Andre Rodrigues Costa Oliveira
Empresários de sucesso são figuras públicas que geram oportunidades de trabalho, movimentam a economia e recolhem os seus impostos (ao menos em tese). Via de consequência, tornam-se formadores de opinião – invejados e ao mesmo tempo admirados – transfigurando-se em exemplos do que deve ser tomado por conduta ética, profissional e individual. Isso dobra a responsabilidade sobre os mais jovens, que carecem de inspiração e um norte.
A deliciosa gastronomia da senzala guarda em seus aromas intensos a brutalidade do que foi a maior cicatriz na história daquela enorme colônia portuguesa nas américas; a candura com a qual as pretas embalavam os meninos dos senhores; a volúpia covarde das noites adentro, dos abusos e dos destemperos; o mercado do Valongo; capoeira nos canaviais; febre selvagem do ouro das Minas; cafezais já florescendo em São Paulo; o cacau baiano, amarelo; peixe na rede de manhã cedinho; cantorias e batuques; a coragem do enfrentamento; alforrias; Eusébio; ventre livre; sexagenários; a conquista da liberdade, depois de navegar um oceano inteiro de puro sangue.
Há um certo momento em que as noites e as manhãs se fundem. Mesclam-se as cores da aurora com o breu da madrugada. Juntam-se a paz inquietante e a inquietude mais pacífica. Surge a quimera verdadeira, que nos encanta e aterroriza. Noites e manhãs concomitantes formam o enigma da esfinge.
Há quem se droga da droga. Há quem se droga da medicação que é também droga. Há quem se droga da ira e dos maus sentimentos, que envenenam e que são sempre uma droga. Há quem se droga da melancolia que o leva à droga. E há aquele que, de súbito, se droga do irresistível amor platônico, que embriaga e que entorpece mais do que a droga do que poderia – efetivamente – ser a própria droga.
Sonhos bons nos fazem encontrar aqueles que amamos. Mesmo os que não mais são vivos. E projetam nossas mais sinceras e profundas ambições mundanas. Mas, afinal, quem há de nos libertar do paradoxo nefasto, já que sonhos bons também se transfiguram em tristeza, porque a gente uma hora acorda.
Com efeito, é preciso dar um basta a pessoas e a situações que chegaram a um limite, porque nos anulam. Porém, isso não funciona apenas ligando um interruptor simplório, fazendo parecer que tudo ocorreu em função do outro, e que nós seríamos apenas o passivo. Isso nos coloca em condição de vítima, que nos infantiliza e fragiliza. Se chegamos a tal ponto de infelicidade é porque nossos hábitos e concessões assim permitiram. A mudança verdadeira parte para um olhar primeiro a nós mesmos e, em segundo plano, a uma mudança sincera de hábitos e vícios. Não os hábitos e vícios dos outros. Os nossos!
Que todas as mulheres fiquem de máscara tal qual o carnaval veneziano!!! Que as suas bocas sejam ilhas ainda inexploradas, na vigília do penhasco ansiando pelo mais bravo navegador errante, cercadas de emoção e de amor por todo o lado. E que nós homens possamos enfim perceber a infinita magnitude de uma mulher por completo. Desnuda. Pervertida. Desadornada. Desenfestada.
Mas ainda assim: de máscara!
Eu queria que os pretos fossem brancos e que os brancos fossem pretos. Mas porque eu deveria desejar algo que já existe, se já somos pretos e somos também brancos? Porque a vergonhosa negação de uma verdade universal, que é a igualdade absoluta entre nós todos, que nos autodenominamos como humanos... nos desumaniza mais e mais a cada instante.
Porque o ato de cozinhar é um exercício de criatividade, de ciência, de química, de física. Uma aula maravilhosa de história de uma comunidade, de um município, de um povo, de uma civilização e de um planeta inteiro. Mas, muito além disso tudo: cozinhar é, indiscutivelmente, um dos maiores atos de amor que um ser humano pode ter por outro. A ideia de alimentar o próximo com aquilo de que se dispõe, de agradar ao paladar de um convidado, seja ele pobre ou rico, isso é indescritível. Se você não sente amor, não se aproxime da cozinha!
Perdoar seria sobretudo um presente, um alimento com o qual você sacia o espírito de quem outrora lhe fez mal. É dar ao outro algo que essa pessoa em momento anterior, não teve condições de lhe outorgar. Sem dúvida o perdão é maturidade. O perdão é esquecer.
E, curiosamente, o “não-perdão” nos escraviza.
A cada atitude tomada por alguém – ou em cada fenômeno da natureza por nós percebido – existe claramente uma ação e ao mesmo tempo uma reação a algo já acontecido, o que acarreta outras ações (e que também são obviamente reações) levando ao infinito, tanto para o pretérito quanto para o futuro, como uma via de mão dupla. Aliás, o próprio conceito de “infinito” é um conceito que pertence à lógica, e não pode ser considerado um número. Até mesmo porque um “infinito” ao ser multiplicado por um “infinito” leva a uma resposta “infinita”.
“Lei do Retorno” é engodo.
“Lei do Retorno” é placebo.
