Andrê Gazineu
Um aprendiz devoto sempre tentava se tornar próximo ao seu mestre que dizia, “não, não. Agora não.”
A piedade era tanta que o mestre cansou de dizer, “porra! Agora não!” e apenas acenava com as mãos indicando estar ocupado.
O aprendiz pensou por noites. Meditou. Se concentrou em si. Ponderou. Absorveu-se. Por anos, o mestre apenas acenava.
O aprendiz, tornado mais basto, se aproximou do mestre por uma última vez. O mestre fechou os olhos e disse, “sou ruim propositalmente. Afasto os que possam me gostar.” Sentou-se fumando um Cohiba Behike e disse ao aprendiz, “sou como uma casca de árvore velha. Você quebrou meu silêncio. Qualquer coisa que eu possa falar será produto do que eu-acho-que-as-coisas-são. Meu reflexo só reflete em outrem.”
“Mestre.”
“Sim.”
“Durante todos esses anos de silêncio, eu finalmente aprendi uma coisa.”
“É?”
“Meia dose de armagnac, uma dose de creme de leite natural, cacau e noz-moscada. Agitar com gelo.”
O sonho lúcido de que os seres humanos eternamente serão possuidores de habilidades únicas e insuperáveis além do alcance de processos computacionais ou algoritmos bem definidos não conscientes é apenas uma ilusão infantil. Baseia-se na suposição tradicional de que a inteligência e a consciência estão inextricavelmente ligadas uma à outra. Para milhões de anos de evolução escrita em ácido desoxirribonucleico e tábuas de argila: sim. Mas no drama contemporâneo? Not anymore, babe.
Filosofias orientais nos informam por Short Message Service que a raiz da angústia e ansiedade não é o sentimento de agonia ou de tristeza. Nem mesmo os infundados fundamentalistas sem causa acusam a falta de sentido como suplício existencial. Em vez disso, a verdadeira raiz do sofrimento é essa busca sem fim e inútil de sentimentos transitórios, que nos faz estar em constante estado de descontentamento e insatisfação. Devido a racionalização dessa busca cerebral devotada, a mente nunca está miseravelmente satisfeita. Ainda em prazer, atemoriza perdê-lo, ou quer provar doses enérgicas do mesmo ardor. Quando a mente cala como um grande lago cinzento que deságua no nada: eu nunca morrerei e estarei em tudo que vejo e me verás em tudo que vês.
Insulíndia
O tigre, um dos animais mais ferozes e vigorosos do continente asiático, queria construir seu chateauprovençal. Já era um pouco velho. Ele encontrou um lugar bonito à beira do rio. Um cervo teve a mesma ideia, sendo um dos animais mais tímidos e fracos da floresta boreal. No dia seguinte, antes de o sol nascer, o cervo bateu na pastagem, árvores de angelim cortadas e deixadas. Depois veio o tigre, e vendo tanto material de construção já preparado, disse, "aaaiiiiiiiiiiii, Meu Deus! Alguém que me ama tem sido bom em me ajudar” e tocando o terror, começou a construir as paredes da casa.
Na manhã seguinte, o cervo chegou mais cedo e pensou, “whoooa! Jesus! Construíram até o telhado.” O cervo, que era formado em arquitetura e urbanismo, dividiu-os em dois quartos, com suíte, e se estabeleceu em um deles. Quando o tigre chegou e viu a casa terminada, ele pensou que era o trabalho de um amigo desconhecido e se estabeleceram no outro quarto.
Mas no dia seguinte, ao acordarem ao mesmo tempo, entenderam o que se passava.
Como os animais haviam colaborado juntos, decidiram viver vizinhos – já que o tigre estava ficando velho mesmo e precisava de companhia. Por que não viver juntos em paz? O tigre resolveu preparar o jantar e abateu um jovem cervo pelo pescoço.
O jovem cervo estava tremendo de medo, pôs a mesa, mas não provou o prato. Nem sequer dormiu a noite toda. Ele temia que seu companheiro feroz sentisse fome e viesse fazer uma “boquinha” à noite.
No dia seguinte, era a vez do cervo procurar comida. Que faria? Ele encontrou um gigantesco tigre adormecido. Era maior do que o seu companheiro. Ele teve uma ideia. Procurou o texugo halterofilista mais nervoso da floresta e ofereceu uma grande quantidade de mel para que o texugo estrangular o pobre tigre adormecido.
