Aíla Sampaio

26 - 46 do total de 46 pensamentos de Aíla Sampaio

A vida é um permanente ir-e-vir. Uma estação de onde os trens embarcam e desembarcam em curtos espaços de tempo. É nesse ínfimo intervalo entre a partida e a chegada que algumas pessoas saem da nossa história, enquanto outras entram com a sua meta determinada. Temos a pretensão de impor as nossas vontades e deixamos de entender que as despedidas, como os encontros, são etapas imprescindíveis à abertura e ao fechamento dos ciclos por que temos que passar.

Entre as perdas e os ganhos há uma nesga de sol para enxergarmos o que realmente vale a pena. Se nos alongarmos no luto das perdas, passará despercebido o fio de luz que aponta o novo caminho a seguir. Enquanto não deixarmos no passado o que não pode mais ser, impediremos o futuro de se fazer presente e colocaremos em risco, talvez, a nossa verdadeira felicidade.

Todas as coisas têm o seu prazo de validade, é necessário permitir que vá o que tem que ir para que o novo chegue e diga a que veio. Assim será sempre até que entendamos ser a vida um jogo cujas peças só mudam de lugar enquanto não encontram o encaixe perfeito, por isso não adianta insistir em mantê-las aonde queremos, pois pode não ser esse o lugar dela... e, enquanto ela não sair, não encontraremos aquela que é realmente a que preencherá a lacuna.

A música parou antes do fim da festa. Ela ficou estática no meio do salão vazio, perdida no compasso do silêncio, sem ponto de partida nem de chegada, sem armas no meio da guerra. Restava-lhe escutar os passos da solidão que avinagrava as lembranças boas com a acidez da separação. Sabia que só poderia ser daquele jeito e mergulhava num abismo irreversível de descrença naquilo que um dia acreditou. Não havia remédio; nada mais remendaria aquela taça quebrada, então precisava não ser, não sentir, até que a vida a tirasse pra dançar outra vez.

Inserida por AilaSampaio

Tu és palavra que se pronuncia no escuro,
um nome por detrás dos muros da memória,
aprisionando o presente no passado.
E eu,
rio em cheia a procurar um córrego
na claridade do dia.

Inserida por AilaSampaio

Quando tirarem o chão de debaixo dos teus pés, olha pra cima e voa. Deixa o abismo pra quem quis provocar a tua queda!

O tempo me puxa pelos cabelos. Avia-te, amor, ou já me encontrarás acostumada à solidão e talvez eu não queira mais viver sem a companhia dela. O vento me arrasta pela mão... Não deixa que ele me leve, amor; posso habituar-me ao abraço do efêmero e ressuscitar minha alma cigana!

Enquanto nos recolhemos silenciosos, às vezes até feridos e sem querer aceitar a realidade que nos contraria, a vida gesta novos episódios para a nossa história. Nenhum personagem sai à toa; nenhum entra por acaso. Tudo acontece de acordo com o enredo do Criador e o arbítrio de cada um. A nossa vida é consequência das nossas escolhas e invariavelmente pagamos um preço pelo acerto ou pelo erro. Só recebemos as respostas para os porquês do que nos ocorre, se aceitarmos que tudo é como tem que ser ou como fizemos com que fosse. Felicidade é pra quem acredita, pra quem faz por merecer. O Amor é somente para os que são corajosos; os fracos não fazem jus ao paraíso. São essas certezas advindas dos sinais que só os corações destemidos entendem que me fazem agradecer e dizer benditas e bem-vindas as boas surpresas do destino!

Inserida por AilaSampaio

Encontramo-nos, quando o outono vestia a tarde com seus ventos e a idade já riscava os nossos rostos. Não havia espaço para dúvidas nem tempo para esperas. Ou segurávamos imediatamente os remos para chegarmos à margem, ou acabaríamos por naufragar na incerteza do depois.

Inserida por AilaSampaio

Há em ti uma paisagem suspensa, uma escuridão qualquer entre a realidade e o sonho. Meu olhar te atravessa e desnuda, não teme o confronto, parece que sabe os caminhos que deve percorrer e as esquinas que deve evitar.

Inserida por AilaSampaio

O amor às vezes se espatifa no asfalto, se afoga na banheira, vira um caco de vidro debaixo do pé. O amor às vezes redime, noutras condena. É a nossa salvação e a nossa perdição, mais arame farpado que nuvem de algodão, mas quem há de renegá-lo quando ele chega abrindo todas as cortinas e acendendo todas as luzes como se a vida fosse uma eterna festa?

