Anderson Beowulf
O Psicólogo.
-Você sabe quem você é?
-Não, eu não sei.
-Desde quando?
-Desde que me perguntei quem eu sou.
-Você tem uma crise existencial.
-Não saber quem eu sou me faz ser quem eu não sou?
-Certamente sim.
-E como eu posso saber quem eu me tornei não sendo eu?
-Um estranho pra si mesmo, você se criou. E é você quem tem que se descobrir.
-E se eu me descobrir e acabar percebendo que eu não sou quem eu queria ser?
-E quem você quer ser?
-Um estranho para mim mesmo.
-Você já é.
-Então eu não tenho uma crise existencial se eu já sou quem gostaria de ser.
-Você é feliz sendo quem você é?
-Seria se eu não fosse tão complicado. A minha felicidade vem em pequenas doses, não consigo me embriagar dela por muito tempo.
-E como você se sente agora?
-Nem triste, nem feliz. Apenas um vazio que me permite tê-lo em si todos os sentimentos do mundo, mas nenhum consegue preenchê-lo por completo.
-Quando foi a ultima vez que você sentiu que era feliz?
-Minutos antes de perceber que eu sou a felicidade das pessoas, mas elas não são a minha.
-Não se sente feliz vendo alguém feliz por você?
-Sinto pena. Pois sem perceber eu a estou enganando. Mas continuo me mostrando feliz só para não magoá-las. Parece que eu retenho a tristeza das pessoas para mim e quando elas vão embora, sou eu quem fica semeando o que roubei delas.
-Então você sente uma certa compaixão pelas pessoas, você não está tão vazio assim.
-Eu não estou vazio, são os meus sentimentos que estão pequenos.
-Do que você tem medo?
-De quase tudo, tenho até medo de sentir medo.
-Qual o maior dos teus medos?
-A morte.
-Por que?
-Porque a ideia de ser imortal me apavora, e a ideia de morrer eternamente me desespera.
-Você acredita em vida após a morte?
-Acredito em morte após a vida.
-Se você morresse hoje, do que se orgulharia?
-De nunca ter estado vivo.
-Qual o seu sonho?
-Domar meus fantasmas. Aceitar a vida como ela é. Entender o sentido da morte, e porque ela é tão cruel. Saber quem eu sou, do que gosto e de quem gosto. E por que amar é tão necessário se sempre é tão sofrido. Por que estamos vivos? Qual a função da nossa existência se somos tão individuais. Por que eu gosto tanto das pessoas e ao mesmo tempo me prejudico tanto, gosto de sofrer em benefícios alheios? Por que a tristeza está sempre pronta para me acolher? Por que o céu é tão infinito e nós somos tão limitados? Ele não foi feito para nós? Mas e você, sabe quem você é?
-Não, eu também não sei.
Quem não aceita os defeitos de alguém é porque ainda não aprendeu a lidar com os próprios. Quando todo mundo aprender a enxergar seus próprios defeitos, vão ganhar como recompensa o saber de que ninguém precisa ser julgado pelos seus defeitos, defeitos que até ele mesmo, soube aceitar em si.