Allan Percy
Para os pensadores orientais, é imprescindível “desaprender”, livrar-se de muitos conhecimentos adquiridos em forma de preconceitos e lugares-comuns, para olhar a realidade sem os filtros que a distorcem.
Esta situação de desesperança – quando perdemos o referencial de onde viemos e tampouco vemos o final – é o que nos assalta nos momentos de crise e dificuldades.
Quando nos desesperamos, sentimo-nos vazios, sem ideias nem planos para seguir adiante. A esperança, por outro lado, logo arranja soluções para a situação em que nos encontramos.
Mas podemos sentir amor por uma pessoa sem nos apegarmos a ela. Amar alguém não significa que a pessoa amada nos pertença e que podem tirá-la de nós.
Assim como nos apegamos à pessoa amada, também acontece com os bens materiais. Quando nos apegamos a objetos, temos medo de perdê-los. Não somos livres, tememos, sofremos.
Se conseguirmos nos livrar dos apegos, se formos capazes de viver sem nos agarrarmos a nada, deixaremos de sentir medo e o ciúme desaparecerá. Deixaremos de nos preocupar em acumular coisas desnecessárias, trocaremos o verbo “ter” pelo verbo “amar”. Conseguiremos experimentar amor por nosso parceiro sem que ele se sinta numa prisão. Quando nos propusermos a viver assim, deixaremos de ter grades em nosso interior.
Há pessoas que convertem as experiências difíceis em sofrimento, mas há outras que as transformam em aprendizado.
Buda disse em certa ocasião: “A dor é inevitável, o sofrimento é opcional.” Isso significa que a dor sempre estará presente em nossa vida, pois sofremos acidentes, vivemos perdas, decepções… O que muda de uma pessoa para outra é a interpretação que se faz desses acontecimentos.
"A dor é o elemento positivo deste mundo.", escreveu Franz Kafka. A dor positiva de que fala Kafka não é o sofrimento, mas o aprendizado. Aquilo que dói mais profundamente nos mostra o valor da vida e aumenta nossas perspectivas, o que nos faz entendê-la em toda a sua profundidade.
Julgar os outros é outra maneira de nos castigarmos, já que quase todo julgamento nos enche de emoções negativas, como o ressentimento e o desejo de vingança.
"É assim que falam os culpados"(Franz Kafka)
Esta frase pertence ao final do romance "O processo", onde um torturado Josef K. tenta se defender de uma acusação e fala com um religioso em uma igreja vazia: – "Eu não sou culpado" – diz Josef K. – "Como um homem pode ser culpado?" O padre lhe dá razão, mas logo depois acrescenta que “é assim que falam os culpados”, ou seja, por meio da justificação.
Já que a vida que temos pode acabar a qualquer momento, o dia de hoje é um tesouro que não podemos desperdiçar à espera de dias futuros que talvez nunca cheguem.
Como um viajante que, após uma longa espera, finalmente sente que o trem se põe em marcha e deixa para trás tudo de bom ou de mau que viveu, a existência é uma viagem de uma única direção: para a frente.
A única coisa que temos é o trajeto da vida, uma viagem felizmente sem retorno, já que, assim, somos obrigados a tomar decisões corajosas.
Há pessoas que aparentemente têm tudo na vida – saúde, beleza, dinheiro, liberdade – e são infelizes. Isso acontece porque elas fixam a atenção naquilo que lhes falta ou simplesmente não sabem o que querem da vida. Outras, ao contrário, vivem situações penosas, mas são capazes de enxergar um cantinho do jardim onde bate um raio de sol.
A dúvida e a insegurança são apenas o pânico gerado por uma mente fraca. Com um coração firme e uma mente aberta, tudo se torna possível.
Não é incomum que, anos depois de ter cumprido certa etapa da vida, uma pessoa perceba que os amigos permanecem naquela fase e reclamam pelo fato de ela haver mudado. De repente, pessoas que tinham muito em comum já não têm sobre o que conversar, exceto os “velhos tempos”.
Ninguém é mais diferente de outra pessoa do que é de si mesmo nos diversos momentos da trajetória pessoal.
Na realidade, quem age mal está pedindo nossa ajuda. E, na escola da vida, não há ofensas, apenas lições. Então deveríamos agradecer a esses indivíduos a oportunidade que nos dão de sermos melhores e nos tornarmos úteis. Ao ajudar, crescemos espiritualmente junto com a pessoa.
Todos damos o que temos – seja muito ou pouco – segundo nossas possibilidades. Cada um está onde tem de estar e oferece o que pode oferecer. Por isso, não há nada a perdoar. No máximo, podemos ajudar os outros a avançar um pouco em seu caminho para o crescimento pessoal.
Cada pessoa se encontra em um estágio diferente de evolução espiritual, portanto age dentro de suas limitações.