Ágata Rosário
Chegará o dia em que eu não terei de achar,
mas que serei achada?
Pararei de decifrar, para ser decifrada?
Porque infelizmente minha transparência não passa disto,
Sinceridade transborda, mas…
Realidade?
Naturalidade?
Passar isto ainda não consigo,
é bem mais fácil me manter atrás
de um bom português polido.
Se meu desejo é te tocar, eu peco?
Se anseio te enxergar com as mãos,
Se aspiro ver teu rosto com meus lábios,
Se almejo discernir tuas formas
num abraço apertado, eu peco?
Se detesto a distância, é possessão?
Se te quero na palma de minha mão,
Se desacordo dentro de você e…,
Se quero que a mesma coisa
aconteça contigo, é prisão?
Não que eu vá te amordaçar!
Nunca lhe proibiria de ter outras ternuras,
De sentir outros sabores
De ver novas cores…
Quero apenas gravar-me em ti
Porque estais gravado em mim
Quero te fazer perambular por meus desertos
Te mostrar sonhos incertos
Criar juntos nosso mérito
Se desejo não te deixar partir
Por que não fica aqui?
Nunca fecharia a porta da gaiola,
Aprisionar almas não é meu ofício,
Nunca cortaria tuas asas,
A impossibilidade me assombra
Só te peço que fique mais um pouco
Pois minhas asas não sabem voar
Minha maldição: é não poder te acompanhar
Extinguir, dissipar, cessar, desligar, desaparecer, parar
Qualquer botão que escolher
terá a mesma função,
Então some sem deixar marca!
Eu não sou similar a arca
Onde todos entrão, se espalhando pelo chão
Anteponho a sinceridade do ser!
Existem coisas que não professo nem em meu pensamento
Coisas indizíveis a meu próprio coração e ao vento
Permanecem coisas que deviam ter ido a muito tempo
E a consequência é bizarra, é árduo tormento
Onde está a alegria de sábado atrás?
Antes não precisava de alguém para ser
Mas agora sou dependente.........
Dependente psíquica
Dependente da reação química que você me provoca
Droga massageia meu ego, torna presunçoso meu “EU”
Aprendi a duras penas que devo deixar partir
Pois se fica cria fungos, bolor, odores indescritíveis
Pungente
Asco
Pisoteado por teu casco
Intransponível casca
Sentimento amargoso
Sabor ferroso deste licor rubro, rugoso
Conjurado está!,
Desconjurado estará
Se coragem não me faltar...
Já se perdeu de vista
E desejou, realmente,
que ninguém te encontrasse
Em meio aos teu cacos
teus erros e teus fiascos
Espalhados pela pista
Asco, entejo
Bulimia, solvente
Ojeriza, enojo
Orexia por dissolver sua
própria vida em eutanásia
Sessar a falácia
Eu estou viva,
por qual azo não sei
Incomunicável é Kairós
E Cronos não precisa a margem
de meu dias, óh, rei
Suma das minhas vidas
Faça a dor parar
Não desejo isto de fato!
Mas é incontestável pensar
Amotina-se minha mente contra mim mesma
Escuta(o) meus gritos sem som
E esquece-se das palavras ditas
Fato, sou besta entoando novo tom
Engoli o acaso de estar viva
Sorvi a vicissitude de vivente
Absorvi a casualidade de eu existir
Desprovida de mente para me omitir
Não se vá jamais, senhor
Cala meu imperdoável dizer
Com nossa solidão
Guia-me no regresso ao corpo
Se ainda há coração,
Creio que não,
Faça-me sentir o novo
Sou covo
Sou cova
Sou corvo
Estou morta
Como estrovo
Ponho a prova
Teu sentir torvo
Que minh’alma comporta
Despeço-te, me coas
Despertando-me em caos
Descanso em paz
Descaso a mais
Parte de mim me diz que sim
Mas....., o que se faz
quando temes teu próprio medo?
E temes que o medo te atrapalhe
Que borre, pois bole o pensar
Em parte eu sei que sim
Mas o que parte de mim é não,
pois, não é o que não pode ser,
Muito menos o provável
Alucinação de variante infindável
Coração palpita indomável
Emoção incontida,
transgredida por teu próprio ser
Picha tua ficha
De rubro, de bronze
Vacila
Deveria sentir-me viva ao fazer o que quero
Porém tudo o que sinto é repulsa por mim mesma
Aversão a meus novos hábitos
É leve?, sempre leve
Oscila?, sim oscila
Mas é compacto e impenetrável
Com tempo torna-se inabalável
Pesado?, não, apenas grande fardo
Absoluto, até mesmo bruto
De forma delicada se desmancha apenas nos olhos teus
Teu sorriso meu dia vem clarear
Prazeroso e não penoso
Puro não malicioso
Que te levanta e não deixa derrubar
Virtudes de amar
No teu silencio e companhia
Vejo que estás presente que entende
Que meu sofrer já não posso descrever
Que em palavras não cabe
Farias tu mil malabares pra me ver sorrir?
Eu pergunto a ti, e então
Dê-me cá tua mão
Se a resposta for sim
Serei fortaleza, preservarei tua beleza
Em meu pensamento será imagem fixa
Tão raro como o mais puro ouro
Nos gestos, rixa de grandeza e gentileza