Andre Rodrigues Costa Oliveira
O regozijo maior de algumas pessoas consiste na mera aparição eventual em alguma foto de coluna social. A lição que fica disso: essas pessoas todas se resumem somente às suas fotos publicadas, nada mais do que apenas isso; eternizadas nas mesmas folhas de jornal que a gente usa para absorver necessidades fisiológicas dos nossos gatos.
Pizza assada em forno a lenha tende a ficar ruim quando esfria. Não hesite em sair com alguém que você ama a fim de comer pizza a lenha. Não peça em casa. Porque a brasa resfriada de um alimento a gente até tolera. Mas a chama que se apaga não restaura aromas e sabores já perdidos.
Você confia no barbeiro que você sequer conhece, e que lhe faz a barba com navalha extremamente afiada. Mas você também confia no político que, da mesma forma, lhe é desconhecido, mas que, além de receber seu voto em uma urna eletrônica, se torna o gestor supremo de seus impostos - da educação, da segurança e da saúde de sua família. A outorga da confiança deve ser minuciosa. Porque a navalha é afiada.
Algumas pessoas possuem um amor irresistível ao bizarro, ao grotesco e ao escatológico. Quanto mais sangue derramado às portas do passeio público, maior é o “sucesso” da tragédia. Hoje haverá assunto no jantar, enquanto o jornal começa, temperado com mediocridade em estado bruto.
Eu reduzo a velocidade na estrada bruscamente; eu me deparo com um violentíssimo capotamento, e com uma família inteira dilacerada, presa às ferragens do veículo; eu saio do meu carro e tento ajudá-los; outros automóveis também param diante da cena dantesca; eu percebo que, enquanto alguns de nós prestamos socorro às vítimas, diversos outros cidadãos se ocupam em saquear carteiras, bolsas, relógios, bagagens e ainda celulares dos feridos. Pergunto: há alguma esperança para o nosso povo depois disso tudo?
E o lodo que desce da chuva calunia a pedra de topázio, no intuito de ofuscar seu brilho inconfundível. Mas o lodo será sempre o lodo. Sujo, passageiro, lavável. Já o brilho do topázio não se desintegra com maledicências sazonais e torpes.
Quantos de nós já não tivemos superiores hierárquicos impiedosos, e que nos atribuíam tarefas que julgavam impossíveis a fim de nos desestabilizar e de enfraquecer a nossa própria força de trabalho? E ao superarmos tais tarefas ditas “impossíveis”, quantos desses caras se descontrolaram ante a nossa louvável resiliência? Eu seria muito herege ao afirmar que Jó, em sua fé inabalável, conseguiu manipular a Deus, quando na verdade Deus tentava inutilmente manipulá-lo, infringindo-lhe os mais terríveis sofrimentos?
Como fazer pacto com o demônio: invocação, convicção, triunfo, consumação, purificação e sacrifício. Como fazer pacto com o conhecimento: invocação, convicção, triunfo, consumação, purificação e sacrifício. E como se chama a árvore de cujo fruto Eva, essa mulher “terrível” e “manipuladora”, “razão de todos os sofrimentos humanos”, fez com que o pobre Adão provasse? É a “Árvore do Conhecimento”. Logo - e para tantos falsos profetas que aqui nos cercam - o conhecimento e o demônio são meros sinônimos. E, se for assim verdade, que eu apodreça pela eternidade no pior dos círculos do inferno.
Fausto, o erudito que não se conforma com supostas limitações do conhecimento. Fausto, que sela com seu próprio sangue o pacto macabro com o demônio Mefistófeles, que lhe promete as maravilhas terrenas desde que o homem seja o seu servo predileto no inferno. Fausto, que derrota Mefistófeles. Fausto, que nos mostra que até demônios experientes devem temer seres humanos ordinários. E nunca o contrário.
Sejamos sinceros: muitos de nós, nas profundezas mais inexploradas de nossa própria sordidez, adoraríamos que fôssemos pintados tal qual Dorian Gray, e que naquela tela enigmática a podridão das nossas atitudes fosse retratada, asquerosa e repugnante, mas coberta por um pano velho; tudo isso em troca de um esplendor eterno. Fato é que cada um de nós possui um quadro desses já pintado, escondido lá no sótão, aguardando por ser exibido - ou não - aos nossos olhos presunçosos e medrosos.
