Amanda Agra Azevedo
"Meus versos são mudos, meus caros, percebem? São mudos tais como o choro ao chuveiro de beltrano, ou da decepção engolida a seco de ciclano. Tudo terminará em uma longa queimação. Somos todos seres gritantes. Somos todos seres mudos".
"Afasta de mim este cálice, despeja no chão todo vinho. Desfere na bala o tom grito e recolhe a lágrima que cai. Girando os ponteiros alma, sussurra ao ouvido a calma daquele que viria e passou. No dia da uva, colheita; sorri pro menino que espreita, a dor de perder o seu pai".
SE
Se você quisesse, te amaria para sempre. Te amaria mesmo que me decepassem os membros, te amaria na fila do banco e no banco dos réus. Te amaria pelo simples prazer de não entender o por quê de te amar. Te amaria de graça, na graça de não saber amar. Se você quisesse eu te amaria te odiando, te amaria sobre panos e te amaria no sofá.
Se você quisesse eu te amaria
Se você quisesse eu
Se você quisesse
Se
As dores de seu passado devem ser tratadas como cinzas. Após queimadas e recolhidas, é aconselhável que se jogue ao vento.
E que só reste a lembrança, o cheiro, e a cor.
"É tudo muito cinza, é tudo muito pétreo. Muito escuro, muito obtuso, muito concreto. É pouca vida, pouca cor, pouco reflexo. Vivemos presos em um passado etéreo, com vidas prolixas de um futuro sussurro. Somos almas que se esbarram e não se olham, presas na patologia do cotidiano esmagador. Sem pausas para o café, sem abraços de fim de tarde. Não há tempo, não há interesse. É embriagador. Somos milhares de almas solitárias que se esbarram e não se olham…"
"Viver é chato, frustante e tedioso; e sim, algumas vezes você acaba pensando em desistir de tudo. Mas.. existem momentos, pequenos momentos de felicidade que acontecem e acabam te fazendo submergir à superfície novamente, te resgatando. Então você continua… Por acreditar e manter a esperança, de que pequenos momentos de felicidade como este, voltem a se repetir".
"Fui muitas coisas nesses anos de vida. Tive medo de crescer até o tempo fazer isso por si só. A partir daí notei que eu era maior que meu medo; que este na verdade é apenas o momento anterior do SER. Tenho minha muralha com armadas em pontos estratégicos. Ando em saltos, mais cética, mais racional e mais feliz. Cometo menos erros. Meu coração aprendeu a entrar em consenso com meu cérebro e isso estabilizou minha pressão. Ele, antes na garganta repousa na minha caixa toráxica apenas fazendo seu papel principal: bombear sangue. Talvez um dia ele permita alguém novamente adentrá-lo. Não qualquer um, O Alguém. Sabe de uma coisa? Estou novamente em branco".
Silencio por muitas vezes para conter as lágrimas. Então seguro a respiração demoradamente enquanto mentalizo que tudo está bem, mesmo não estando. É uma fuga sim, mas também é uma espécie de mantra pessoal. Ora; se eu não vejo em meu rosto a expressão de dor, talvez um dia eu enfim acredite que não a sinto e tudo se resolva. Vou empurrando com a barriga as frases de revolta, tristeza, ou de sentimentos aleatórios que pendulam aqui dentro como um outdoor iluminado chamando atenção para mim. Acho que eu cansei de falar e cansei de sentir isso. É muito desconfortável respirar pesado, dói os pulmões e consomem a alma. Resolvi juntar tudo e devolver ao remetente, mas não há viabilidade do meu correio interior pra fazer essa entrega. Por fim, juntei todas as dores - fluidas ou não - e guardei em um baú no fundo do meu guarda-roupa coração. Está por transbordar, eu sei. Mas enquanto ele não explode, eu vou sorrindo para o mundo.
"Porque quando eu escrevo, meu dilemas passam a ser apenas prosa. E eu os leio, indignada. E digo para mim mesma em tom de censura: Deixe de ser dramática, querida".
"Desculpe, mas sinceramente, você não consegue me enganar. Não por que seja um péssimo mentiroso, muito pelo contrário, você mente muito bem, mas você tem dois inimigos naturais em sua própria face. Seus olhos são inimigos da sua boca. E algumas vezes, essa mesma, inimiga do seu cérebro. Nada mais correto do que colocar um anteposto entre eles, -digo, entre olhos e boca- assim, um não discute diretamente com o outro. Sua boca também lhe trai, então você não gosta de usá-la em ocasiões especialmente delicadas. Daí suas crises de silêncio. Mas tudo bem, tenho o manual do seu olhar. Janelas abertas, diria eu. Arranha-céus. Então quando eu lhe pergunto sobre algo e você me nega, pupilas se dilatam e mesmo aquela expressão séria se desfaz com um gigantesco “É mentira” em seu olhar. Mas tudo bem, vou continuar acreditando em sua boca, até quando você aceitar o fato da traição do seu olhar e os dois entrarem em consenso".
"Sabe o que me dá mais felicidade? Quando estou com ele, você simplesmente não existe. Minto. Existe sim, mas em outro lugar, outra época; bem longe de mim. E não dói. Deus, não dói. Não dói vê-lo em outros braços, com outras amantes. Não dói vê-lo feliz sem mim. É como uma cicatriz. Existe a marca, mas não o corte".
"Sinceramente … Escrevo pra não sucumbir. Então recorro a uma caneta e papel pra não enlouquecer. E vou assumindo desde já; sou uma orgulhosa. Faço isso pra cuspir o que fica rodopiando sem rumo dentro da minha cabeça durante dias a fios ou expelir a minha maneira as lágrimas que me nego a derramar. Exteriorizo em palavras soltas todas as minhas ojerizas na grande vontade de que estas se percam nas minhas estantes empoeiradas e tragam consigo presas ao ponto final o que as causou. Uma salva de palmas ao melhor amigo do homem".
"Sabe o que sou? Sou o barulho da chuva. A luz no fim do túnel. Sou o relógio as três da manhã. A água da chaleira a resfolegar. Sou o trânsito caótico e congestionado. O jeans usado jogado no fundo do armário. Sou a maré mansa jogando espuma na areia. Sou o orvalho da manhã sobre a folhagem das plantas, a lua cheia escondida entre nuvens durante a chuva. Sou o verão brasileiro e o inverno europeu. Sou a terra que eu piso e o ar que eu respiro. Sou a amante fiel. Sou o esmalte descascando sobre as unhas. Sou um coração. Sou mais um na fila de espera. Sou eu. Sou você. Sou a vida".
Sabe qual é o fato mais chato e irreversível da vida? É que ela é feita de etapas. E cada uma delas tem seu fim. Alguns desses são celebrados, outros repugnados, mas na maioria das vezes os fins simplesmente acontecem… E justificam os meios.