As Dores do Mundo
Oh, corrupção, metamorfose perigosa:
deputados em covardes, astutos em tolos.
É evidente que gangrena a Presidência.
Prospera nas Comissões
e mesmo na Assembleia, com promoção.
Desperta paixões desenfreadas na nação.
Tenho dor no meu corpo e na minha alma.
Por todo o meu ser, a justiça clama.
Corrupção, vampira da minha sociedade;
seduz as mentes em um estado de enfermidade.
Ela se familiarizou com a Justiça;
e lucra, em abundância, onde semeia iniquidade.
Não há mais promotores, nenhum magistrado,
juiz, instrutor ou advogado,
para dizer o que é direito e novamente fazê-lo;
em esterilidade de dádivas, preferem falsificá-lo.
A corrupção veste a Justiça com ouro e prata.
Interrompe o equilíbrio, certidão de virtude aristocrata.
Elação do injusto e lasso do oprimido.
Ela brilha em sua alma e mergulha em um drama banal.
Isso distorce o campo da saúde,
os métodos pet-scan morrem antes da doença infernal,
onde a noção de qualidade é a quantidade sem virtude.
O juramento de Hipócrates vazio, e a saúde do paciente formalidade.
QUEIROZ, Suelen . As dores do mundo. 1. ed. Florianópolis: Bookess, 2017. cap. 1, p. 14-16. v. 1.
A vida de Curitiba
Curitiba está fria, Curitiba com fome
Curitiba não come mais pinhão na rua
Curitiba usa roupas velhas do passado
Curitiba dorme em pé no Circular Sul
Mais desgraça ainda é imposta aos pobres
E sabedoria, loucura
Da desafortunada Curitiba.
É ar puro, é fogo de Iansã
É beleza, é bondade
De seus trabalhadores famintos.
Não grite por ajuda, Curitiba.
Você está vivendo uma sorte sem igual
E por trás de toda nudez
Sua palidez de magreza
Tudo o que é humano, vendado em seus olhos
Curitiba, minha linda cidade.
Bem como uma espada de Ogum afiada
Engenhosa e bem trabalhada
Você não pode suportar a injustiça
Para você é a única bagunça
Você vai se libertar de Curitiba.
Curitiba tremendo como uma estrela
Nossa esperança sobrevivente
Você vai se libertar da fadiga e da lama
Irmãos, tenham coragem
Nós que não temos capacetes
Nem botas, nem luvas, nem criadas.
Um raio se acende em nossas veias
Nossa luz, Iansã volta para nós.
Os melhores de nós são mortos por nós
E aqui o sangue deles encontra o nosso coração
E é novamente de manhã, uma manhã de Curitiba.
No Paço da Liberdade,
O espaço da coragem nascente.
A força da cidade, a voz das periferias
Escravos da injustiça, nossos inimigos
Se eles entendessem
Se eles são capazes de entender
Irão se levantar.
Navegantes
A pobre casa de taipa adormece em Guamaré.
De barro e madeira, cheia de hóspedes.
Guardiã das tristes estrelas na alta maré.
As redes de pescadores penduradas nas paredes.
Nas tábuas de um aparador desbotado,
Onde humildes pratos repousam como amigos.
Uma grande rede, com cores de um tempo passado,
Estende-se perto do colchão sobre velhos bancos.
Há nove crianças, almas jogadas ao vento.
O fogão de lenha cheio de chamas nos trópicos,
Curva-se diante do teto escuro e sem mantimento.
Uma mulher de joelhos reza para Santa Conceição.
É a mãe. E lá fora, redemoinhos de poeira dançam.
No céu, os ventos, as rochas, as dunas, o coração.
Na sombra, as ondas sinistras do mar soluçam.
II
Um homem no mar. Desde criança marinheiro,
Seu corpo se lança na batalha rumo ao acaso.
Na máquina do Mundo, ele deve ir primeiro
Porque seus filhos estão com fome, sem atraso.
