AilaSampaio
Amar é deixar-se habitar sem perder espaço; destraçar metas, refazer planos, desarrumar certezas. É reconstruir-se com menos paredes e mais janelas, sem derrubar o teto.
Basta uma palavra tua para que a manhã nasça em mim como barcos que chegam à praia depois de tumultuada noite de pescaria.
Ando medrosa pra recomeços. O coração, quando se deixa arranhar por botes traiçoeiros, leva tempo pra voltar a acreditar que nem tudo é armadilha.
A felicidade genuína não depende de porquês, quandos nem ondes. É gratuita e à toa como flor que nasce em monturo.
Não sei sentir pela metade. Se amo, minha alma, meu corpo e todos os meus órgãos amam na mesma intensidade. Se desamo, da mesma forma, todo o organismo obedece ao comando e apaga os registros.
Pensei que tu eras a peça que faltava para completar meu quebra-cabeça. Sem querer enxergar o engano, montei, desmontei, remontei ,tentando encaixar atenção onde só cabia indiferença; querendo colocar estabilidade onde só encaixava a inconstância. Puxei a toalha da mesa e misturei todas as peças. Recomecei triste como uma criança de quem roubam o melhor brinquedo. Agora faço outro desenho; é outra a lição, só eu sou a mesma: continuo a quebrar a cabeça para encaixar amor onde só cabe razão.
Que eu nunca desista de aprender a transitividade do verbo amar, apesar dos imprevisíveis objetos que já tentaram me servir de complemento.
Enquanto amarelecem as folhas anunciando o outono, nós reverdecemos de mãos dadas pelas ruas, desconfiados e receosos de tão barata felicidade, como quando éramos crianças e acreditávamos em contos de fadas...
O silêncio do que não houve não me comove; apenas move interrogações que ficarão sem resposta, pois o tempo não ouve o passado... só escuta o presente.
Aos teus silêncios respondo com os meus. Nenhuma mudez entre nós... apenas a desnecessidade de palavra para dizer o que não sentimos mais.
Quando te vejo, uma alegria descalça anda pelos meus olhos, fazendo o coração soltar foguetes e a vida vestir-se de festa!