Aline Pérola Rocha
Quando eu não consigo escrever, pego meus fones de ouvido, e ouço uma música bem lenta, ou que tem uma letra que acalma minha alma. Funciona, porque quando letras não me decifram, a música decifra. E aí, eu compreendo o que sinto, quando ninguém sabe, muito menos eu, o que se passa aqui dentro.
Talvez eu seja um caso perdido mesmo, como um daqueles livros no fim da estante. Aqueles com aparência mal cuidada e sujo. Um livro quase intocável e os que temeram, não passaram dos primeiros capítulos. Um livro difícil de se entender que foi obrigado a mudar suas páginas com o tempo e talvez tenha ficado interessante. Talvez eu seja mesmo um daqueles livros que ninguém ousa a olhar, tocar ou esfolhar as páginas sem sentido algum. Sim, sem sentido algum, inútil assim como eu.
A questão é se encontrar. Se perder é mais fácil. A gente se perde aqui, ali e até dentro de si. Mas se encontrar é, totalmente, fora dos planos. A gente sempre pensa que se conhece por completo. Que sabe dos medos, dos anseios, das vontades, das reações, mas sempre existe algo a mais. Sempre tem uma surpresa em nós […] Se deparar consigo, lidar com o que é por dentro, se conhecer, se entender e se encontrar, é uma questão precisa e em parte, única.
Precisando de carinho e compreensão, sei que não é mais nenhuma novidade, a carência já faz parte do meu ser, e isso não é de pouco tempo, sempre fiquei sozinha, sempre fico esperando coisas novas e boas acontecerem, pessoas especiais, mais o que eu ganho? Só fico esperando e por mais que tente mudar as coisas, ou até mesmo agir de um modo inconsequente para chamar atenção, não adianta mesmo, sempre vou ser aquela pessoa invisível nos lugares, aquele ser despercebido que é apenas mais um ocupando espaço, sem ninguém notar, saber como estou me sentindo, querer se aproximar e tentar me entender. Preservo e guardo comigo as boas lembranças, que por mais que tenham passado rápido e tenham durado muito pouco, são lembranças boas, foram momentos que me fizeram mais feliz, que me fizeram acreditar em outro tipo de realidade que até então não sonhava para mim. Sinto que isso também é uma fase, como acontece na vida de todos, na verdade somos seres humanos com os mesmos sentimentos, dores, fracassos, só que uns camuflam muito bem, cada um tem seu modo de agir, a sua intensidade de sentir, acho que é por isso que sempre me deixo cair em momentos escuros, porque tudo que sinto é com intensidade é difícil descrever ou explicar e por mais que tente, sempre vão julgar, e nunca vou conseguir transparecer ao certo o que meu coração está sentindo, as vezes tenho que parar e escutar a mim mesma, para ter a certeza de que tudo isso vai ter um fim, de que momentos, pessoas, lugares estão ai na vida e vão passar, vão se renovar e o que resta apenas e aquela sensação de ter acontecido ou não.