O jovem cervo conseguiu arrastar o enorme tigre morto para a casa. Entrou e disse, “tá aí. O menor tigre que pude encontrar”. O tigre ficou temeroso. Estava ficando velho e o tigre trazido como refeição era duas vezes maior que ele próprio. O tigre tomou Zimelidina com uma dose de conhaque Dudognon e dormiu com medo. O cervo igualmente receoso de uma provável vingança, não dormiu. Na manhã seguinte, o velho tigre apresentou um comportamento psicótico. Uma completa perda de contato com a realidade. Quanto ao cervo, acordou ainda mais medroso: uma reação sintomática ao estresse vivido naquela noite. Ao amanhecer, decidiram compreender um ao outro nas dificuldades específicas e possíveis empecilhos que estavam vivendo. Com o auxílio de esquilo vampiro de Bornéu, que também era terapeuta de casal, chegaram à conclusão que o maior consolo é o prazer e reconhecimento de sua infelicidade, o prazer de ter reconhecido que o destino e a vida são: tal como elas são e para que você chegar a uma forma superior de consciência. O tigre, cansado, disse em um rugido de tigre cansado, estou cada vez mais convencido de que a nossa felicidade ou nossa infelicidade depende muito mais sobre a nossa forma de atender aos eventos da vida do que sobre a natureza desses próprios eventos”; e devorou o cervo.
Empós longínquos caminhos cruzar
sobre palha seca e a lã dos merinos
Cedendo a mim o horror do mundo e de todos os pecados de ser contra ciente e consciente para escolher o que você presta atenção e seleciona a construção do significado da sua experiência
À passagem, cheguei
E na ordeira quietação, andei
Pelas sombras até à luz
e andei por entre os uaçás
cursando um rumo abandono
mas o corpo cansado tombou sobre os caxangás que vinham trazer os raios de sol em uma beleza que me atinge os ossos
Com o espírito cheio de árias
quis fugir da perdição dos outros caminhos e vi a sua desagua nos córregos do rio
dias e dias caminhei
me perdi no bronze
no sangue escorrendo pelo Nilo Branco
dias e dias e dias em suor em fronte, ia me sumindo no sol firme de bulir o manadeiro
o sol não ensina a morrer antes da própria morte
passado passados tempo, lembrei-me de beber
mas a terra, o sol brindou e borbulhou cada fibra
e depois de muito tempo
nada havia
em terra
nada
nuvem alguma
havia
Dois peixes estão pescando homens quando um fala, "precisamos de um pouco menos de realismo para lidar com a realidade".
As contradições da humanidade fornecem profundo dumping delight e uma evasão de análise de todos os fins. Como um sorriso e um paradoxo complexo recheado de citações poéticas orientais, ser humano sempre foi sobre, inevitavelmente, tropeçar em si mesmo.
“Muito bem, muito bem. Sentença de morte.”
Ele continuou olhando fixamente para a ponta do nariz do juiz. Piscou os olhos. Um nariz justo. Fechou os olhos. Voltou a encarar. Cinquenta anos. Dois casamentos. Poucos acertos.
“Alguma coisa a declarar?”
Ele sentiu um formigamento e lembrou-se de como era estar sentado em uma quadra de vôlei e do segundo que antecede uma violenta bolada na nuca.
“Não, senhor.”
“Não teme a morte?”
“Não, senhor.”
“O que significa a morte para você?”
“Um grande salto no nada.”
“Tem noção do que ESTÁ ACONTECENDO?”
"Leio os jornais, senhor. Sem muito interesse. Abomino toda a ideia que me é indiferente.”
“Tem CIÊNCIA do que está em jogo?”
“Não acredito na ciência, senhor.”
“Não acredita na ciência? O que seria da humanidade sem a ciência?”
“Quase a mesma coisa, mas sem antibióticos e netflix, senhor.”
“Está bancando o espertinho?”
“A maior parte do tempo, senhor. No resto, tento ser escritor.”
“O que é ser um escritor?”
“Fracassar na ação.”
“E o que você escreveu?”
“Uma refuta aos argumentos de Emil Cioran, senhor.”
