Adson Guedes
Esse rosto teu
quero-o eterno na minha jornada
em telas manchadas
traços borrados
em rochas esculpidas
em filmes sem censura
ou nas linhas sujas dos meus contos mais obscenos.
Para a literatura, sou um forasteiro marginalizado nas margens da escuridão profunda
para as damas místicas, sou um escorpiano, das trevas de outubro surgiu minha existência, entretanto, na verdade mais nua
Sou uma mistura de realismo sujo literário, com um toque de caos, regado a uísque.
Minha missão nas entranhas do tempo ?
Não trilhar sozinho na mata densa, no caminho coberto de folhas caídas, em direção aos corredores do hospício.
Quero escapar rumo ao mar
perder-me na brisa que abraça
perseguir outras essências
busco a nostalgia que dilacera o coração.
Preciso de um abraço que me faça sentir vivo, como nunca antes
daqueles que só uma mulher como tu faz ferver em mim como inferno
quero te ver
encarar teus olhos...
Na escuridão, mata adentro, sob um céu estrelado de Van Gogh, nenhum animal noturno se atreveria a saborear tua pele, exceto eu, sendento por tua carne
Não se aflija, ô minha paixão em ruínas.
Um dia alguém guardará tua santidade
enquanto eu persisto aqui
cultivando tuas depravações...
No pesadelo desperto, à deriva,
Onde diabos estão tuas coxas, membros envoltos em pelos loirinhos?
Cabelos perfumados
tranças que dão poder a minha mão
lábios embriagantes
seios que clamam por mim
pequenos bicos endurecidos
gritando por minha lingua.
Vem!
me guarda! me salva!
me esconde nos becos sujos dos teus segredos mais íntimos.
Daqui a décadas
será que as caninas desvairadas do amanhã
vão escavar a terra para roer meus
ossos enquanto fumam meus versos, como se fossem viciadas em nicotina, buscando o que restou de mim?
Se todos nós, miseráveis deste planeta
fôssemos esculpidos à imagem e semelhança dos galãs e heroínas de Hollywood
a atração dos corpos exigiria uma carga adicional intelectual
mais devastadora.
Teu arsenal fotográfico é uma overdose de êxtase visual.
Teus fios de cabelo atrevidos são versos ainda não rascunhados por mim.
Tu és a sereia cantando ao meu olhar, enquanto eu me afundo no teu feitiço virtual.
assobio com palavras.
O dilema das massas é que se unem com vigor para derrubar um regime, mas, ao conseguirem, ironicamente não percebem que acabam sendo escravizadas, presas nas correntes de outro sistema.
Desculpe se decepcionei,
Mas não escrevo para agradar devotos ou ambiciosos.
Minha caneta sangra pelos desesperados,
Pelos soluços nos copos vazios dos bares,
pelos mendigos das ruas esquecidas.
Pelas almas das musas do submundo, flores do asfalto.
e
Minha caneta sangra pelos corpos femininos em chamas,
pulsando vida, paixão desenfreada, fêmeas entregues ao delírio da carne.
Saibam que não estão sós...
Deixei de cogitar sobre esse mito da felicidade e me joguei de cabeça no que me faz sentir saciado.
Numa funerária, vivi meu trampo mais desafiador
Corpos desfigurados, familiares em pranto
Madrugadas silenciosas, reflexões austeras,
sobre o amanhã incerto.
Sozinho, habituei-me à solidão do ofício,
Movido pela necessidade, pela dura realidade.
Enquanto os entes queridos choravam, eu lucrava, comissões por serviços prestados.
eu não podia estar triste, nem inteiramente em euforia.
Somos a alegria de outros, mesmo na morte
Os fantasmas não eram os vilões, percebi então,
eram guardiões contra ladrões, em noites de uivos de cães, que ecoam como lobos.
Na encruzilhada entre a vida e a morte, testemunhando o desfecho, encontrava conforto e paz para descansar sobre um colchonete no chão do escritório.
As palavras têm poder,
Já arranquei a calcinha de corpos femininos sem um único toque,
sem que elas me transformassem num mero pano de prato,
como eu, secretamente, desejaria.
As palavras têm poder,
já utilizei o casco dos corpos de outros caras
para saciar as minhas damas comprometidas,
aquelas que vagueiam em lugares distantes, longe dos meus dedos,
acorrentadas por suas carências insaciáveis, e mentes corrompidas por mim.
As palavras têm poder,
não escrevo para enlouquecer ninguém,
mas para impedir que o desejo se torne uma angústia de madrugadas intermináveis
As aves cantam com mais fervor na manhã, e mesmo em Manaus, onde o calor nunca dá trégua, o amanhecer é um alento de frio.
Percebi que o café é mais robusto na xícara, e a água, antes banal, ganha um gosto mais intenso no copo de alumínio.
Enquanto isso, as damas do asfalto, das madrugadas, se vestem como mocinhas recatadas,
e as mulheres mais reservadas, na intimidade de suas camas, se revelam como criaturas ardentes, ansiosas por uma paixão que a vida cotidiana nega.