Democracia: você pode exprimir o pensamento e eleger o seu representante. Mas daí eu me pergunto: há, de fato, a Democracia plena quando a expressão do pensamento é tolhida pela educação deficitária, manipuladora e que, veementemente, inibe a fomentação de ideias? Outro questionamento: há, de fato, a democracia plena quando o voto expressado pelo cidadão na urna é coagido pela ostensiva carência no suprimento de necessidades básicas? Ou seja, ante a pobreza que exerce um controle a fim de direcionar escolhas, para que, assim, não sejam propriamente “escolhas”?
Sempre achei peculiares as inúmeras produções cinematográficas apocalípticas, o tradicional “cinema-catástrofe”, quando o planeta inteiro é dizimado, e a raça humana, extinta. Nesses filmes não há diferença alguma se os personagens são pernósticos, incultos, esclarecidos, miseráveis, altruístas, tementes a Deus, fortes, raquíticos, banguelas, vascaínos, flamenguistas, crianças ou idosos, porque todo mundo leva ferro no final, do mesmo jeito. E, nesse momento, na iminência do armagedon é que o homem finalmente toma consciência do quanto é pequeno, mesquinho, rasteiro, egoísta e efêmero; e de que a necessidade de atuação em prol do grupo é um dever moral do qual depende a sobrevivência de toda a espécie.
“Feios” são aqueles discriminados, marginalizados, não-enquadrados ante o fato de carregarem consigo defeitos físicos severos e problemas mentais complexos. A sociedade não os aceita, não os tolera, não os suporta sob nenhuma hipótese, porque remontam ao indesejável, ao asqueroso, ao diferente... Só que atualmente, em pleno isolamento social decorrente da pandemia do COVID-19, nós é que usamos máscaras e estamos escondidos e com medo. Nós estamos física e metaforicamente feios; estamos com os cabelos descuidados, com as unhas malfeitas, com pouco dinheiro, com as nossas casas desarrumadas, e as nossas mentes idem – nós estamos com a peste, com a moléstia. Somos os leprosos, os lazarentos, os errantes que nos entreolhamos assustados no mercado, na farmácia, nas varandas, sempre imaginando quem será o malfeitor que há de nos contaminar com o coronavírus.
Postagens nas quais alguns seres humanos “gentilmente” se arvoram do direito de empunhar a bandeira da bondade, falando em nome de Deus na tentativa de parecerem decentes, são frequentemente acompanhadas de julgamentos infames sobre os outros, como se fossem criaturas piores, inferiores, grotescas. Se realmente desejassem o bem do próximo, não se sentariam em rodas de escarnecedores. Aliás, um recado: Deus não tem Facebook, não usa Instagram e detesta orações em grupos de WhatsApp da família.
Já com relação ao desenvolvimento humano – que não caminha necessariamente aliado ao desenvolvimento econômico – a minha sugestão consiste na mera observação da forma com a qual uma sociedade (seja ela um pequeno núcleo familiar, um condomínio, uma rua, um bairro, um município, um estado ou um país inteiro) lida com aqueles que são mais fracos, respectivamente: as crianças, os enfermos e os velhos; como são cuidados; como são acalentados. E, nesse quesito, o Poder Público brasileiro representa o que existe de mais retrógrado em direitos humanos e cidadania, demonstrando profunda indiferença ao próximo.
A probabilidade de que você tenha um cartão clonado ao fazer compras pela internet é muitas vezes menor do que a probabilidade de clonagem de seu cartão em shoppings, supermercados, botecos ou postos de gasolina. Então deixe de ser ressabiado e utilize a tecnologia em seu benefício. E utilize também o conhecimento para sobreviver à nova década que agora se inicia.
Forçar a aproximação com alguém que não esteja interessado nisso é um comportamento autoritário. E as mais belas ideias ou intenções não alteram em absolutamente nada a prepotência de quem almeja, a todo custo, ver a sua vontade satisfeita. Esse cidadão não dá a mínima para quem quer que seja. Apenas para ele mesmo. E por isso merece ser ignorado.