“E quais são eles?”
“Prozac e psicoterapia, senhor.”
A empregada doméstica carregava o bolo de aniversário do filho mais velho da patroa. Em um momento de desequilíbrio, no tropeço do descuido, leva um tombo e o bolo se espatifa no chão. Com as sapatilhas sujas de glacê, compra uma passagem para Córrego do Bom Jesus.
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Lhe ocorre um momento privilegiado de um descortinamento interior como se o céu se abrisse e a uma iluminação elevadora da consciência onde você se afasta de uma vida mecanizada como de quem é responsável por fazer todo o serviço da casa, abrir as toalhas de banho para secar, levar o lixo para fora, desinfetar o banheiro e outras coisinhas domésticas para, assim, irromper numa luminância de clara batida. Ao imaginar o rosto do menino de aniversário que não haverá bolo, ela sente que toda a fragmentariedade do sujeito e a problemática existencial é dissolvida. Toda tensão psicológica dos intervalos dissonantes e do sabor de xarope que a palavra próclise causa na boca dissipa.
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Pós dispifania, a vida do personagem nunca mais será a mesma. Ela não terá um final feliz. Não terá um processo completo. Um incômodo desejo de ser vividamente uma presença que não estará lá. E de não voltar para casa.
Quanto mais profundo o ciano escuro se torna, mais fortemente chama o homem para o infinito, despertando nele um desejo pelo puro e, finalmente, para o incompreensível. Quanto mais leve se torna, mais perde seu som, até se transformar em silêncio e o silêncio se torna branco.
A diferença entre ler uma crônica esportiva e um paper sobre quantificações do efeito Helmholtz–Kohlrausch?
O texto técnico é maçante. Não porque o assunto não seja interessante, mas porque o pesquisador não possui uma linguagem acessível para comunicar suas ideias. Ou porque o trabalho está ininteligível, indecifrável, impenetrável. Quem melhor do que o Kant para explicar suas ideias? Qualquer professor de filosofia do ensino médio ou escritor de "filosofia-no-bolso". Talvez não TODO PROFESSOR DE ENSINO MÉDIO.
Difícil é escrever fluido e cirúrgico, empático e simples sem deixar a exatidão. Difícil é ser um Darwin. Sua escrita é quase inigualável para despertar ideias em pessoas que estão envolvidas com a ciência e que exercem o esforço adequado para envolvê-las. Embora um texto intrincado não seja sinônimo de complexo. Sempre há uma tentação de justificar a própria incapacidade de entender algo afirmando que não é possível entender.
O tédio não é falta de estímulo. Quanto mais distrações e estímulos externos buscamos, mais entediados ficamos. Quisera poder escrever que o sentido é a falta no sentido.
O tédio é uma é uma rocha metamórfica sílico-argilosa formada pela transformação da argila sob pressão e temperatura, petrificada em uma superfície pegajosa como as patas de uma lagartixa. Estar entediado é escapismo. É a metonímia da fuga pela fuga.
É um estado mental que escolhemos para evitar a autorreflexão e desconsideração do desejo distante.
Sentimo-nos entediados porque, dentro de nós mesmos, sabemos que podemos dar mais. O que é uma fantasia recorrente, acredito eu, em todo indivíduo propenso à fantasias. O tédio é a dor do potencial não utilizado; é uma falta de entrosamento das maravilhas que podemos oferecer à humanidade e vice-versa. Geralmente a segunda sentença é mais frequente se você é pobre. No sentido financeiro da coisa.
A presente invenção, o tédio, é um mecanismo para você repensar o seu relacionamento profundo com o mundo.
O tédio é dinâmico. Algumas pessoas podem comparar a dor de entrar em uma fila como a mesma dor de testículos presos em um moedor de carne em uma metáfora agênera.
O tédio não é externo; é como você assimila a realidade. O tédio é orgânico. É uma crise de propósito. E geralmente evitamos situações em que haja alguma espécie de crise. Ou qualquer situação que não venha a objetivar a maximização do seu rendimento reprodutivo total.
É um london system. É uma slav defense.
Meu primeiro tipo de ratazana tem uma mentalidade impulsiva e procura continuamente novas experiências onde o mundo não é o suficiente. Skydiving emocional. A ratoeira é cronicamente pouco estimulante. Alimentar o monstro da cognição é mandatório.
