Alessandro Lo-Bianco
Acordou antes que fosse tarde demais. Nos locais onde se dizia estar seguro, apenas questionavam se valia à pena saber mais sobre o que já estava à venda.
Quando abriu os olhos virados ao sereno, sentiu que as ilusões mantinham-se reais e guardadas em algum lugar. Bastava apenas acha-las, do contrário, não haveria sentido algum a percepção destes sentimentos.
São momentos em que o tempo deixa de existir. São cotidianos atípicos. São frutas distribuídas gratuitamente em praças públicas
No vilarejo das intenções, o inesperado: ele não questiona a espera. Não questiona, por saber que um dia irá chegar. Ele está apenas na estrada. Outros também estão, mas não se dão conta. É a fase mágica da vida.
Foi então que, cercado, o pegaram e lhe abriram até as entranhas do coração, para que o sentimento mais profundo fosse encontrado. A única esperança era que este sentimento estivesse guardado dentro dele.
Na busca desesperada pelo sentimento, ele permaneceu imóvel, de coração aberto e não se preocupou. Afinal, ninguém poderia roubar um sentimento assim.
Eram quatro estrelas bem juntinhas que assistia da varanda. Observou que, durante longas noites, elas estavam sempre ali... Sentou-se na estante. Pensou que a vida passara veloz demais.
Por isso, escutou novamente músicas marcantes. Leu textos que haviam dado novo sentido à sua vida. Saiu de casa, e embriagou-se com outros que, assim como ele, também brindavam àquela noite os melhores momentos proporcionados pela vida.
Quando voltou para casa, foi na janela e olhou novamente a luz intensa que vinha daquelas quatro estrelas. Desde então, até hoje, estão nelas, marcadas no céu, algumas das melhores lembranças da vida.
Entenderam, então, a importância do silêncio. Entenderam que o jogo correria muito rápido para que ficassem de fora gritando. Entenderam a necessidade momentânea do absoluto silêncio.
Se o acaso me deixar na mão, e os sonhos acerca do que há depois da linha do horizonte inclinar a ficar apenas pela imaginação, sobre a linha do horizonte restará apenas um significado: não esquecer os locais por onde não pôde entrar.
É uma pena de prata que guarda do céu. Tudo cabe dentro daquelas sacolas pesadas de dor. Lá no fundo, resta também um pouco do amor que guardou. Sozinho, construiu sua casa. Ela não tem portas, janelas, nem telhas. É uma casa sem direito às visitas, só ele sabe entrar.
Naquela casa, dorme sozinho toda noite. Os sonhos são sempre mais leves do que encontrava todo dia ao acordar. Mas, aos olhos do dono do tabuleiro, ele era a peça principal do jogo. Por isso, o isolava; era uma forma de lhe preservar. Fora do jogo, o seu confortável quarto estava preparado. Num lugar e no meio de pessoas que seriam incapazes de achar que, aqui, ele não teria onde morar.
Foi um amor de verão, feito apenas de desejos, naquelas tardes quando os beijos e abraços, por mais que assustados eram seus.
Quando soprava o frescor da noite, as primeiras notas eram lembradas dos lábios distantes, tão distantes que lembrava quando, da pele fina, as mãos se fizeram amor
Mas, quando chega o final da estação, com ela também a despedida. E do vidro do ônibus, ou da janela do avião, tem sempre uma canção que começa, que dura, e que termina.
Havia páginas vazias de jornal em pratos cheios de cigarros. Ficou tudo assim, desarrumado, numa conversa da gente. Voou longe, assim, meio descrente. Mas precisou de um truque mágico para decolar. Um toque simples... Acima daquele trabalho, estava também o amor.
E por assim ser, a cor do giz que ia a mão não importava mais. Naquela selva amarga, onde a loucura era negada por quem ia esquecendo os aprendizados da dor, restou viver da saudade, se lembrar da vontade, e refletir sobre o amor.
Ficou imobilizado naquele instante. Sentiu o sangue correr quente. A saudade foi tanta, que tentou fragmentar visões sobre o seu futuro.
Não sabe bem ao certo o motivo, mas lembrou-se da casa onde o afeto de mãe tornou-se o principal refúgio.
Bom seria se todos os ventos fossem como aqueles ventos... Naquele verão, naquele entardecer perfumado de protetor solar, naquela mesa de bar.
Com o barulho do ventilador, o brindar de copos, o sorriso de outras existências. O silêncio da compreensão.
E no final do diário de bordo, ainda entre vírgulas, um agradecimento e uma espera: o próximo verão.