Ausência
Na ausência de metas claramente definidas nos tornamos estranhamente leais para realizar trivialidades diárias, até que, finalmente, nos tornamos escravizados por isto.
Quando a ausência do bom senso de alguém afronta a minha maturidade, percebo que o tempo ensinou-me a crescer.
Um dia, não sem custos, a necessidade de (re)começar transforma a lacuna do que está ausência irreversível, (apenas) naquilo que se foi.
Me deu saudade de você, saudade dá o que a ausência tira, então assim te sinto perto. Até de longe o teu abraço me aperta, sua voz eu escuto o tempo todo, suas mãos entrelaçadas nas minhas são a melhor combinação na vida. Tua mordida não é proibida, mas traz conhecimento do que é bom, a paz e a luz que teus olhos trazem, já dizia Djavan: "É irremediável neon".
Lembro da varanda, do sol, da ausência do sol, da cortina fechando e do teu corpo pairando sobre o meu.
Nem a ausência diminui a importância daqueles que estão sempre presentes, em nossas reflexões. (taw ranon)
As rimas das lembranças inexistentes transparecem um eu impresso pela ausência de você.
Um eu que se esvai bem lentamente, esfaqueado pelo tontear da mais impactante despedida.
A vida com porte de sua arma mais violenta mostra uma realidade envolta de momentos que não aconteceram e muito menos vão acontecer.
Momentos que se foram e nunca sequer existiram.
A saudade é flor que só floresce na ausência. É nela que se dizem as orações suplicando dos deuses a graça da repetição da beleza. E é só para isso que existem os deuses: para garantir o retorno do belo".
(Do Universo à Jabuticaba - [3 ed] Planteta, São Paulo, 2015).