Ana Clara Cabral

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A SEDUTORA

E m 1850 Flaubert escreveu
M emórias de uma mulher
M uita perseguição e censura
A sua notável criação lhe rendeu

B atalhas judiciais foram travadas
O Tribunal, a absolvição, concedeu
V ista como uma ofensa à moral
A sociedade e o clero apontou
R ealismo, novo estilo de época
Y o mal do século encerrou.

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TURBULÊNCIA

Não há nada mais angustiante
Uma verdadeira história de terror,
A frase avisando que a decolagem chegou

Máscaras de oxigênio cairão à sua frente
Avisa a comissária com voz rouca e animada
Gestos, sinais e mensagens, tudo repetitivo
Parece até narrar algo muito divertido

Centenas de idéias passam por minha cabeça
Penso na família e nos amigos que na terra deixei
Atar cintos de segurança, para que isso adianta?
Se cairmos, iremos nós, o cinto e até a esperança.

Ao abrir os olhos, me deparo com outra agonia
Essa aeronave possui assentos flutuantes, diz o aviso
Em meio à angústia, oro e chamo por Deus
E fico a me perguntar se hoje é o meu dia

Quando consigo esquecer a força da gravidade
Uma voz masculina e irritante faz questão de dizer
Que passaremos por uma área de turbulência
São coisas que eu não precisava saber

Quando tudo parece perdido a mesma voz anuncia
Aquela frase estranha de que o pouso foi autorizado
Ora, e se não fosse? Fico logo a me perguntar
E alguém tem o direito de me impedir de chegar?

Pés e mãos suados e o coração disparado
Portas traseiras e dianteiras se abrem
Um gesto convidativo que parece expressar
Não será dessa vez que você irá nos deixar.

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DESABAFO

P’ra que tanta violência
Tanta arma e corrupção
Tanto ódio e inveja
O homem tem em seu coração

O tempo na terra é tão curto
Não vale a pena tal desperdício
Mas a humanidade nem se dá conta
Que precisamos mais que isso

Necessitamos de amor
Paz, alegria e felicidade
Exterminar a ganância
Acabar com a desigualdade

“Uma palhoça, no canto da serra”
Poderia ser minha guarida
Como aquela, de Zé Geraldo
E sua “meiga senhorita”

Lá, o canto dos pássaros
É a mais bela das canções
E o desabrochar das flores
Acontece em todas as estações

Mas, tudo isso são devaneios
Esta é a grande verdade
“Dando milho aos pombos”
É minha triste realidade.

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DOIS

Não nascemos para viver sozinhos
Precisamos de calor
Precisamos de amor

Solidão
Não vale a pena
Não permita
Não atraia

Divida sua cama
Seus sonhos
Seu corpo
Sua alma

O Amor
Deixe entrar
Deixe repousar
Ele só te faz bem.

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O FUNDO DO POÇO

Poeta e compositor
Têm muito em comum
Expressam sentimentos
Celebram a beleza da vida
Mas também conhecem
O fundo do poço

Das suas criações
As que expressam tristeza
São as mais apreciadas
Isso quer dizer
Que todos nós conhecemos
O fundo do poço.

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PALAVRAS AO VENTO

Não leio,
Não creio.
Mentiras,
Não me conte.
Minha inteligência,
Não subestime.

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PERFEITO AMOR

Beijo gostoso
Pele cheirosa
Corpo que aquece
Abraço que estremece
Braços que protegem
Corpos que se encaixam
Espírito que acalma
Perfeito amor.

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É VOCÊ

A linda melodia
Lindos arranjos musicais
Voz doce, suave
Ninguém sabe
Você sabe...

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VOCÊ

Você não é romântico
Mas sabe ser carinhoso e atencioso
Não é poeta
Mas me conforta com sábias palavras

Busco no brilho dos seus olhos
A luz que ilumina o meu caminho
E no aconchego dos seus braços
Eu encontro a minha paz

Quando nos damos as mãos
Sinto transcender a matéria
E neste momento, juntos,
Percebo o quanto te amo!

