Andre Rodrigues Costa Oliveira
Tudo deve ser passível de ser criticado, e nosso raciocínio serve igualmente para tal propósito.
E qualquer instituição que, pretensiosamente, age para eximir-se de ser criticada, cai de imediato no maior e mais absoluto ridículo, conquistando o prêmio máximo do desrespeito.
Portanto, permita-se a crítica. De fora para dentro.
E de dentro para fora.
Pode ser que a maior elevação de um espírito lhe cause cada vez mais sofrimento diante da contemplação do mundo. Assim como, na fé cristã, a maior proximidade de seu Criador lhe traga tentações e dúvidas. Espíritos que se elevam também tendem a receber estigmas que rasgam com brutalidade a pele e o juízo.
Todo santo dia eu pego uma mesma avenida em um mesmo horário para ir ao mesmo trabalho.
A avenida está sempre engarrafada,
Devo praguejar contra o mundo?
Devo buzinar e agredir os outros motoristas?
Afinal de contas, por qual motivo deveríamos sentir a mais profunda ira por algum fenômeno que já havíamos anteriormente previsto e que já nos é tão conhecido?
Essa dose de veneno – tola e desnecessária – pode nos matar a todos algum dia.
Quanto mais poderosa uma pessoa se autodenomina, maior é a capacidade de indignar-se – sempre com extrema violência – diante de fatos que são corriqueiros.
Tudo para essa pessoa tende a ser interpretado como um ultraje, porque ela acredita estar acima do bem e do mal, imune a julgamentos éticos e morais, e protegida contra quaisquer reveses.
Já apunhalou seu escravo hoje porque ele respingou vinho tinto em sua roupa limpa enquanto ele lhe servia?
Já açoitou sua serva porque a mulher teve a “audácia” de lhe recusar favores sexuais imundos?
E com que direito a sua empáfia e soberba lhe tornaram um ser humano tão monstruoso, tão vergonhosamente covarde, digno de asco e de desprezo?
Tem coisa mais engraçada do que as caras patéticas dos casais que brigam feio, fazem barraco, bradam publicamente horrores sobre o relacionamento, trocam ofensas expondo detalhes que só deveriam interessar a eles próprios e depois fazem as pazes, bonitinhos e alegrinhos, e saem de mãos dadas como se nada tivesse acontecido? É o reino da jecura em sua forma mais pura.
Tem gente que utiliza grupos de WhatsApp a fim de enviar indiretas a familiares, namorados, esposas, desafetos, colegas de trabalho. Não são indiretas: são a comprovação irrefutável de que o emitente detém quantidade irreversível de titica de galinha na cabeça.
Amor, possessividade, controle, ciúme, zelo, obsessão, impulso, dominação, imposição, não são sinônimos. Se você achar que são sinônimos, creia-me: você não ama e jamais será amado por ninguém no mundo.
Nas ditaduras de direita, surgem normalmente movimentos buscando a instauração de, tão-somente, ditaduras de esquerda. Já nas ditaduras de esquerda, movimentos surgem a fim de buscar democracia pura e simples. Por que será que isso acontece?
Os bebês, desde bem novinhos, tendem a repudiar aromas e sabores que podem denotar putrefação porque, instintivamente, sabem que são alimentos potencialmente tóxicos. Mas alguns bebês vivem até um certo grau de experiência a ponto de perceberem que o pior e mais mortífero veneno pode camuflar-se no adocicado, no mais apetitoso aos sentidos. A maturidade tende a desnudar as almas perversas.
A capacidade de cumprir horários e tarefas voluntariamente escolhidas por você tende a dizer muito sobre a sua própria personalidade.
Não se atrase para os compromissos.
Não prometa o que não vai sequer tentar fazer.
Se você não consegue honrar coisas pequenas, jamais vai conseguir honrar maiores responsabilidades.
Este é o tristíssimo recado que você transmite aos outros.
Há quem diga – e com absoluto acerto – que arrumar a própria cama logo cedo estimula a dar continuidade ao dia.
E ao mesmo tempo, nos conforta ao fim da jornada.
A sensação de deveres cumpridos, mesmo que singelos, é diretamente proporcional à qualidade do descanso.
V1 – velocidade máxima durante a decolagem, na qual um piloto ainda pode abortar a operação com segurança sem sair da pista.
É também a velocidade mínima que permite prosseguir em segurança para a decolagem, mesmo que ocorra uma falha crítica entre V1 e V2; V2 é a velocidade de segurança para a decolagem.
Acima de V2 a decolagem não mais poderá ser abortada, a menos que haja razões para crer que a aeronave não irá manter-se no ar.
Já se perguntou em qual momento você se encontra agora na tomada das suas decisões mais importantes?
Ainda é possível abortar com segurança?
Ou será melhor seguir em frente e proceder aos ajustes necessários?