O segundo tipo tem o problema oposto: o mundo é um lugar empanturrado de medo em uma zona de infarto. E chamam isso de doença social quando na verdade só é outro nome para fome. Outro nome para um jogo de soma zero. Ratazanas superestimuladas e superalimentadas de infinitas opções de entretenimento e moralmente desencorajadas em uma sopa de déficit de atenção.
Sabemos que o tempo é inóspito, insípido, estéril. Até mesmo a água cristaliza tem um tom azulado quando vista em sobreposição em um buraco no gelo do ártico. O tempo: não. Atomicamente incolor. O fato é que se você não é uma ratazana de alto desempenho não fantasie sobre onde gastar seu precioso tempo. Pensar sobre isto é mais prejudicial do que a coisa em si.
Quando você encontrar um escritor que realmente está dizendo algo diretamente para você, leia tudo o que ele escreveu e você terá mais conhecimento e profundidade de entendimento com isso do que ler uma frasezinha aqui e uma paráfrase mal feita acolá. Depois, procure pessoas que influenciaram esse escritor, ou aquelas que eram relacionadas a ele e seu habitat e tudo se construirá de uma maneira quase que orgânica; o que é realmente algo além do entendimento.
Durante a jornada da plenitude humana, para pisar no caminho, devemos começar a construir nossas forças internas de jugo de caráter básicas e correções da personalidade. De cortes de arestas. Limitar a existência ao fluxo da matéria e devoto aos bens gera angústia e frestas, rachaduras, e anseio por camadas mais sutis. Não estou negando os ombros de gigantes ou as maravilhas da tecnologia que Prometeu trouxe ao seu computador. São as inclinações básicas à virtù, autoaprendizagem, disciplina, energia, concentração. Tudo isso, o nosso amigo booleano tem. A verdadeira virtù: não.
Não há mercados seguros ou profissões imbatíveis. Tecnologias infalíveis. Não há gameshark envolto em trapaças. Todos nós precisamos começar a pensar em termos de adaptação primitiva. Fluir como profissional é uma mentalidade de estado de ser. Lutei contra o Stockfish com todas as minhas forças e foi como esmurrar uma parede. Uma parede infecciosa. Esmurro como um amador. Adio a ação de aprender em um egoísmo que valoriza a autoindulgência. Se estamos lutando com medo e nos sabotando, qual a chance de vitória? Um amador em um mundo profissional. O profissional patrola qualquer fator desfavorável. Não há dia ruim. Não há vento noroeste. Não há calafrio antes de subir ao palco ou perna bambu antes da final. É a sua essência se manifestando. É sua capacidade de ser um construtor entre o divino e o terreno e de entender que se deve ser o que se nasceu para ser.
A vida é algo extremamente estático e artificial. Anti-autônoma. Resista a ela. Isto criará felicidade. Não deixe a realidade ser realidade. Domine o fluxo anômalo e não o deixe fluir da maneira que quiser.
Teus desejos e aspirações, exigências e satisfações nunca serão realizados. Não se contente como as coisas são. Se perceber que algo te falta, nada é teu.
Não é que a razão do Dilúvio não exista mais, como se a maldade da geração do Dilúvio fosse maior do que a de qualquer geração subsequente. A humanidade após o dilúvio não é diferente; o Dilúvio não melhorou o homem. Se a causa do Dilúvio fosse a maldade humana, o homem precisaria de um dilúvio diário.
A história do Dilúvio é, portanto, uma afirmação da história da criação e, em última análise, não fala do castigo divino, mas da fidelidade de Deus às obras de Suas mãos.
O grande esvaziamento impede a mulher de exercer a maternidade através da realização da sua impotência frente ao ideal utópico do conceito de maternidade. De fato desta situação, a mulher desenvolverá depressão. Outro fator crucial é a não realização de uma feminilidade (constituída) que é compreendida pela mulher como um desinvestimento. A barreira à maternidade pode significar um desabono da filha que não quer se sobrepujar a uma mãe abusiva com raízes narcisistas. No entanto, a maternidade pode significar uma redenção onde a filha supera e toma vantagem sobre a mãe abusiva. Não realizando essa vantagem, a mulher desenvolverá depressão.