Inserida por AilaSampaio

Era ele, mas quase não era. Ou não era mesmo. As pessoas íntimas quando passam a estranhas adquirem um novo formato aos nossos olhos. O cabelo estava menos liso, ou era a camisa muito largada. O olhar e o aceno da mesa à curta distância tinham um quê nervoso, uma falsa naturalidade que não lhe era comum (ou já era eu não percebia), e deixavam claro que não nos levantaríamos dos nossos lugares para um cumprimento mais próximo. Não que temêssemos uma recaída, mas porque não sabíamos lidar com tamanho esfacelamento da intimidade; nós, que já dormíramos e acordáramos juntos durante tantos anos, não sabíamos ser senão desconhecidos. Ambos tentamos uma alegria, mas ela veio descalça e tão desamparada que não convenceu nem a nós mesmos. Estávamos demais um pro outro ali, ou de menos. Apressei-me em ir embora e saí com um sorriso congelado, desconcertada como uma criança diante de um presente que não fora o pedido, as mãos crispadas a amassar o passado e um pensamento cruel que imaginei passar também pela cabeça dele: como se tornam desinteressantes as pessoas que deixamos de amar!

Inserida por AilaSampaio

Eles se olhavam sempre como na primeira vez, sem se importarem com as ameaças do vento que dizia levar muitos sonhos misturados à poeira. Olhavam-se a despeito de todas as intempéries e desesperanças e plantavam na alma do outro a certeza de que nunca se separariam. HAVIA AMOR, por isso venceram os tornados e os redemoinhos; por isso atravessaram o deserto sem jamais sentirem sede ou soltarem as suas mãos. HAVIA AMOR e nenhuma justificativa mais precisaria ser dada pra explicar tão improvável sobrevivência!

Inserida por AilaSampaio

Ela estava ausente. Nada a presentificava onde deveria estar. Nenhum fio de cabelo se movia, nenhuma pálpebra batia, nenhuma lágrima caía. Estava ausente da rua, do trabalho e até do mar que continuava a quebrar nela as suas ondas, como a dizê-la que tudo passaria. Estava fora do seu corpo, a embalagem que vestia a sua ausência e fazia os outros acreditarem que ela ainda existia e andava e comia e vivia, quando apenas sobrevivia a si mesma!

Inserida por AilaSampaio

Nunca mais era um lugar muito longe para onde ela jamais se permitiria ir.

Inserida por AilaSampaio

Chega-se a uma fase da vida em que os subtextos e as entrelinhas das situações saltam aos olhos, em que não se tem mais tempo para esperar indefinidamente, nem disposição para ficar em standy by. Nada de obscuridade ou indefinição; nada de joguinhos ou aventuras arriscadas demais. Poucas concessões e inúmeras restrições; muita intolerância a descasos, à falta de consideração e afins. E a certeza das certezas como um mantra: se não se pode ser prioridade, se não se pode estar em primeiro plano, que não se esteja em nenhuma posição. Antes a solidão bem resolvida ao desassossego de uma relação em descompasso de vontades e sentimentos.

Inserida por AilaSampaio

Acho que perdi a disposição pra ficar triste, mesmo que apenas de vez em quando. Também para pagar o preço por felicidades emprestadas, aquelas que, durante algumas horas levam às nuvens, mas, a qualquer instante, fazem desmoronar nosso ânimo e nos depositam na morada de Hades. Metaforicamente, claro. O tempo passou pro meu coraçãozinho e ele ficou comodista, não tem mais encanto por flechas de cupido, ao contrário, foge delas com medo da picada. Uma hemorragia a essa altura da vida pode ser fatal.

Não quero mais arrebatamentos, ansiedade se o amado não vem, insegurança se ele silencia por alguma razão. Não quero mais borboletas no estômago, a náusea da emoção desordenada; nem ficar alheia olhando o céu, quando o sinal já abriu e as buzinas nervosas dos carros azucrinam. Não, não quero mais esse estado de graça que, ao menor temporal, nos deixa em petição de miséria existencial.

