Ágacy Celestino Jr
Eu ando pensando em você. Há coisas que o tempo não é tão forte como as pessoas acreditam para eliminar. Há coisas que sobrevivem ao tempo, se nutrem dele e da saudade.
A arte está na simplicidade do que já existe e ignoramos por completo, até nos darmos conta que sempre esteve lá.
Depois de longos anos querendo amadurecer, hoje sou uma pessoa completamente diferente. Passo os dias invertendo os caminhos enquanto envelheço. Desejando a juventude que ficara para trás e a inocência que hoje já não reside mais em mim.
A leitura dilata o universo da alma proporcionando profundidade, enquanto a ausência de leitura compacta o espírito tornando-o incapaz de compreender, produzir e se sustentar. Quanto mais exercitamos a leitura, mais pacíficos somos, mais compreensivos andamos, mais paciente permanecemos e mais perdoadores nos tornamos no vórtex da vida.
A vitória não é determinada pelos elogios ou bençãos dos outros, muito menos por alguma aprovação. Há conquistas que são particulares, são pessoais e únicas. cada um conhece os seus obstáculos e limites. São como pinturas silenciosas em nossas almas de valor inestimável, onde contemplamos em nosso mundo, cada curva, cor e textura na tela de nossa vida, cada pincelada com o peso inserido com profundidade e dimensão real que é intransferível.
Ser capaz de conviver com uma dor e ser ainda assim capaz de sorrir, não significa que a dor finalmente foi eliminada e que tudo se estabilizou. Significa apenas que você aprendeu a ocultá-la a maior parte do tempo acompanhado e a vivenciá-la intensamente quando está sozinho.
O que é o tempo? Se não uma regra que transcorre diferente em cada corpo. O que é a razão ? Se não a forma abrupta de fazer o certo contrariando o que na verdade deveria ser por meio de nossas escolhas. O que é a saudade ? Se não uma maneira carinhosa de dizer que um pedacinho da gente que ficou para trás. O que é egoísmo ? Se não a maneira covarde de expressar a incapacidade de amar. O que é o amor? Se não a incapacidade de pensar só em si. O que é a dor ? Se não a forma mais direta de sentir a lâmina da realidade em nossa carne, quando insistimos em permanecer com os olhos fechados. O que é o arrependimento ? Se não a maneira de expressar a fraqueza que emana da alma, enquanto ela se contorce, pedindo uma segunda chance. O que é ser indiferente ? Se não a forma mais primitiva de morrer antecipadamente, enquanto ainda acredita que está vivo.
O desafio só será grande pelo caminho para todo
aquele que proporcionalmente tem a vontade de vencer
menor e contínua naturalidade em sepultar os sonhos.
O tempo nos favorece com o entendimento das coisas ao redor, mas ele é incapaz de nos ensinar com exatidão, como não sofrermos todos os dias.
E o que é o tempo se não a forma individual de dizer que somos passageiros, partículas disformes pulsando em uma luz tênue que se apaga aos poucos enquanto tentamos compreender a brevidade das coisas, já sem tempo e que precisamos nos alargar para suportar a sua proporção que maior nos subjuga sem pressa num momento mais improvável.
Enquanto deixas passar os dias que te cobram em forma de indagações, até quando serás forte ? Ou até que ponto conseguirás lidar com tua dor, com essas traves na garganta que espera uma resposta que possa apaziguar a alma em formato de luz ? Enquanto isso segues por hora numa escuridão em que não consegues dar formato ao que sentes e nem sabes se terás firmeza suficiente para dominar o vento que por vezes te eleva nos momentos mais censuráveis, trazendo-te um desconforto no final do dia em meio as preces ou nas diárias batalhas do dia em busca de justificativa para permanecer sem dor. É quando no excesso do cansaço dos pensamentos irrequietos e esgotados, te abraça finalmente o sono que te resguarda em segurança e te aquece.
O amor encontra o perfeito equilíbrio quando cada um entende que nenhum dos dois é melhor do que o outro e que ambos têm defeitos, defeitos que só mudam de nome.
É impossível hoje transitar neste entrelaçamento de vidas num vórtice de vento e não causar em si mesmo os instantes mais ternos e dolorosos: o estranhamento. Numa viagem épica de vida e morte que faz brilhar o norte de todo indivisível momento, mesmo sabendo por um instante imperfeito, o milagre tênue quando se transborda o pensamento. Pensamento esse onde brota a visão numa ascensão repleta de virtude, mas que no minuto posterior, você precipita ao esquecimento tão rápido, quanto ao se apagar de um vagalume.