Voz do Silêncio
Mergulha no silêncio da tua alma, para que nem mesmo a tua voz interior te perturbe com melodramas que se avizinham
Silêncio.
O silêncio é privilégio.
Fico imaginando Deus a ouvir todos os sons da terra se propagando em ondas até o céu, e invadindo o seu universo, todo dia e toda noite… sem parar e infinitamente… infinitamente barulhento e ruidoso… sete bilhões de vozes, mais bilhões de ruídos de animais, e folhas e ventos e objetivos que se chocam, sons estridentes, músicas boas e ruins… buzinas, gritos, e orações. Pensamentos… preces silenciosas para os ouvidos, mas que soam ao coração. Sons de tiros, sons de gaitas e foles, o som de um parto, de uma obra qualquer… todos estes sons somados um a um, espalhando-se e multiplicando-se até os ouvidos de Deus. Meu Deus! Impossível de imaginar…
O silêncio é liberdade. É libertador.
Mas é quase utópico.
Estamos sempre acompanhados de sons… do mundo todo, e dos pensamentos, vozes, imaginação, inconsciente… até quando pensamos estar em silêncio… será, que de fato, estamos?
O silêncio é necessário…
Porém, ele, na verdade, não existe…
Falamos em silenciar o exterior, sempre na perspectiva de calar uma voz para ouvir outra (no caso, a interior), mas nunca para que não escutemos nada, de fato.
Como silenciar o externo, o interno, o consciente, o inconsciente, como é que podemos estar realmente, em silêncio absoluto?
Se silenciarmos tudo, ainda assim, a batida de nosso coração produziria som…
O silêncio absoluto significaria, então, a morte?
Nesta vaga reflexão,
Chego à conclusão de que atingimos o silêncio quando, na verdade, calamos a nós mesmos, aos outros tantos, e nos permitimos ouvir a voz e o som de Deus… é quando o som, seja interno ou externo, vem cheio de paz e alegria para a alma, para a mente e para o coração. Quando ele simplesmente conforta…
Silêncio é quando nos permitimos sentar no banquinho do jardim de Deus.
Basta alguns instantes de silêncio, principalmente, na madrugada, para que os meus pensamentos fiquem mais barulhentos como se falassem em voz alta, todos aos mesmo tempo em um dialeto formado de certas palavras e veementes sentimentos.
O meu sono em vários momentos foi afastado graças a este barulho da minha mente e muitas vezes o que pude fazer a respeito, foi organizá-lo através da inspiração, transformando-o em versos e assim, ainda faço, um dos jeitos de não desperdiçar o fato de ficar acordado.
E por consequência, a partir de um horário inoportuno, um poema pode ser formado, um caos convertido em clareza, algo que já é muito esperado, tratando-se de um poeta, que ainda que seja um novato neste mundo poético, fica facilmente inspirado.
"Que a tua Alma dê ouvidos a todo o grito de dor como a flor do lótus abre o seu seio para beber o sol matutino.
Que o sol feroz não seque uma única lágrima de dor antes que a tenhas limpado dos olhos de quem sofre.
Que cada lágrima humana escaldante caia no teu coração e ali fique; nem nunca a tires enquanto durar a dor que a produziu.
Estas lágrimas, ó tu de coração compassivo, são os rios que irrigam os campos da caridade imortal.
É neste terreno que cresce a flor noturna de Budha, mais difícil de achar, mais rara de ver, do que a flor da árvore Vogay. É a semente da libertação do renascer."
Versos tecidos no silêncio
Quantas horas leva alguém para se tornar expert em um assunto?
Foram milhares as horas que dediquei ao meu silêncio.
Hoje, é a língua na qual possuo maior fluência.
Aprendi a escutar o tempo,
a respirar o compasso de cada segundo.
Ao respeitar sua dança, percebi:
o silêncio não é ausência,
mas uma fonte infinita de compreensão.
No silêncio, as palavras ganham novos contornos,
como se cada sílaba fosse esculpida pela quietude.
A ausência de som cria melodias invisíveis,
e os sentimentos nascem, livres,
sem a limitação da fala.
Uma sinfonia espacial.
Descobri que, quando a boca cala,
outros sentidos florescem.
Os olhos traduzem o que os lábios calam,
o olfato beija o tato,
e os ouvidos, ah, eles leem o murmúrio do mundo.
Na quietude, encontrei a língua do sentir.
Foi assim que fiz poesias com meus sentidos.
MUITAS VOZES (HOMENAGEM FERREIRA GULLAR)
Que vozes são essas?
Que até no silencio fala comigo?
Procuro dizer sem saber
O sentimento fala em meu ser
Dos poemas lidos
Dos amores esquecidos
Dos amigos perdidos
A voz presa na garganta
São manifestos?
São esperanças?
As vozes são tudo que carregamos
Do pai
Da mãe
De anos
O tom que temos
O tom que sabemos
É herança do que já esquecemos
Muitas vozes ao mesmo tempo falando
Eu aqui em silencio
Apenas observando
O que encanta
Não são os olhos, mas o olhar.
Não é a boca, mas a voz e o silêncio.
Não é o fôlego que me dá, mas a falta de ar.
Não é o que se tem, é o que podemos encontrar.
Voz do silêncio polifonia vazia
Voz do amor melodia tardia
Voz avós vós uníssono
Ressoa no luto a dor
Grito sem voz
Início e fim
Voz avós
A vós
Vó
“O arrogante acha-se tão confiante que seu silêncio diante um questionamento óbvio é como voz revelante num megafone.”
Será em vão?
Minha voz ecoa em teu silêncio
Meu ardor na tua contidez
Crio palavras, utopizo minha história
Mas por que corro se ainda caminhas?
É tão bom, mas me definha
O sol que ilumina, também pode queimar
Desculpe, mas vou me retirar
É assim que sou não sei mudar
Não estou abandonando
Apenas recarregando
Esse silêncio e vazio por hoje sou eu quem planto.
Minha voz rasgou o silêncio que você deixou guardado aqui, nessa alma calejada de tantos erros perdoados e repetidos.