Adriana Sydor
não se apresse na volta
não se volta ao amor assim,
machucada
não se visita o amor com mágoas
novo amor
velho amor,
amor não merece liquidação dos dramas
transbordar de dores
memória corroída
chansons que derramam pesares
e esperanças amordaçadas
há de se respeitar o amor
e não obrigá-lo a mesquinharias
dos outros tempos
de todos os tempos
para o amor, foro limpo
bons tratos.
pousá-lo no colo
e acariciá-lo
como se um gato
ou flor
ou livro
não se volta ao amor
com coleção completa de desdéns
todas as figurinhas
a suplicar,
ponto por ponto,
imagens dos espelhos
camélias desfolhadas
lenços encharcados
isso não se faz
assim não se volta ao amor
há, entretanto, o olhar pra frente, o saber-me mais, reconhecer-me melhor, mais cheia de eus e de nós e de tus. uma espécie de segurança sobre mim mesma que só se afirma com o passar do tempo e o olhar que se apura a partir da experiência. a auto-permissão para viver algumas coisas. \
tudo que escorre para o papel é uma espécie de resquício de mim, um resto, vestígio de alguma dor ou alegria que finjo. mas, definitivamente, só finjo aquilo que sinto.
não caibo, a palavra me transforma e me transborda
a palavra me transtorna.
não saio, a palavra me devora e me devolve
a palavra me demove.