A.P. Abranches
Não há sensibilidade particular não conectada com o sentido coletivo... Deste modo a percepção do próximo será a sua notação.... Uns puxam outros para uma sensibilidade qualquer que possa atender uma regra dirigida...
Não é que eu não acredite em política ou religião... Eu apenas acho que crianças gostam de fantasiar... de imaginar... de sonhar... de brincar...
Os inconformados, os incomodados, os estranhos que estranham, sofrem por uma busca... Enquanto muitos olham apenas para o lindo céu azul...
Não existe isso de uma vida calma e tranquila, essa é uma das maiores falácias da história da humanidade... Idealizar um tempo, uma fase, ou alguns anos de tranquilidade à uma idéia de paz ininterrupta, não muda o fato real de que a humanidade é violenta, mata, e devora com a voracidade de um canibal... Essa idéia é utópica, irreal e infantil... Mas vamos brincar de sonhar: Supondo que eu escolha viver uma paz plena enquanto irmãos são massacrados, o que serei? No mínimo um louco.
Talvez paz seja para muitos um estado de espírito, até pela própria subjetividade... Por isso sentir paz deveria ser fácil, uma vez que toda a desgraça externa fosse ignorada... Mas como vivemos em meio à lei imperativa de uma dualidade, paz na Terra ainda é um discurso utópico dos sonhadores infantis, ou dos predadores hipócritas... Eu gosto de pensar, sempre que posso, que a Terra gira no próprio eixo pra devolver-nos o lixo que despejamos... Posso estar iludido.
Enquanto o belo discurso cativa muita gente, o caráter fraco age com maldade...
Enquanto uns mentem sobre a receita do bolo, outros já o fizeram e conhecem o sabor... Enquanto os "espertos" levam vantagem sobre os "bobos", o olho que tudo vê se arregala!
Não se impressione com belas palavras, lindas imagens, músicas suaves e sorrisos sedutores... O mal, se disfarça!
Como nos consolar, a nós assassinos entre os assassinos? O mais forte e mais sagrado que o mundo até então possuíra sangrou inteiro sob os nossos punhais – quem nos limpará este sangue? Com que água poderíamos nos lavar? Que ritos expiatórios, que jogos sagrados teremos de inventar? A grandeza desse ato não é demasiado grande para nós? Não deveríamos nós mesmo nos tornar deuses, para ao menos parecer dignos dele? Nunca houve um ato maior – e quem vier depois de nós pertencerá, por causa desse ato, a uma história mais elevada que toda a história até então” – Nietzsche, Gaia Ciência, §125
De fato, nós, filósofos e ‘espíritos livres’, ante a notícia de que ‘o Velho Deus morreu” nos sentimos como iluminados por uma nova aurora; nosso coração transborda de gratidão, espanto, pressentimento, expectativa – enfim o horizonte nos aparece novamente livre, embora não esteja limpo, enfim os nossos barcos podem novamente zarpar ao encontro de todo perigo, novamente é permitida toda a ousadia de quem busca o conhecimento, o mar, o nosso mar, está novamente aberto, e provavelmente nunca houve tanto ‘mar aberto’“ – Nietzsche, Gaia Ciência, §343
Não ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro da putrefação divina? – também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus continua morto! E nós o matamos!” – Nietzsche, Gaia Ciência, §125
Nietsche nunca foi ateu... Essa é uma das maiores bobagens ditas por quem não compreende ou não deseja entender suas obras. DEUS ESTÁ MORTO nunca foi uma afirmação do filósofo quanto à sua inexistência... O que ele disse é que DEUS é morto para o homem que diante de sua própria insensatez, tomado por sua inconsciência, optou por negar a concepção de uma divindade potente e reguladora da vida.
Suspeito que o homem votou pela morte de Deus decretando seu " fim ", não por motivo supostamente nobre que o valha, tendo em vista uma mudança de rumos e atitude quanto à própria evolução. Creio que isso seja improvável, e que sua escolha se baseia no medo e no pavor! DEUS NÃO ESTÁ MORTO.
A filosofia faz o homem ir de encontro ao cataclismo da existência... Leva o homem ao ar da beleza e do saber, bem como ao desespero e o caos, tendo em vista quem sabe um próximo melhor suspiro, ou a confiança por uma potência... Quem sabe??
No decorrer do meu viver, muitos fatos sucederam-se, bons e ruins... Os ruins são aqueles que nos marcam e modificam, pois os bons infelizmente acreditamos ser obrigação de nossos pais e de Deus. Bem... Com a busca por uma verdade, e consequentemente por uma deidade que algo me justifique, aprendizados variados ocorreram e ocorrem... Dentre eles meu testemunho de que nós homens comuns, vivemos sob a égide de um sistema pronto e calculado... Nele após séculos vividos, crenças viraram códigos de comunicação e controle, e convenções tradicionais que condicionam os pensamentos e os atos humanos. Nós não temos controle sobre nós, somos tão pouco boas ferramentas inteligentes, e quase sempre estamos sendo manipulados para a geração de algum resultado programado... Não há liberdade. Nos é concedida a sensação dela, também com restrições. Apesar de estarmos longe da conquista de nós mesmos, ainda assim a vida é boa e vale a pena, muito a pena, mas sabemos que somos incompletos, e que há qualquer coisa no ar, além dos aviões da TAM...
Admitir a verdade de que Jesus não existiu, é admitir que o demônio também não, por simples raciocínio lógico das frações matemáticas opostas, estudos teológicos do santo x anti-santo, e/ou tantas outras áreas de estudos... Por tudo que pressentimos do mundo no mundo, mais do que improvável, é impossível.
A distinção que fazemos de nós mesmos em relação aos outros é apenas nossa... é uma ilusão do ego... somos semelhantes em tudo... iguais em quase tudo... Estamos envolvidos num sistema que nos abraça, comprime e mistura...
Um aprendizado por vez! O depois fica pra depois... Uma criança que não sabe andar, se preocupa em bater o recorde dos 100 metros rasos?
Admitir que as energias da natureza e humanas circulam e rebatem, nada tem com religião... Por isso palavras pesadas são o mantra das desgraças... A hipocrisia reina nessa sociedade! Eu vejo gente querendo apenas atacar as religiões, qdo na realidade deveriam olhar para o quanto colaboram para os absurdos cometidos... Ex. banal: Quando dizemos que um time de futebol ATROPELOU o outro, usamos um termo que na realidade expressa uma morte ou violência no trânsito... Somos campeões nesse quesito e não nos incomodamos... Se existem vários tipos de culturas convenientes, a CULTURA DA MORTE está entre elas... Onde foi parar a cura do câncer? Tem coisas que não é o politicamente correto, e sim apenas o correto... Quando falamos em ódio, também não ajudamos em nada... Muito pelo contrário!
Não há nada nessa vida, nem feito ou conhecimento, que supere a beleza de uma criança ainda inocente... [ como eu disse antes, e não retiro ]