Ademir Missias
Botina amarela
Na fazenda espinilho
Num lindo salpicado rosilho
Como regalo de criança
Guardarei essa linda lembrança
Uma boina de gaiteiro
Com seis anos muito faceiro
Um Galdério bem pilchado
Naquele corcel sem alguém do meu lado
Sorriso de jacaré esparramado
Um piá mais que arretado
Ganhei essa prenda singela
Trotando com estilo num embalo
Controlando o pomposo cavalo
Uma vistosa botina amarelas
Falsidade
Isso não é segredo
Viver sem ter medo
Sustento -me com a alegria
Nesse acúmulo de fantasia.
Desalmado é o coração
Simulando uma emoção
Diz que ainda te ama
Convertem fantasia em drama.
Um olho a frente e outro a traz
Finja se for capaz
Cuida de quem te rodeia.
Hipocrisia e falsidade
Dissimula veneno e inverdade
Não amendronta se me odeia.
Ferramentas
Um deleite tão grande
Minh’alma se expande
No limite da fraqueza
Uma régua sobre a mesa
Nesse tortuoso caminho
Aferrolhado, atado e sozinho
No peito a dor de um lado
Na gôndola um esquadro
Uma agulhada amedronta
A emoção toma conta
O coração se contrai
O maço e o cinzel no mesmo lado
Ora d’ante atribulado
A angústia que sentia sai.
O que aconteceu conosco?
Que não somos mais como antes.
Professores maltratados nas salas de aula,
Comerciantes ameaçados por traficantes,
Grades em nossas janelas parecendo uma jaula,
O que aconteceu conosco?
Por ventura somos um fracasso?
Ou estamos em letargia,
Automóveis valendo mais que abraço ,
Filhas querendo uma cirurgia.
Perdemos a esperança,
Ou sofremos cefaloma,
Celulares nas mochilas de crianças,
E diversão valendo mais que um diploma.
Vivemos em controversa,
Ou Fugimos a um conventiculo,
Tela, vale mais que conversa ou
Tudo tornou-se ridículo.
Quero arrancar as grades da minha janela,
Tocar as flores! sentir a brisa singela,
Dormir com a porta aberta
nas noites de verão!
Quero a honestidade meu irmão!
Ainda que seja rara
Quero a vergonha na cara,
Mas pra dizer a verdade,
Quero a solidariedade
Quero a esperanca,
a alegria e confiança!
Onde exista amor a fraternidade.
Ajuda
As moedas que você gasta,
O dinheiro que você tem,
De nada tem sentido,
Se não ajudar alguém;
E quando você os acuda,
Por pouco que seja a ajuda,
O que resta então é o que fica,
Porque no outro se identifica.
Encontrarás no outro o que deste,
O que semeaste ou que plantaste.
O que fica então neste momento?
Se a moeda já não existe!
E o sentimento que persiste,
Num eterno reconhecimento.
Uma pergunta porque
Tantos com aprazimento
Se esbanjam se prodigalizam
Muitos tem sofrimento
Nem sonhos se realizam
Com champanhe balde de gelo
Vivendo na bonança
Em completo esfacelo
Sem fé com desesperança
Medo é a sobrevivência
De toda essa carência
E o sentido da vida
Seria essa a explicação
Cada um tem sua missão
Que aqui deverá ser cumprida
?
Partida
Sempre existirá uma ferida
Quando da partida
Se os lábios não se tocam
Sustento-me com recompensa,
Fugindo da tristeza,
Esperando que a saudade te induza
Ate que te seduza;
Desadormeço com a mesma trama
Pelo amor de quem se ama
A alma se repele
Reputo por toda pele
Pois foi a primeira que sentiu o desejo
E os olhos estão julgando da partida aquele beijo.
Minha Janela
Lanços fulgurantes da minha história
Retalhos da minha infância
Guardado na memória
Quando ainda criança
Vividos com alegria
Pequeno uma doçura
Brincadeira e fantasia
Colo de mãe muita ternura
Adolescência fragilidade
Incertezas, procura e vaidade
No mundo de tanta gente
Primordial controlar a mente
O amadurecimento necessário
Colo n’outro lado do morro
Pouca roupa no armário
Sem alguém pra pedir socorro
Sementes novas lançadas regando todo dia
Renascendo a alegria
Um quadro pintado em aquarela
Suplício fechar a janela.
Abelha procurando o alimento,
O ferrão o seu protetor,
Fabricando o mel pro sustento
Do perfume de uma flor.
O beija-flor a flor cobiçou
O pólen vai espalhando
Dele se alimentando
Da flor que se beijou
Da larva até o germe aparecer
Essa metamorfose acontecer
Em borboleta se transformar,
Da abelha, borboleta e beija-flor,
O poeta versos de amor.
Numa folha o seu saciar.
Explicação
Ó linda que nasce da terra que sai das ranhuras com tanta bravura do pé desta serra
Te pedi tanto para não perder sua formosura, seu cheiro, sua textura.
Pedi para juntar-se uma a uma formando um montão, caminhar mais um pouco formando turbilhão
Pedi para guanandi, sanca d'água, imbauba, pinhão do brejo, agarrar-te com seus pés, para dar-te firmeza, para chegar ao seu destino.
Porque nos causaste tanta tristeza?
Ó bebida amarga que provo todo dia
Em dias de calor ou em noites frias
Quero uma explicação !
Porque tornaste tão amarga ?
Levando nossas casas, meu arreio, meu cavalo
Minha tralha de montaria
Carregou nossa esperança
Nossos sonhos de criança
Ainda estamos de pé
Pode levar tudo que temos, levar o que quiser
Mas não levará jamais a nossa FÉ.
Ademir Missias
CARPE DIEM
Antes de anoitecer
Coma o fruto ele vai apodrecer
Ainda não escureceu
Conte seu sonho se ainda não o esqueceu.
Que desânimo é esse
Se bonito ou feio
Conte a alguém e se expresse
Não abandone seu anseio
Acredite na poesia
Mais feliz será seu dia
Segure essa paixão
A solidão e obscura !
Tristeza não tem cura !
E a rosa do sertão ?
Resiliência
Contrariando minha teoria
E tudo que escrevi
Refiz minha poesia
Por causa dum bem-te-vi
Que saberes você tem
Diante da Natureza
Escreve o que convém
Nunca se tem certeza
Com resiliência e dedicação
Exemplo de superação
Construiu um belo ninho
Hoje tem a sua morada
Segura e bem arrumada
Em meio a tantos espinhos
Furia
Quero esquecer esses conflitos.
Quero sofrer amnésia
dessas noites malditas,
dos rebeldes e dos sofridos embaixo dos destroços!
Quem devolverá nossa caminhada por entre avenidas e bosques, quem ajudará a resgatar nossos nomes, acorde-me das trevas, diante da furia e bombardeio,
Alguém aqui sera valente o bastante
para emprestar-me a coragem para não condenar ao infortunio alguém inocente, terá o destemor de negar pão, abrir a janela, ver a nuvem engolindo a lua.
Numa noite bela, impedir o sol de brilhar num dia claro, impedir o silêncio da noite,
e possível ver um céu estrelado, um coração tranquilo,
Quero acordar e
quem sabe eu possa concordar com a carnificina
ou apagar, talvez,
o fogo da guerra dentro de mim.