Amaro Flecha
↠ Esquecidiços ↞
Induzem-se conhecidos
entre encontros perdidos,
ter os dons, empobrecidos
propósitos adormecidos.
Sentimentos omitidos
ora antes divididos,
aos inúteis favorecidos
contratempos enrijecidos.
Vulcões enfurecidos,
furacões ensandecidos,
dilúvios enraivecidos…
relâmpagos distorcidos
de trovões ensurdecidos
faísquem aos benditos
que não sejam esquecidos.
↠ Via láctea ↞
Pó inválido
poeira reduzida,
do espaço galáctico
atmosfera produzida.
Hábitos sem nexo
ideia fora do contexto…
busca-se um eixo,
livrar-se ao reflexo
deste universo complexo.
Ohh Sol, grande estrela
o vigor do calor produz,
uma concepção se revela
sensível a sua fonte de luz.
↠ Outrem ego ↞
Almejas um machado
sair do concreto, entrar no abstrato,
criar o cabo como cajado
gerar a lâmina, o corte afiado,
retalhar a lembrança daquele passado…
o qual insiste estar ao teu lado,
suprimes a memória do autorretrato.
↠ Modesta Poesia ↞
Poesia,
lugar onde a hipocrisia
roga anistia
transforma as mentiras,
em sublimes fantasias
resistência e melancolia,
metamorfoseiam-se em magias
tristeza e alegria,
encetam em sintonia.
Vulgariza-a por nenhum tostão,
somente expor emoção,
carências de afirmação,
recitar-se em poesia
↠ Desatino ↞
Porque seres tão crasso,
induz ao grande erro
prestes à estupidez?
Retroages um passo,
dar pena ao desterro
punir tua honradez?
Consertar é escasso,
condenar faz aperro
da óbvia insensatez?
Eis o dado tormento,
rebelde pensamento
de uma vã lucidez.
↠ Primitivos ↞
…entes primitivos
bandeiam fragmentos
espicaçam pensativos
submersos desconhecidos
num estado produtivo
defendem argumentos
com tom dubitativo
contrabando de discernimentos
do fenômeno evolutivo…
↠ Expecta ↞
Espera,
chegar a clientela,
a vinda dele ou dela,
o escurecer da candela,
entre o trampo e o lar: a escapadela.
*
Em ter:
café novo no amanhecer,
chá ao entardecer,
insaliva até a primeira estrela aparecer,
beber o vinho do anoitecer…
…e, enfim, adormecer.
*
Espera,
o tempo recupera
a paciência considera,
a essência de quem não desespera
da neura que se supera.
*
Sair o resultado,
do Sol sepultado
os desonrados e aclamados,
antes, aguardados,
de um ciclo terminado.
Silêncio impossível do pirilampo voar
Som descartável o impede a escutar,
Criação imensurável, incapaz de aspirar
Quão vulnerável, insectum iluminar.
Ahh Santo Antônio!
Fuja dessa camada de ozônio
Desperte o inconsciente de um neurônio,
Para que não aja no impulso do feromônio
Encoraje-o para o valor do matrimônio,
Até o fim do outono…
↠ Mexerico ↞
.
Conte-nos uma estória
que faça dar uma risada,
ou uma trajetória
que fujas de uma grande cilada.
.
Conte-nos uma mentira,
daquelas bem descabidas
com ares que nunca existira,
a perspicácia de pessoas sabidas.
.
Conte-nos uma memória
que mude a realidade,
um fato que une a história
a futura oportunidade.
.
Então, conte-nos uma verdade
que torne o humano melhor,
ou justifica a esta sociedade
ao mundo, lições de valor.
↠ Divagações ↞
1
Por mais que um sentimento o ilude,
o que realmente importa, é a saúde!
Emoção remedia por onde,
mas com os tratamentos, nem se discute.