Não se iluda com o “bom selvagem” de Rousseau, ou com o “homem cordial” de Ortega, ou até mesmo com o “caipira ingênuo” de Buarque de Holanda, ou ainda, com o tão fantasioso, “índio pacífico”, romanceado por Darcy Ribeiro. São conceitos utópicos. Compreenda que o homo sapiens foi geneticamente programado a sobreviver ao meio, e por isso mesmo ocupa o ápice da cadeia alimentar há tantos milênios – e se você lê agora o que escrevo, demonstra a si próprio que exerce, com serenidade, a supremacia dentre os seres vivos do planeta em que estamos. O comportamento dividido entre aquilo que é “bom” ou “mau”, atinge níveis cada vez mais relativos, variando de acordo com as regras e as normas sociais que “civilizam” o ser humano.
Capacidade de adaptação é uma virtude ou um defeito deplorável do ser humano? Adaptação é sobreviver às adversidades, é o improviso, é o jazz da vida. Só que adaptação rima, também, com acomodação, que é a resiliência somada a mais perversa ineficiência. É a sublime elevação de espírito ou apenas mais uma de muitas e reiteradas tragédias?
É incontroverso que uma nação que não protege a sua história e que não investe em pesquisa e em desenvolvimento estará fadada às últimas fileiras de um tablado que se chama Liderança, ao escanteio de um tabuleiro habilitado apenas aos mais peritos jogadores – o que, lamentavelmente, não é o nosso caso, já que não sabemos – ou não queremos – criar absolutamente nada quando não estamos, simultaneamente, destruindo outras coisas.
Se na história do homem a partir de Paulo houve um enviado – um “messias” em hebraico, e “Cristo” em grego – e ele tendo sido efetivamente visto na história, a questão agora é a fidelidade ao que se viu numa nova crença; portanto, a fé, o que implica a esperança (e com a fé existe a esperança) há o conceito de ação na fé, na busca constante da esperança; o que Paulo chama de amor. Daí a tripla paulina que mudará o mundo: fé, esperança e caridade.
O privilégio de receber amigos queridos em casa é sempre maior do que o privilégio de ser recebido. A hospitalidade encontra-se no âmago das relações humanas, e o acolhimento ao seu visitante tende a potencializar e a alimentar sobremaneira tais relações humanas, corolários de paz e harmonia. Jamais deixemos de receber o viajante. Respeitemos o peregrino. Protejamos e afaguemos o visitante. Aprendamos com o hóspede. Escutemos as suas histórias, memórias e desejos. Ofereçamos o que puder para que ele se sinta confortável. Ultrapassemos o distanciamento da etiqueta formal para a intimidade sincera do calor humano.
Professores são grandes idealistas, que não se afastaram jamais da ideia de que um Brasil melhor se faz com o mais límpido conhecimento. Exercitam com destreza a maior e mais sublime vocação de todas: a de transmitir conhecimento, dignidade, cidadania, e de, sobretudo, ensinar ao ser humano a pensar e sobreviver ao meio. Ou seja: ensinar o ser humano a ser humano. Portanto, todo e qualquer docente da face da terra será sempre um garantidor de que existe sim um futuro possível, com justiça social e equidade.
A menor distância entre dois pontos não é necessariamente uma reta porque a própria Terra é curva, e por isso mesmo, não vivemos todos em geometria plana – não somos “euclidianos”! Se você não corrige periodicamente a sua rota, recalculando e estimando o melhor uso do tempo, não chega jamais ao destino almejado.
A maior comprovação de nossa infinitude – muito além da genética – consiste em nosso legado enquanto seres humanos. Cada situação vivida, cada história contada, cada atitude tomada, sobretudo as que ajudaram outras pessoas – nos relembram que vivemos sim eternamente. De alguma forma somos indeléveis.
A mudança é vital para a natureza – e por isso mesmo é contínua. Assim, é vital para cada um de nós. A madeira da fogueira não retorna ao seu estado antigo, mas nos dá calor e ainda espanta os animais selvagens. A comida, uma vez cozida, também se transforma para sempre – nos alimenta e sacia a fome. Não tenhamos medo de mudanças.
Impressiona a capacidade que algumas pessoas têm de não aceitar viver em harmonia e buscar constantemente a discussão e a peleja. Lamentável já que a vida é tão curta e, por vezes, tão difícil. Tais pessoas se envenenam, e carregam uma energia tóxica e autodestrutiva. Quase fedorenta. Geralmente morrem na maior e mais profunda solidão de corpo e espírito, digerindo indiferença e esquecimento. E terão velórios vazios.
Curioso que todas as pessoas que lhe odeiam e que lhe amaldiçoam são, sem exceção alguma, servas e escravas suas. Alimentam-se de sua existência. Dependem visceralmente de você, tal qual a planta necessita de água. E por isso mesmo sua resiliência as atordoa, e a sua indiferença as afeta tanto. É mortífera. A indiferença queima como o fogo.
Pode ser que personagens de romance e de filmes não sejam imitadas por pessoas.
Acho que os personagens é que na verdade imitam as pessoas.
E assim navegam entre a ficção e a realidade.
Heroísmo e vilania, todos temos em medida variável.
Somos muito presunçosos. Achamos que a chuva cai porque queremos ir à praia, e que faz mais frio quando estamos sem agasalho. Não se deve dar sentido pessoal à natureza, muito menos tomar posse dela.
O que mais me deixa entediado - aliás, insuportavelmente entediado – é escutar os outros reclamando que estão entediados.