André Anacoreta
Vês a água, a terra, os frutos da terra, a imensidão do cosmos?
Pois isso tudo e também as insignificâncias da vida é deus. E como me admiro com a indiferença divina!
Quando morre um sábio, mesmo que em toda sua vida não tenha lido um livro sequer, morre com ele toda uma biblioteca.
LIVRO BOM É COMO ARCHOTE
Ignore um bom livro e estará ignorando uma grande alma; que possuindo a seleta qualidade de encontrar diamantes, ainda é capaz de transformá-los em joia, que brilha no virar de cada página. Porém, não é de todos ver o brilho, como não é de todos encontrar diamantes. É preciso que haja um diálogo de consciências. Não importa que o escritor, o criador não esteja mais no palco dos seres animados, jaz em seus escritos a vida pulsante do pensamento, o reboliço das ideias; acendidas e reacendidas de tempos em tempos, pela fagulha do descontentamento.
Na treva do mundo, o livro é uma tocha que ilumina a escuridão.
Não basta ler um livro.Temos que mastigá-lo, triturá-lo; palavra por palavra, pensamento por pensamento.Como um miserável que não come há dias, de modo a lamber até os dedos.
Muitas vezes é mais agradável ouvir as mentiras interessantes de alguém criativo, do que testemunhos reais de situações medíocres. Tais testemunhos conseguem, no máximo,nos fazer notar que embora tenhamos ouvidos, nem sempre é preciso usá-los.
As pessoas que se ocupam da vida das outras pessoas, fazem isso porque são incapazes de se ocuparem, elas mesmas, de suas próprias vidas. Não encontrando nada em suas cabeças que seja digno de atenção,saem por ai bisbilhotando os detritos pessoais alheios para não morrerem de tédio.
Se eu pensasse com o coração, diriam que tenho um grande coração; mas como penso com o cérebro, dizem que sou louco.
A crença de que o mundo venha a se acabar repentinamente, sem uma causa aparente, é derivada de um modo de vida regido pela urgência e pelo medo.Onde a previdência do futuro é mais importante que a vivencia do presente. A ideia do "fim do mundo" é consoladora, não se morrerá sozinho, todos terão o fim da existência no mesmo momento. Contudo, enquanto o mito do fim do mundo continua sendo apenas uma sombra, um fantasma, nos esforçamos em cavar as covas da estupidez.
Os grandes escritores raramente têm o merecido reconhecimento; por ora serem incompreendidos, ora ignorados pelos impotentes do gosto. Isso não quer dizer, jamais, que são os escritores herméticos demais ou demasiadamente vagos. Quer dizer, isto sim, que o público é ignorante e ingênuo. Educado a comer toneladas de migalhas como se fosse banquete.
O crente é como a criança que não brinca de amarelinha por medo de cair no inferno e ser zombado pelos coleguinhas. É como a criança que leva bronca do pai e vai chorar no colo da mãe, sua santa protetora. O crente é uma criança mesmo, e como toda criança, ele acredita que um dia a fantasia mais absurda tornar-se-á real.
No necrotério um corpo é somente um corpo. Contudo o que se extingui no corpo sem vida não é o que chamam de alma, mas a capacidade do corpo em ser também uma obra de arte ambulante, uma máquina orgânica que produz significados.
O artista está diante do mundo como que diante de uma bomba relógio. Porém não para desativá-la, mas para cortar os fios indevidos e fazer parte da explosão. Por isso que o artista é temido e odiado por aqueles que querem, a qualquer custo, impedir o vulto do caos.
Pouco me vale saber como. O que faz a cabeça girar na órbita do pensamento - voando na velocidade da dúvida - é tentar descobrir porque.
Quando o rico sofre de burrice, não há dinheiro que consiga esconder os efeitos colaterais. De que vale perfumar um gambá?