FELIZ ANIVERSÁRIO

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O CORAÇÃO TEM VOZ

Por diversas vezes me peguei fazendo esse questionamento.
É incrível como a convivência saudável com o ser humano requer muita sabedoria e eu me incluo nisso, considerando os dois lados da relação.
O ego é um complicador no relacionamento entre os pares, dificultando a busca ao conhecimento.
Em locais propícios ao exercício do pensamento, curiosamente, a vaidade é mais acentuada.
A ostentação da suposta inteligência, conhecimento acumulado, melhor compreensão e ausência de fracasso nos afasta, consideravelmente, do objetivo.
É necessário um recolhimento para reflexão quando tal fato ocorre.
Em meio a tantos questionamentos e exercícios mentais tem-se a conclusão mais acertada: Necessitamos ouvir a voz do coração! Ela tem o poder de fazer as máscaras caírem. Seja a máscara da fraqueza, seja a máscara da arrogância.
A dor do processo de retirada da máscara é passageira, mas a sensação de leveza é eterna. A leveza de não saber e a necessidade de aprender; a leveza de não ser e a necessidade da conquista.
Quando ouvimos o coração conseguimos atingir o mais alto grau de maturidade.
É dentro desse contexto que repousa toda a compreensão profundada da máxima filosófica conhecida por todos como “só sei que nada sei”.
Ocorre que nem todos estão dispostos a aceitar ou a pagar o preço do referido “sacrifício”, mas aqueles que conseguem libertam-se do fardo de tentarem ser o que não são permitindo o encontro leve e saudável com a intelectualidade.

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Agir com indiferença e seguir em frente, pode ser libertador.

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E o desabrochar das flores acontece em todas as estações.

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Toda mulher tem o dom da liberdade, sempre buscando libertar a alma quando aprisionada.
A mulher sangra, mas tem o poder divino da cicatrização.
Toda mulher tem um pouco da Clarice (Lispector) dentro de si: forte, intensa, determinada, estranha, misteriosa e com muitas, muitas epifanias...

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Sobre o poder...
O poder como sinônimo de força aliado ao ego corrompe e escraviza.
Feliz daquele que em seu leito de morte tenha tempo, ao menos, para pedir que deixem suas mãos para fora do caixão, como fizera Alexandre, o grande.

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As pedras atiradas em sonhos alheios, atingem o coração, causam dores e transformam-se em lágrimas a escorrerem pela face. Neste caso, recomenda-se tratamento espiritual a fim de livrar-se de carmas e curar os espinhos da alma, de quem se presta a tais desserviços.

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Com os anos a gente vai se acostumando com a ideia da morte. Difícil mesmo é lidar com essa tal despedida!

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Eu vejo poesia no cerrado.
Tem dias que a gente sente; no outro, a gente escreve.
Eu vejo verde no cerrado.
Tem dias que é silêncio; no outro, só paisagem.
Eu vejo sol no cerrado.
Tem dias que a gente aquece; no outro,
é sol que arde.
Eu vejo flores no cerrado.
Tem dias que vira espinho e espeta; no outro, apenas FLORescem.
Eu vejo vento no cerrado.
Tem dias que ele sopra; no outro, só resseca.
Eu vejo poesia no cerrado.
Tem dias que é só poema; no outro, é só poeta.

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Poesia, uma forma de gritar em silêncio.

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Ser e Existir melhora nossa qualidade de vida e permite o encontro com nossa essência.

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A necessidade de ser aceito decorre da ausência de contemplação interna e de autoaceitação.

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Com o tempo descobrimos que o melhor lugar do mundo é aquele em que somos, efetivamente, aceitos e recebidos com um sorriso sincero.

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Se a vida é feita de momentos vamos começar com um sorriso na tentativa de eternizá-los e tratar com leveza o que não podemos modificar, colhendo paz para os nossos dias.

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Os textos que eu escrevi e não publiquei se perderam no tempo. Eles traziam em sua essência uma fase da vida de quem, exalando ansiedade e insatisfação, desconhecia a existência do caminho para dentro de si.

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Não se esforce para ser boazinha. Seja apenas justa!

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Não é sobre perder o fôlego.
É sobre ganhar novos ares, quando a sua vida mais precisa de oxigênio.

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