Aleff Ribeiro
E a cada vez que ouvia sua voz ao telefone, emudecia, era como se fosse a primeira vez que conversavam. Seus nervos gelavam e ele lembrava do quão importante ela era. Amava aquela voz.
Só depois de alguns segundos em silêncio conseguia desenvolver alguma conversa, ainda nervoso.
Eram essas coisas pequenas que esquentavam seu coração. Quando ela sorria, quando dizia que o amava, quando suspirava e em seguida, abria um suave sorriso após um beijo, até mesmo seu jeito de andar o encantava. Amava essas coisas porque elas compreendiam uma garota ímpar, e, ironicamente, formavam um par.
E no meio da tormenta, entre as ondas que me encobriam, entre o vento que tentava me arrastar, entre a chuva que caía como pregos, encontrei paz.
Se os homens conseguissem entender as mulheres, não se apaixonariam mais.
A graça é passar cada dia pensando, tentando desvendar aqueles olhares, aqueles sorrisos, aquele coração. E mesmo que se não consiga; afinal, quem se importa?
Era na escuridão, no mais profundo silêncio, que suas ideias fluíam, pois era como se as imagens saíssem da cabeça, e os sons, do ouvido, preenchendo então, de imaginação, aquele lugar.
Sentia sono, mas não queria dormir. Preferia torturar-se um pouco mais na tormenta da realidade, no caos dos pensamentos, na confusão do presente.
Tinha o sono como um sedativo, e estava precisando aplicar, pois seu machucado "almático" estava começando a doer. Mas o mais incrível e contraditório é que queria que doesse, que apertasse, para ter que chorar, ter que sofrer um pouco.
Era madrugada. A melhor hora para ele, onde podia fazer apenas uma coisa: pensar. Pensar profundamente, mergulhar-se em si mesmo. Deixar-se ser invadido pelos pensamentos, envolvido por eles.
E mesmo sendo assolado por alguns pensamentos, algumas memórias, algumas nostalgias, gostava. Queria sentir-se assim naquela hora, queria ficar pesado, queria chorar, queria gritar; pois essas eram coisas que estavam a seu alcance, coisas que podia querer e conseguir.
Tinha muito receio da dor que a utopia causava, não queria querer estar do lado dela, pois não podia. Não queria pensar naqueles lábios, naquela voz, naquele olhar, pois não os teria perto. Não teria aqueles lábios colados aos seus, aquela voz soando aos seus ouvidos, aquele olhar fixo nele. Não teria.
E ficar "utopizando", conjecturando não a traria de volta. Ele sabia disso, e essa era a maior dor que podia sentir. Bastava pensar nisso que as lágrimas inundavam seus olhos, insistindo em transbordar. Sentia-se mal por não querer sentir, não querer pensar, mas também sentia que tudo isso era muito para ele. Enchia-se de indagações com ele mesmo, não entendia por que foi acontecer isso com ele. Justo com ele! Ah, acaso! Ah, Destino!
A distância era pior do que imaginava. Do que sempre imaginou, assistindo filmes e lendo livros que a retratavam como algo lindo, poético, apaixonante. Bem, poético era, pois, para ele, o escape era as palavras, e abusava delas, na tentativa de aliviar-se. Tentativa.
Irritava-se, não queria pensar nela, e em nada que o fizesse lembra-la. Estava cansando-se.
E com esse cansaço, passou a se acostumar com a situação, com a realidade. também não queria se acostumar. Um lado queria sofrer, queria chorar para sempre, revivendo cada lembrança.
acostumar-se à nova rotina. Passar fins de semana sozinho, passar pelos lugares que antes passava com ela, Assistir filmes sozinho, sentir-se sozinho.
Tinha que aceitar, era a realidade, afinal.
Maldita realidade! Quem dera poder fazer real o mundo surreal de sua mente! Livrar das nostalgias e ficar com o presente. Um presente que nunca se tornará passado. Um presente constante e permanente.
Um presente ímpar, contendo apenas um par.
Não entendo...
Não entendo como o acaso funciona, afinal, chama-se acaso.
Mesmo sabendo disso, o desconhecido me intriga, provoca minha curiosidade , aumenta minha ansiedade e, as vezes, faz-me sofrer com o medo.
Não entendo como estou aqui, não entendo como sou quem sou, não entendo como sou e por que sou.
Só entendo que não tenho que entender. E preciso entender que isso basta.
"O amor nunca se torna rotina, pois se tornar-se, não será mais amor. Cada vez que você vem a minha mente, esqueço do significado de rotina, meu coração acelera como se você estivesse aqui, do meu lado, e sinto como se se você ficasse todos os dias ao meu lado, não se tornaria algo rotineiro. Com certeza não."
E apesar de tudo...
Apesar de tudo, tinham que ser fortes,
Apesar de tudo, continuavam se amando,
Apesar de tudo, cansavam-se do apesar de tudo, querendo que o apesar não fosse um pesar.
Apesar de tudo, o tudo se tornava nada, e o nada, tudo, a medida que pensavam um no outro.
E os dias se seguiam assim, com vários "apesar de tudo", e viviam um de cada vez, crescendo um no outro.
O incompreendido era realmente incompreensível, mas apesar disso tudo, tentavam compreender. Em vão.
Será que aprenderão a não tentar buscar um significado no Insondável?
Será que aprenderão a descansar?
Será que devem descansar?
a incógnita era presente, mas se tornava ausente quando pensavam no sentimento, aquele indefinível, que só se sente, que chamam de amor; que estava presente um no outro, e era como se fosse a resposta para todos os "serás", e era o "apesar". Apesar de tudo, se amavam.
Basta.
Estouro em mim mesmo, meu escape é meu interior, e a solução é o tempo. O sofrimento é tão normal quanto a alegria - ambos são passageiros.
Tentei evitar sofrer, não sentir o que sinto, tentar fugir para algum lugar inóspito e silencioso, e descobri que esse lugar é eu mesmo, e que eu posso levar toda a tempestade para lá.
E o vento batia em seu rosto, emaranhava seus cabelos.
Uma simples brisa era capaz de trazer uma ventania de lembranças, que varria sua mente e trazia à tona o que tinha sido cuidadosamente escondido, ou apaziguado.
E aquilo tinha sido como uma breve faísca, provocando uma luz rala, temporária, tão rápida que não se teve tempo de raciocinar.
Apenas foi.
Mas ele havia conseguido gravar em sua memória essa faísca ligeira, que, a partir de então, passou de ligeira a eterna - em sua mente.
E assim que são vividos os momentos, eles passam, mas a memória permanece, sendo isso benéfico ou o antônimo.
É fácil dizer que não dá, que é impossível e que não vai conseguir. É fácil continuar a mesmice e negar o ser humano que há dentro de você. Ironia isso, quando se leva em conta que já faz a coisa mais difícil que há: existir.