Aline Diedrich
Não quero colecionar inimigos e nem desejar o mal de alguém. Quero apenas guardar bons momentos num baú chamado memória e tirar da minha mente tudo que não me faz bem...
Em volta, os gênios estavam oprimidos. Os diferentes reprimidos. Os iguais, toleráveis, sempre juntos. Os injustos nunca punidos.
Sempre que possível: junte-se aos justos, os que buscam progresso, aos bons. São estes que rasgam os rótulos e movem o mundo.
Gosto de gente que tem fé na vida e se desprende de instituições que se dizem divinas ou qualquer tipo de alienação. Pois a verdadeira fé é algo interior, não materializado. Ela não limita nem condiciona.
Quantos mil degraus?
Cair do telhado e quebrar a perna, jamais impediu que prosseguisse naquela busca insana por um pedaço do céu. Planejava ter uma escada tão alta, apoiada no Everest, para contar com exatidão quantas estrelas habitavam no espaço e tocar o firmamento com a ponta dos dedos.
Desde que nasceu lhe ensinaram a olhar para o alto. Jamais baixar os olhos diante qualquer desafio que a vida colocasse em sua frente. Seu paraíso era ali, o agora, o momento de incerteza e de acreditar em adivinhações tolas do futuro. Foi assim que decidiu escalar as montanhas, pular alguns muros velhos e despintados e colocar seu balanço feito de pneu em meio os prédios da cidade.
Mas por mais que subisse todos os degraus, o firmamento continuava distante. Teve a impressão de que não passava de uma ilusão de óptica, um delírio de consumo impagável, o máximo que seus olhos conseguiam ver. Mas ainda assim era azul. Azul celeste.
Olhou outra vez para o céu.
__ E aí, será que chove?
Perguntou o cara parado ao seu lado, enquanto esperavam o ônibus que estava atrasado como sempre.
Ainda precisava perder o medo de altura.
Vida sem trava língua. Vida para evoluir com os erros, desacertos, desconcertos... Para ser aproveitada. Vida de eterno recomeçar, porque nada melhor que o gosto e o cheiro do novo. Vida para ser rebeldia. Vida para ser bebida. Para ser embriagada e tragada.
Ergui castelos, gastei areia
Cheguei em casa
A meia-noite e meia
De lua cheia
Dancei no asfalto
Roubei as flores que nasceram no planalto
Mas quem foi que disse que eu não tinha intenção de incomodar?
__ Por cargas d’água! O que leva alguém a colecionar balões?
__ São suas cores. Sua leveza. São suas explosões.
Coisas da esquisitinha que tinha um cérebro que batia e um coração que pensava.
Pagar para ter. Pagar para ver. Pagar para ser. Preço justo, injusto e ajustado. O que é que tem valor?
Queria mesmo um mundo de braços abertos para acolher num abraço, virar tudo de ponta cabeça e ser a dona da história toda, porque um capítulo não tinha espaço suficiente para o tamanho e quantidade de suas ideias...
É pela fome, palavra que recusa qualquer argumento. É pelos altos preços dos produtos que consumimos todos os dias. É por um País que não sabe o que fazer com seus jovens que escolhem o caminho da criminalidade. É pelos pais que enterraram seus filhos vítimas da violência, e por aqueles que perderam os filhos para uma verdadeira epidemia do crack. É por leis importantes que são ignoradas. É por aproveitarem um minuto de nossa distração para, na surdina, votarem em injustas propostas de emendas constitucionais que facilitam a corrupção ou de tamanha bestialidade que pode incitar ainda mais a discriminação num suposto “País de Todos”. É por terem feito manobras na tentativa de nos ludibriar. É pelos interessantes movimentos que, separadamente, não foram ouvidos. É por estarmos cansados da impunidade para os que desviam bilhões dos cofres públicos. É por não sabermos onde vão parar os bilhões que saem de nossos bolsos em forma de impostos. É pela mísera parte do peixe que é dada, enquanto se recusam a ensinar o povo a pescar. É pela educação precária. É por um sistema único de saúde que martiriza com suas enormes filas. É pelas pessoas jogadas no chão dos hospitais. É pelo trabalhador pessimamente remunerado. É por serem absurdamente altos os salários daqueles que elegemos. É pelo País ter sido maquiado para turista ver. É para fazer valer a expressão “Ordem e Progresso” que estampa o meio da Bandeira Nacional. É porque desde pequenos cantamos e agora reafirmamos “Verás que um filho teu não foge à luta”. É para que não seja depravado o termo “política”. É pelo fato do governo se dizer perplexo, pois quem esperaria a revolta de um povo tão alegre e festivo? É pelas ideologias que foram esquecidas. É para efetivar a democracia. É por todas as causas.
Sim. É para pedirmos investimentos em educação, saúde, segurança, transporte público e na belíssima e diversificada cultura brasileira. Sim, é para pedirmos honestidade por parte daqueles que escolhemos como nossos representantes.
Não acordamos. Sequer dormimos, porque o berço jamais foi esplêndido. Nossa indignação é que ganhou voz.
Francamente, não sei como serão chamados os manifestos que tiveram como estopim o aumento de 20 centavos no transporte público. Mas desejo que as crianças do futuro possam saber que a luta de 2013 não foi vã.
Desejo também que possamos manter aguçados o nosso senso crítico e participação política.
Que a indignação e o barulho das ruas chegue até as urnas!
O amor é o certo no momento errado, é conhecer os caminhos, vencer as barreiras e escalar as montanhas se preciso for. É liberdade. É apego. É inspiração. É a falta de inspiração. É dança sem som. É ritmo. É música e poesia. É chão firme e areia movediça. É ver a perfeição no imperfeito. É sentir o que não faz sentido. É detalhe e o preencher do vazio. É a tentativa de encontrar todas as definições e, ainda assim, o amor é indefinido.
Não quero qualquer coisa no meu caminho. Quero o melhor. Na vida, surpresas boas não me satisfazem, elas precisam ser magníficas.