2
Não toleres que o coração guarde rancor,
a dor serás teu prisioneiro,
a força da fé, estejas no lugar em que for
salve o amor, do cativeiro.
3
Diploma não representa inteligência.
Talvez, amplia a consciência,
aspire sabedoria e resiliência
e sociedade sem arrogância e violência.
4
O quão é importante a liberdade,
Vale além do dinheiro e prosperidade,
Sinta o Sol, como a maior felicidade.
5
Expectativa, sejais vindoura realidade,
a paz no caminho e na oportunidade,
destas pequenas rimas, para a posteridade.
↠ Fado ↞
Vida que não esboça
o arado da roça,
ou resíduos da choça
que há na carroça.
.
Chicote no lombo
rainha sem trono,
o peso é o meu tombo
crueldade do dono.
.
A mula e a sentença
maus tratos e indiferença
sobrecarga da descrença,
cenoura apenas querença
da sorte obscena.
.
Órfã da essência livre,
deste mundo moderno
e que ainda insiste,
do coche, o teu terno.
↠ Maio ↞
Tempo frio.
Encoberta o brio,
da longa noite.
Lua sem estrelas,
quase sombrio.
Finda maio,
o calor faz a rota ao contrário.
O vento assovia,
Melodia da seca e cicia:
Mistério!
O falso sério,
no monólogo do eremitério.
↠ Delírio ↞
.
Sonho com uma fantasia
fruto da imaginação,
a razão diz ser armadilha
ir além da (des)ilusão.
.
Sonho despreocupado,
alucina, brilha e voa.
No limbo menosprezado,
caso tomba, se esconda!
.
Sonho é perseverança:
devaneio ou esperança,
fugitivo da adversidade,
no mundo de iniquidade.
↠ Enigma ↞
*
Na caixa de sentimentos
guarda-se um enigma,
razão não tem conhecimento
a vivência descobrirá tal estigma.
*
Interminável deserto,
rumo solitário, incerto…
oásis ímpar do “eu” existencial,
sacia em frescor transcendental.
*
Segredo…
pérola em esquecimento,
Ser desconhecido do medo
contido no pensamento.
↠Catopês ↞
.
Dança, ritmo, até mesmo um batuque,
Conto um folclore de Minas Gerais, antes que eu caduque.
Há 170 anos, Marujos, Cabloquinhos e Catopês
Os festeiros cantam em frente a minha casa de sapê.
.
Em Montes Claros, no mês de agosto
O povo humilde toma o seu posto,
De reis e rainhas, príncipes e princesas, imperador e imperatrizes
E em uma mesma folia, a origem das suas raízes.
.
Homenageiam o Divino, São Benedito e Nossa Senhora
Os Santos atendem as preces, sem demora,
Cada fiel com sua roupa: bonitos, alegres, porém pobres
Com chinelas ou descalços, porque não tem cobre.
.
Carregam na voz a suas maiores riquezas: a sua tradição,
A crença na religião, o sacrossanto de devoção,
Ser escola e ter a história como convicção,
E manter esta cerimônia sem fim, no coração.
Que seja ad aeternum a cultura deste sertão!
↠ Corpos leves ↞
.
Quem me dera,
ser uma borboleta!
Banhar no pólen da gérbera
ou procurar néctar na violeta.
.
Ser uma mariposa,
abandona o casulo na flor-de-lis
ex lagarta pomposa,
em devorar a folha da flor de anis.
.
Imaginação povoa,
libélula que sobrevoa
e, aterrissa na papoula.
↠ Mãe Cecília ↞
.
À minha mãezinha,
Ama-me de maneira infinita
Tu és minha Santinha,
Do coração puro e bonita.
.
Santa compreensiva,
Oriunda de vida corrida
Herdou fé e sabedoria,
Da Nossa Senhora querida!
.
Com a força de tua palavra,
Cecília é como a canção que se lavra:
Serenidade, felicidade e salvação,
E o poder da tua benção.