E aquela galera que nos xinga porque visualizamos uma mensagem e não as respondemos a tempo e modo? Será que esse pessoal pensa que a nossa vida é estar com os smartphones a postos, no aguardo ansioso por mensagens de texto, de vídeo ou de áudio? Será que esse pessoal não cogita que podemos estar trabalhando, cuidando de crianças, concentrados em algum bom livro, “obrando” no banheiro ou simplesmente querendo ficar quietos? As pessoas se tornam chatas, invasivos, agressivas e não menos inconvenientes ao insistirem em conversar quando não queremos ou não podemos. Isso é egoísmo e prepotência.
Mas é claro que não existe bala perdida!!! A suposta “bala perdida” dirige-se a toda uma segurança pública deficitária, a um sistema podre por dentro e por fora, esteja ele usando farda ou paletó, engravatado e canalha. O destino derradeiro da “bala perdida” é a destruição de vidas inocentes, é a aniquilação de um sorriso de criança, é o sofá vazio não mais ocupado por um pai de família.
Bater panelas na janela em protesto contra alguma coisa é de uma jecura gigantesca; tão breguinha quanto bater palmas para o pôr-do-sol na Pedra do Arpoador, no Rio de Janeiro. E ineficaz sob o ponto de vista político. Porque o sol vai nascer com ou sem as suas palmas. E mudanças sociais não se definem com panelas na janela.
Fazer carreata em automóveis confortáveis, buzinando enquanto desfruta do sistema de som e do ar-condicionado e protestando para que pessoas pobres sejam compelidas a voltar ao trabalho (não essencial) em plena pandemia, espremendo-se em trens e ônibus lotados é de uma cretinice inacreditável; típica atitude escrota de quem não dá a mínima para a vida humana.
Se vocês imaginarem, por exemplo, que um aparelho celular comum nos dias de hoje possui uma tecnologia infinitamente superior à tecnologia da Apolo 11 – a espaçonave que, em 1969, levou o homem à lua, o que na linha da história foi praticamente agora – já poderão ter uma ideia de que a geração de informação e de conhecimento cresce atualmente em projeção geométrica. Mas, paradoxalmente, muita gente ainda não sabe o que é a Apolo 11, e muito menos que o homem foi à lua. Como pode isso?
A tecnologia teve o condão de revelar ao mundo as milhões e milhões de pessoas que são deseducadas, desocupadas e sobretudo egoístas; revelou uma sociedade de mulheres e de homens solitários, sexualmente infantilizados e que, por detrás da tela de um notebook ou de um smartphone, fingem descaradamente serem o que não são, ou possuírem o que jamais possuíram, ou até mesmo um estado de felicidade e de autossuficiência que, na prática, é inexistente.
Em dias de pandemia, não estaríamos todos nós, isolados socialmente, tendo agora a oportunidade, talvez a única, de refletirmos sobre aquilo que nós somos de verdade, sobre aquilo que queremos de verdade a fim de nos realizarmos plenamente? A grande maioria dos seres humanos passa por toda uma existência vivendo a vida escolhida por fatores ou por pessoas de fora - e deixando cada vez mais de lado aquilo que efetivamente se deseja ser, suprimindo a real essência da vida na mais profunda escuridão claustrofóbica de seu próprio espírito.
O conceito da palavra “ironia” configura-se em uma maneira de expressão com base em afirmações opostas àquilo que se almeja expressar, zombando, censurando, criticando, atacando ou denunciando algo ou alguém. Trata-se de um modus operandi amplamente utilizado e observável nos diálogos platônicos, segundo os quais a técnica de Sócrates, em diversas passagens, se baseava na simulação de certa ignorância sobre um determinado tema, com a formulação de questionamentos e a posterior aceitação das respostas proferidas pelos interlocutores, fazendo-os entrar em divergência (contradição) entre si próprios, desnudando os raciocínios obsoletos. O problema é quando a escuridão sequer permite ao interlocutor a diferenciação entre as comédias e as tragédias da vida.