A água sobe os degraus da ventura humana,
Sozinho, governa seu barco com quatro velas.
A mulher está em casa, costurando a lona insana,
Remontando as redes, tudo prepara sob as estrelas. Observando a lareira onde o caldo de peixe ferve.
As crianças dormem, a fome é um injusto castigo.
O marinheiro quebra as ondas que a vida lhe serve.
Os ventos sombrios respiram sem receio do perigo.
Trabalho árduo! tudo está frio; nada brilha.
No alto mar, entre os olhares da esperança,
A procura da boa pesca no dilúvio da maravilha, em movimento, caprichoso, sempre de mudança.
No labirinto das águas, há um ponto de fertilidade
De peixes prateados onde o mar hospedava.
Caminho do alvorecer de tanta miséria e adversidade
Nesse sertão iluminado enquanto o Sol descansava.
O refresco na chuva e na névoa, em dezembro,
Para conhecer este ponto no deserto em movimento,
Como combinar as manobras certas sem assombro?
É necessário calcular a maré e o vento!
Cobras venenosas ao longo dos córregos,
E horrorizam o barco amedrontado.
O abismo tem caminhos com perigos cegos.
Ele pensa em Valdeci quando enfrenta o mar irado.
A mulher chorando o chama, seus pensamentos
Cruzam a noite, pássaros divinos sem aposentos.
III
Ela pensa, ela sonha. – Canta o cardeal do nordeste.
Seus filhos ficam descalços no verão determinado.
Não há pão de trigo. Comemos mumgunzá do agreste.
- Oh Deus! o vento rugiu como um metal forjado.
Constelações, bailarinas do sertão peregrino
Por testemunho, em nome de Jesus crucificado,
Dançarina alegre é a hora de rir, espírito divino.
Sob os olhos iluminados do lobo armado.
Na hora da meia-noite, o ladrão misterioso,
Velado com sombra, chuva, já postos em cilada.
Tomam a face do pobre marinheiro furioso.
De repente, as dunas veem a dama desejada. Horror!
O homem uiva, voz humana extinta.
O edifício da bondade que mergulha, afunda.
Ele sente a sombra e o abismo abaixo dele, levanta.
Rumo ao porto de Santos onde a luz abunda.
Essas visões tristes perturbam seu coração.
Valdeci chora com um adeus a embarcação.
IV
Foge para Macau, com um grito e zombando
O indesejável ciúme, entre o amor em pranto,
O oceano a assusta e memórias vai lançando.
Na mente: marinheiro, o mar chorou tanto.
Levado pela raiva das ondas; pelo ódio
E em sua peixeira, o sangue na artéria, fato eterno.
O relógio bate frio, jogando as horas no mistério,
Gotejando o tempo, clima, verão, inverno.
E cada batida no universo, de cometas trémulos,
Abrem a ferida do sagrado cadáver materno.
De um lado, os berços e, do outro, túmulos.
No caminho tão árduo das mentes sem governo.
V
Senhor da morte, Pescador de almas!
Segura os braços gelados de sua mãe que partiu,
Criança Navegante, filha do sertão, sem palmas.
Neste caos! coração, sangue. Deus permitiu.
Céus! Pior que a prisão das ondas é ser a presa do desatino.
A água salgada cura todos os maus pensamentos.
O engano em figura de paz, manda o assassino.
Da felicidade infantil ao mundo de sombrios elementos.
O vento soprando destrói sua trança, põe por terra doces ilusões.
E vendo tanta injustiça, alma desamparada, foge atormentada.
Tanto vitupério que o Céu se revolta nesta hora de opressões.
Para enfrentar este mar de sofrimentos, trovoada.
Todos os abismos onde nenhuma estrela brilha,
O escudo da luz divina surge na fronte marítima
Acolhe um fraco humano que se humilha.
Corre a esperança na entranha da vítima.
Liberdade
Nos cadernos da escola pública,
nas cores da bandeira da República,
na areia da praia.
Escrevo seu nome.
