que seu manto
De linho airosa
Tão poesia quão prosa
Saber que, no entanto
Tem mente invejosa
Tão poesia quão prosa
Saber que, entretanto
A inveja é onerosa

Meu pranto
Seu manto
No entanto
Entretanto

Inserida por andre_villasboas

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Quase quinquagenário
Virei trovador
Não sei qual foi o cenário
Que me percebi escritor

Acendi uma nova verdade
Extingui a visão realista
Uma nova possibilidade
De virar um idealista

Talvez o luto de um irmão
A distância de uma ninhada
Ou a fuga de uma opressão
Uma estrofe, angústia versada

Só sei que virei um poeta
Na quinta às cinco, aos cinquenta
Foi quando surgiu o alerta
Palavras como vestimenta

Vesti meu verso
Despi minha prosa
Olhei acima Universo
Plantei abaixo uma rosa

Um tributo linda trova
Atributo bela bravata
Obtive singela prova
Um soneto com serenata

Testemunhei cá poesia
Outrora, composição
Me livrei de toda heresia
No pulsar do meu coração

E aí entendi o motivo
Da rima como osmose
Do meu ar conotativo
Da minha metamorfose

Inserida por andre_villasboas

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Ao implorar pela sua atenção
Retinas atentas libertar-se-ão
Do amargo de palavras solúveis
Do azedo de termos volúveis
Das linhas tão permissivas

Ao conceder a mais linda lição
Almas trancadas libertar-se-ão
Da ideia que te adoece
Do medo que te apetece
Das utopias tão repressivas

Deixe o amor virar paisagem
Abra a janela nesta direção
Censure toda tempestade
Aprenda com ela
Sem tanta omissão

Celebre a beleza do pensar
E se nada disso for possível
Invente o seu impossível
Transgrida o senso comum
A vida não é previsível

Regue seu peito
Germine cada semente
Sem secura, sem lamento
Pois a dor de uma história tão dura
Pode lhe causar sofrimento

Inserida por andre_villasboas

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O conhecimento pode até nos trazer um certo poder, mas o auto-conhecimento nos coloca na trajetória da invulnerabilidade.

Inserida por andre_villasboas

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Se sua vida é repleta de momentos insossos, tipo raspas de chuchu, lembre-se que uma pitada de pimenta arranca-te do senso comum.

Na minha alquimia, aprendi que tudo pode ser eternizado e que minhas grafias otimistas são incensuráveis.

Quando me censuram, de alguma forma transformo o spray de pimenta em tempero e sigo adiante, ortografando minha euforia.

Inserida por andre_villasboas

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Acordei doente e no atestado apenas uma palavra: Saudade.

Inserida por andre_villasboas

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Poetizei minha índole
e erradiquei
meu lastro de ignorância
ao ruminar vocábulos
que eclodiram poesias

Inserida por andre_villasboas

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Não existe poesia em ambientes inóspitos. Todo verso morre antes de virar estrofe.⁠

Inserida por andre_villasboas

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O Fascismo feroz
zanzou loucamente pela Esplanada
A Liberdade sem voz
foi abortada pela Mãe Gentil
E a Democracia do “Nós”
foi perseguida por uma matilha
e suas cadelas no cio

O ex-presidente algoz
excomungou a paz e fugiu da justiça
O articulador atroz
insuflou a desgraça do Boca Raton
E a polícia de Oz
estava em Nonéstica
e se eximiu do epílogo Dantesco

O pré, durante e após
do Capitólio Tupiniquim
da intolerância enrolada na bandeira
e da opressão carregando uma cruz
deixa-nos uma grande lição
o ventre que abortou a igualdade
continua mais fértil que nunca

Regresso

Inserida por andre_villasboas

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O Brasil está entorpecido

do antagonismo burro
da oposição ignorante
de contradições levianas
da altercação deliberada
da desinteligência vil
da incongruência malévola
da discórdia mentirosa
de sequelas fascistas
de regimes despóticos
de sementes tiranas
de símbolos nacionalistas
de preconceitos cabais

e precisamos curar a ressaca
bolsonarismo nunca mais

Inserida por andre_villasboas

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Toda coragem
resplandece
ao desafiarmos
o desconhecido

E o medo faz parte
desta jornada

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Encontrei o meu lugar
Aquele que me preenche
Que me reconecta com o passado
Que me situa no presente
E me desperta para o amanhã