Não quero mais arrastar correntes ou vagar pelo deserto quando houver desentendimento. Nada de comportar-me com subserviência diante de grosserias e descasos. Não desejo cobrar ou exigir o que quer que seja; o que vier terá de vir naturalmente como deve ser. Abro mão de dançar na chuva em pleno verão, desisto das constelações que poderia ganhar e do céu que sempre me prometeram mas nunca me deram. Desisto da insana sensação de amar para sempre, da ilusão de que existe eternidade... é tão breve o apogeu nas nuvens e tão dolorosa a queda! Quero mais não!

Quero somente ter motivos para manter o sorriso, quero a transparência nos gestos e a verdade com suas botas de couro. Chega de pantufas de lã que não preparam os pés para o chão áspero. Quero a embriaguez do vinho e os olhos fechados para as viagens mais longas; quero a certeza de que tenho os pés fixos à terra, por isso não vou cair a qualquer momento. Chega de vertiginosas derrapagens. O máximo que suporto é um inevitável tropeço.

No balanço da história vivida, virei muitas páginas, rasguei outras tantas e recomecei um novo enredo. A cabeça acima do coração, como Deus fez. A alma protegida das tempestades e o corpo sempre pronto pra não ser apenas mais um corpo, porque não pode morrer a poesia; não quero perder a vontade de acordar todas as manhãs, nem a sensação de que a vida pode recomeçar a cada dia.

Não acredito mais no pote de ouro no final do arco-íris nem em fadas que transformam abóboras em carruagens. Acredito apenas no que os meus olhos alcançam e as minhas mãos podem tocar. Amor platônico só é bonito na literatura... Na vida, o bom mesmo é a realidade, ainda que com suas cores gris atravessando o azul!

Descalça-me desses sapatos altos e me põe de volta no chão. Quero um amor consistente feito tronco de baobá, sem oscilação de nuvens e sem risco de ser levado pelo vento.

Inserida por AilaSampaio

Somos duas retas que finalmente se encontraram no infinito.

Inserida por AilaSampaio

" Chega uma hora na vida em que, de tanto querer, a gente não quer mais. Não quer mais a vida feito vulcão em ebulição, não quer mais viver em busca; quer a paz do caminho sem tantos abismos, quer menos curvas e mais atalhos.

Não quer mais o que faz perder o sono, o que desconforta o pensamento. Não quer mais aventura nem risco, só a emoção do que não parte às pressas, nem deixa marcas profundas e sangrentas.

Chega uma hora na vida em que ou fazemos a opção por nós mesmos ou morremos extenuados sempre à procura do que nunca mais encontraremos.

Inserida por katiacristinaamaro

Tudo, absolutamente tudo, é provisório. Mas ninguém, absolutamente ninguém, aceita isso. Vivemos como se fôssemos eternos e tudo fosse durar para sempre: as pessoas que amamos, as paixões e até as dores. Queremos ser felizes, não experimentar sofrimentos, não ser contrariados nunca. Queremos a compreensão do outro mas nem sempre estamos aptos a compreender o outro. Às vezes, nem a ver o outro. Queremos sempre falar, mas não sabemos ouvir; queremos amores eternos, fidelidade, ...mas machucamos quem amamos com silêncios e omissões quando se espera uma palavra e/ou um gesto. Temos um imenso medo de arriscar nosso conforto e fazer novos voos, mas esperamos novidades, mudanças. Ainda não aprendemos que criar asas e ousar a imensidão é pra quem tem sonhos e acredita neles; pra quem não só pensa que pode cair se tentar. Sejamos sinceros: precisamos ser menos pretensiosos e ter mais humildade para aprender o amor... precisamos desviciar o olhar e não esperar que os outros façam o que só nós podemos (e devemos) fazer. Devemos olhar o nosso umbigo antes de julgar o do outro e viver com a ideia da perecibilidade muito clara... quem sabe assim façamos mais e esperemos menos.

Inserida por katiacristinaamaro

Viver é povoar desertos, tentar colher flores em jardins de concreto... Não basta subir as escadarias e olhar o mundo. É preciso pular no precipício e, sem asas, arranjar um jeito de aterrisar; sobreviver e continuar, continuar, continuar... indefinidamente e com vontade, a despeito de abismos, céus, medos ou coragens, lágrimas ou sorrisos. Que a porta nunca se feche sem que tenhamos visto pelo menos uma flor!

Inserida por lubaffa

⁠Viver coisas boas e não contá-las é como se elas não tivessem realmente acontecido.

Aíla Sampaio

Inserida por AilaSampaio