Em todas as páginas lidas da Constituição,
em todas as páginas sujas da corrupção,
na minha pele.
Escrevo seu nome.
Nas nuvens da abóbada celeste,
sobre o escudo das armas dos anjos do Leste,
na coroa dos reis.
Escrevo seu nome.
Na Floresta Amazônica, na Mata das Araucárias,
nas algemas escravocratas, nas almas solitárias,
no eco da minha infância.
Escrevo seu nome.
Sobre as paredes da senzala,
no pão dos dias cinzentos,
nas estações de metrô paulistanas.
Escrevo seu nome.
Em todas as minhas lágrimas,
no frio de Curitiba,
no lago da lua viva.
Escrevo seu nome
Nos campos no horizonte,
nas asas dos pássaros, na minha fronte,
e na ruína dos sonhos.
Escrevo seu nome.
No trabalho árduo dos camponeses,
no mar de barcos portugueses,
Em cada sopro da madrugada.
Escrevo seu nome.
No espelho português, no coração do indígena,
na dor insuportável da gangrena,
sobre a fruta cortada pela metade
A vida de Friedmann
Mais uma vez, a velha mentira levanta
A cabeça depois do seu amanhecer!
Espere seu povo, sua Vitória.
Filho da nação germânica!
No interior do Paraná, a espada da Justiça
Segure firme, você foi escolhido.
O que comprou com suor e sangue:
Nascido da liberdade do povo
No batismo da sua pátria!
Você é sério,
Cercado por inimigos em negrito;
Agora, como já foi dito
O sentido sólido, o melhor espírito!
Nem um passo de retrocesso,
É um passo atrás para o servo;
Nenhuma folha do seu carvalho no chão!
Nenhuma palavra do seu direito pleno ao vento!
Tantos climas experimentados para um mundo sem flagelo.
Quem te inspirou a deixar o porto seguro
Para preferir o mar dos campos de batalha impuro.
Deus quem o quis, é o deus dos exércitos,
Quem olha com piedade, as lágrimas dos soldados,
Ele entregou nossos vastos inimigos aflitos,
Sob o peso de um jugo rigoroso para os vilipendiados;
O sol nascente vê primeiro
As façanhas no seu escudo derradeiro.
O anjo exterminador abençoa a terra do Cruzeiro do Sul;
Ele colocou em seu sotaque um som ameno
A esperança nos seus olhos sinceros, a força em seu braço tardo
E disse à ovelha com passo pequeno: Rasgará o leopardo.
Um novo ramo florescente da árvore de Cristo Mais amada que nenhuma nascida no Ocidente benquisto.
A vida de Camila
Quem inspira a jovem guarda da Pátria?
O anjo de asas, a muralha do Brasil.
Contempla o vulto sagrado da bandeira latria.
E o grito de guerra, nação gentil?
Disciplina, amor e coragem
Cortam o ar como um pássaro selvagem.
A fé dos compatriotas não foi enganada;
Em sua farda, toda a esperança da brava gente.
Mas o poder dos injustos quebra sob sua espada os capacetes de bronze reluzente?
Que se espalhe pelo Universo,
Os seus sublimes feitos cantados em verso.
O alvorecer do dia vê brilhar sua armadura,
O aço pesado cobre seu cabelo,
E na luta cumpre a missão com bravura.
O que meu longo esforço não teria alcançado?
Não, você não é meu objetivo, não, você não é meu limite.
Para atravessar o seu domínio,
Levo Xangô em meu caminho.
Eu não venho das profundezas da eternidade sombria.
Para alcançar nada além do seu nada.
Você não me vê, sem cansaço e sem trégua,
Iansã está na imensidão das obras justas.
No moinho do mundo, minha esperança e meu sonho,
Triturados de mil maneiras, filhos de Aruanda.
A rainha semeia a dor, paciente ou com pressa,
E até sua voz, perseguindo meu design,
Para formar, a vida e até o pensamento
A guerra se espalha no meu peito.