Alba Atróz, escritor
Não se trata de inveja, mas..., ver pessoas já nascerem com aquilo que sonho e me esforço pra conquistar, correndo o risco de nunca conseguir, me abala muito
Muitos entendimentos que vieram à tona na atualidade, fichas que caíram tardiamente, não foram capazes de desfazer as sequelas de diversas reprovações que obtive por ter respondido errado às exigentes e impacientes perguntas de uma época conflitante em minha vida
Vivo com a sensação que sacrifico minha vida em prol da bonança de uma classe privilegiada que - se não for cínica ou ingênua demais- não se importa nenhum pouco de manter-se sobre as minhas costas e do povo do qual sou parte
Trava-me tudo a solidão
Tira de mim a ânsia preponderante e o que me desperta para coisas sublimes
Amordaça minha escrita, silenciando meus pensamentos
Me torna inútil diante de tanta angústia e vazio a corroer-me enquanto escuto o zunir de uma mosca sobrevoando os restos de alimento na louça suja que ainda não tive forças para lavar
Há outros que tiveram a ideia de usar a palavra alba e a palavra atroz, mas somente eu tenho a cicatriz, como Ulisses tinha e que, por causa dela, foi reconhecido pela velha ama Euricléia. Eu tenho o acento na vogal "o" (atróz). Ainda que exista outro híbrido Alba Atroz, somente eu tenho a cicatriz, o espinho na carne, e me chamo Alba Atróz.
Um tolo com bem material se vale de tal maldito poder pra humilhar um desvalorizado sábio que o capitalismo não consegue de jeito nenhum manipular, por isso se vinga usando exatamente aquele que conseguiu
"Eu nasci em 1978, entre a pobreza gritante de Guaianases, extremo leste da capital. Cresci em estado de vulnerabilidade, estereotipado, pisando descalço em ruas de terra e esgoto a céu aberto, juntamente com meus seis irmãos, a sofrer, sobretudo, o abandono paterno, lutando com a mãe contra a fome, em busca das necessidades básicas, numa casa humilde, de apenas três cômodos, construída em terra de parentes que, muitas vezes, nos desconsideraram..."
Um acumulador capitalista só tem seu sono perturbado se perceber que seus concorrentes estão levando vantagem no sistema mercantil no qual está enquadrada sua empresa e toda sua lógica, o que lhe obriga a ter, não importa de que forma!, mais e mais lucro para não falir, nunca porque está se compadecendo de seus pobres e humildes assalariados
E o silêncio "satisfeito" das panelas vai consentindo, percebem? Eles não têm mais por que batê-las.
Já me passou sim pela cabeça entrar para a política e conseguir coisas através de atos considerados unanimemente como ilícitos, mas me falta não só a coragem, mas todo um mau-caratismo necessário pra cometer tais atos
Os pelos do leitor se arrepiaram, ele ficou muito reflexivo, chocado, mal conseguiu dormir pensando no texto lido, daí tive a certeza que a minha literatura tinha atingido seu principal objetivo
Se me for possível sugerir à Deus: Que tal Ele levar algumas invenções, frutos do livre arbítrio humano, para o paraíso? Principalmente na área da culinária, extraindo os venenos intrínsecos, dando-nos imunidade ao mau estar que tais delícias costumam causar-nos nesta vulnerável, imperfeita e, sobretudo, passageira vida terrena
O refúgio de Alba Atróz - um pássaro-escritor, de grande envergadura literária, com sua cicatriz homérica na vogal "o", marginalizado, adaptado coercitivamente ao poluído e violento meio urbano, metamorfoseado, longe de seu habitat natural, em luta resistente contra as amarras farpadas do vil sistema
Por não ter prioritariamente ambicionado bens materiais não faço parte e nem frequento muitos espaços e locais onde se concentram os grupos contrários ao que eu em primazia sempre busquei
Muitas vezes, fragilizado em condições precárias, silenciei meus fortes e justificados argumentos, engolindo-os a seco, diante dos meus frios e gananciosos interlocutores que, por um maldito poder financeiro, passaram a mandar em mim...
O capitalista selvagem adora funcionários que se permitem cumprir metas vis oprimindo companheiros de trabalho por muito pouco, este é o principal perfil requerido por ele...
Passei boa parte da minha vida sujeitando-me a situações constrangedoras para conseguir comprar raros momentos de felicidade com o pouco de dinheiro que ganhei explorado sob a tortura de opressores capitalistas...