André Anlub
Sonhei com o Tibet! E pra quebrar o tabu, sem quebrar a tíbia, vou tocar tuba dentro da taba e deitado em uma tumba.
Meus versos são libertos. Não há musa, nem mordaça, nem há um alvo que se faça. Às vezes eles voam, são de quem os pega, são de quem os abraça.
Em paz abro um gigantesco sorriso e, nada indeciso, festejo. Meu desejo não é conciso e no benfazejo busco o breve beijo.
O amor é intrínseco no ser mais brioso. Meticuloso com a mais esplendida jornada. Eleva as nuvens, voando baixo, o ser vistoso. Sempre o amparo da sensação resignada.
O amor o fez de servo, a mercê do seu regalo, diluiu-se em seu cerne, atravessou o fino gargalo. Qualquer ante desafeto, agora é reto, sombra e estalo.
O coração já nasce com dono... não, não é quem o carrega, é alguém que aquece suas veias e artérias. E nesse fluxo quente e louco da vida, bate como um pequenino tambor, tendo como maestro o amor.
O lado bom da vida é fazer o que gosta. Não pingar colírio em olhos alheios. Viver pra ser invejado é tiro no pé. É egoísmo com a própria alegria, é fazer com a falsidade parceria, é ser Zé Ruela, Zé Mané.
O mar me ganha assim: de jeito, de repente, de encanto.
E mesmo eu envelhecendo e aos poucos ficando mais longe, o amor e o respeito só aumentam. É o mesmo que acontece em relação a vida.
O sol está sempre penteado, perfumado, bem vestido... também muito cortês, fotogênico e amigo.
Ao se pôr, diz: “Jusqu'à demain, bonne nuit!”
O sol, por detrás dos negrumes, ilumina as colinas mais altas... Justamente onde o amor não faz falta.
Quem ama às vezes sofre, pois, arromba-se o cofre dos anseios, e alimentando-se nos seios que repousa, justifica o fim, no prazer dos meios.
Saiu a lista dos apaixonados do ano. Nem sicrano, nem fulano, meu nome estava lá. Fiz o bê-á-bá certinho, o arroz com feijão, rezei conforme a cartilha e para não perder-me na trilha, segui cada pedaço de pão.
Talvez ninguém saiba, talvez nunca saibamos, talvez hão de saber. Mas nesse ínterim sigo dentro do arcano, amando e sendo amado sem sequer saber o porquê.
Tenho alma em aquarela... alma fundida, misturada, afável e zen. Alma branca, negra, amarela... às vezes com tons de cinza, mas não só cinquenta! São pra lá de cem.
Tenho um caso extraconjugal com o Outono! Mas não contem pro verão, ele esquenta à toa, e é deveras ciumento.
Verto os versos na vértebra da poesia, até vê-la envergar ao máximo. Faço do meu jeito: mergulho, entrego-me, sonho. Os olhos se encharcam, a emoção fica ao avesso, faço o meu leito.
Voo entre a terra e o céu, o sonho que crio na escrita. Lua que derramam no papel, sol de desbanca na tinta.
Invadi o campo inimigo, fui render e ser rendido, sem a menor cerimonia, sem medo do sentimento, sem convite, sem umbigo. As veias não mais enferrujam, o óleo quente e doce do sangue passeia, dando alimento ao corpo, dando luz à vida e adoçando a alma.