André Malraux
Miséria deste século; não há muito eram as más acções que tinham de ser justificadas; hoje são as boas.
Não se ensina a estender a outra face a pessoas que, desde há dois mil anos, só têm recebido bofetões.
A cultura, sob todas as formas de arte, de amor e de pensamento, através dos séculos, capacitou o homem a ser menos escravizado.
Se existe uma solidão em que o solitário é um abandonado, existe outra onde ele é solitário porque os homens ainda não se juntaram a ele.
Não há ideal a que possamos sacrificar-nos, porque de todos eles conhecemos a mentira, nós os que ignoramos em absoluto o que seja a verdade.
A sombra terrestre que se alonga por detrás dos deuses de mármore basta para nos afastar deles.
Ah, com que amplexo o homem se estreitou a si próprio! Pátria, justiça, grandeza, piedade, verdade, qual das suas estátuas não traz em si os sinais das mãos humanas para que não desperte a mesma ironia triste que os velhos rostos outrora amados?
André Malraux, sobre os problemas do mundo