O que seria de Ulisses sem as guerras e as aventuras imortalizadas por Homero?
Seria um bufão preguiçoso, obeso e soberbo, e que tomaria vinho em demasiado e que dormiria todo dia em excesso.
E não haveria a Ilíada.
E muito menos a Odisseia.
Todos nós devemos merecer ao menos uma citação heroica em nossas biografias.
E as citações heroicas decorrerem da capacidade de superação de desafios.
As pessoas, muitas vezes, quedam-se inertes sob o argumento de que esperam por “algum sinal” para a tomada de uma atitude.
Pois bem: a inércia, per si, já é o próprio sinal, desesperado, ofuscante, beirando a mais histérica sirene, avisando que a sua leniência terá um preço extremamente alto. Impagável e irremediável.
O amor e a devoção a uma determinada tese devem sempre carregar aspectos dos quais você também não gosta.
O amor não existe se não for seletivo.
Veja-se o caso do amor à natureza: uma flor que brota no jardim é natureza, tanto quanto também é da natureza um tumor maligno; tanto quanto a inteligência humana que fomenta a medicina e os tratamentos adequados.
Porque a inteligência humana também é a natureza. Utilize-a sem moderação alguma.
É de noite que os demônios nos visitam.
Desestabilizam relacionamentos, promovem os atritos e as discórdias que permitem as agressões mais violentas – aquelas próprias, que quase sempre levam ao posterior arrependimento.
Então eu me pergunto: não será a nossa complacência do dia seguinte que os alimenta, motivando-os a nos visitar de novo ao crepúsculo do dia?
O Barroco jamais foi um estilo de época.
A dualidade entre aquilo que seria “divino” e aquilo que seria “sujo” ou “mundano” acompanha as consciências humanas desde sempre.
O Barroco é contínuo, e existirá eternamente.
Toda a tecnologia que envolve a humanidade não é causa de mentiras que se consolidam em notícias falsas; em verdade, a mastodôntica congregação virtual de indivíduos é apenas a singela ferramenta de que hoje nós dispomos. Ferramenta poderosa, porém, arriscada e imprevisível quando ao alcance dos que são burrinhos: um AK-47 carregado e destravado, amparado por um desastrado orangotango.
Enquanto você apenas maldizia a mim e as demais pessoas, eu sentia o suor impregnado em minha camisa surrada, comprada à prestação, e ainda enfrentava os vilões e os canhões no quintal.
Muito em breve minha camisa não será mais surrada – e os vilões e canhões no quintal – serão neutralizados.
E quanto a você?
O que me contará de novidade?
As pessoas que nos trazem assuntos ditos por terceiros sobre nós mesmos – imbuídas no suposto intuito de nos ajudar e de alertar sobre alguma coisa – são normalmente as pessoas mais perigosas. Usam a autoproclamada “experiência” ou a “vivência da idade” a fim de espalhar a mais pura e odiosa fofoca. Jamais se esqueçam: quem traz, também sempre leva.
O modelo de política educacional quantitativa – com diplomas universitários praticamente vendidos em quermesses – é a tradução mais fidedigna do velho e bolorento populismo. A Educação precisa ser qualitativa. Menos e melhores diplomas universitários. Menos burocratas e mais lideranças. A Educação, sem dúvida alguma, é a mais importante política de Estado. A base de tudo.
O que dizer da agonia e do desespero incrédulo quando percebemos que alguém que nós amamos tanto está, aos poucos, indo embora?
Quando aquela mente outrora inquieta começa a apagar-se tal qual lamparina úmida?
O que dizer das cordas desamarradas e da âncora já içada que permite ao barco navegar para a eternidade sem o capitão que o comanda, desaparecendo na neblina densa lá no fim do mundo?
Não me interessa se você gostou ou não da minha crítica.
Acontece que o meu direito de o fazer é consagrado.
E se você faz valer a sua prerrogativa de expor a sua arte e a sua filosofia ao mundo, deve estar já preparado para a crítica.
Acredite: se você recebe uma crítica, agradeça aos céus, porque ainda goza de atenção e de algum respeito.
Não há nada pior que o ostracismo e a irrelevância de uma vida – sobretudo se você for um vaidoso petulante, dos que acham que somente escutarão dos outros louvores e elogios.
É perfeitamente possível odiar sem deixar de amar.
E é também perfeitamente possível amar sem deixar de odiar.
O futuro é imprevisível em termos: pode-se traçar objetivos, calcular os riscos e até minimizar algumas perdas.
Mas e quanto ao passado?
O passado, imutável, guarda os segredos que talvez jamais serão expostos.
Vive à mercê de fatos e versões contadas pelos que dominam tribos.
E nos ameaça com revelações surpreendentes, (re) iluminando o tempo presente. Dito isso, sugiro respeito e devoção atenta ao passado.