Vou Morrer

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Eu tinha dito que iria propor tirar a palavra utopia do dicionário. Mas, enfim, não vou a tanto. Deixe ela lá estar, porque está quieta. O que eu queria dizer, é que há uma outra questão que tem de ser urgentemente revista. Tudo se discute neste mundo, menos uma única coisa: a democracia. Ela está aí, como se fosse uma espécie de santa no altar, de quem já não se espera milagres, mas que está aí como referência. E não se repara que a democracia em que vivemos é uma democracia seqüestrada, condicionada, amputada.

O poder do cidadão, o poder de cada um de nós, limita-se, na esfera política, a tirar um governo de que não se gosta e a pôr outro de que talvez venha a se gostar. Nada mais. Mas as grandes decisões são tomadas em uma outra grande esfera e todos sabemos qual é. As grandes organizações financeiras internacionais, os FMIs, a Organização Mundial do Comércio, os bancos mundiais. Nenhum desses organismos é democrático. E, portanto, como falar em democracia se aqueles que efetivamente governam o mundo não são eleitos democraticamente pelo povo? Quem é que escolhe os representantes dos países nessas organizações? Onde está então a democracia?

Diz que me ama, mas suas atitudes só me provam o contrário. Não vou esperar você decidir se me quer ou não na sua vida. Tenho muita coisa aqui pra te oferecer, mas sabe o que é? Sou incompleta, também preciso receber. Portanto, não se assuste se um dia eu acordar com a capacidade de te olhar nos olhos, sorrir e dizer adeus.

Eu não vou mudar não
Eu vou ficar são
Mesmo se for só
não vou ceder

Eu não vou colocar minha a base de minha fé em bugigangas e invenções. Com um jovem com grande parte de minha vida ainda pela frente, eu decidi bem cedo dar minha vida por algo absoluto e eterno. Não para estes pequenos deuses que estão por aí hoje, e amanhã se vão, mas para Deus que é o mesmo ontem, hoje e para sempre.

O que eu nunca vou saber é porque faço tudo isso comigo só porque tenho tanto pavor do tédio. Era só isso o que eu precisava saber.

Se ficar assim me olhando
Me querendo, procurando
Não sei não eu vou me apaixonar
Eu não tava nem pensando
Mas você foi me pegando
E agora importa onde vá

Me ganhou vai ter que me levar
Você me vê assim do jeito que eu sou
É e faz de mim, tudo que bem quer
Eu que sei tão pouco de você
E você que teme em me querer

Se ficar assim me olhando
Me querendo, procurando
Não sei não eu vou me apaixonar
Eu não tava nem pensando
Mas você foi pegando
E agora não importa onde vá
Me ganhou, vai ter que me levar
Com você é bom qualquer lugar.

Não telefono para mais ninguém. Quem quiser que me procure. E vou me fazer de rogada. Agora acabou-se a brincadeira.

Clarice Lispector
A via crucis do corpo. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.

Vou continuar, é exatamente da minha natureza nunca me sentir ridícula, eu me aventuro sempre, entro em todos os palcos.

Clarice Lispector
Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Quatro Letras

Um dia, quando você menos esperar
Eu vou voltar sorrindo
Como se nada tivesse acontecido

Todo esse tempo de dor
Que eu passei andando por aí
Todo esse tempo que eu tentei gritar
A palavra amor bem alto
Para ver se me convencia de uma vez
Do significado implícito nessas quatro letras
Esfregando na cara das pessoas
As coisas boas que eu tinha
Mas não conseguia mostrar

Até que o tempo enfim foi me vencendo
Sob o olhar condescendente
Das pessoas que eu mais detestava

É duro reconhecer
Que todo esse sofrimento
Foi em vão
Porque não existe vida quando a gente está triste e só
E ninguém quer saber de quem está por baixo
Não vale a pena sofrer, meu amor
De tudo o que eu passei
Essa foi a única lição

Um dia quando você menos esperar
Eu vou voltar cantando
Como se nada tivesse acontecido

Não vou dizer que é fácil e que nunca deu vontade de desistir, mas vale muito mais a pena continuar.

Vou escrever alguma coisa que não sei o que seja, justamente para ficar sabendo. E que só eu posso me dizer, mais ninguém

Algumas vezes, quando me calo, é porque sei que se falar, vou chorar.

A solidão às vezes é tão nítida como uma companhia. Vou me adequando, vou me amoldando. Nem sempre é horrível. Às vezes é até bem mansinha. Mas sinto tão estranhamente que o amor acabou.(...) Repito sempre: sossega, sossega - o amor não é para o teu bico.

E da próxima vez que a gente se encontrar, vou pedir para o relógio do mundo dar uma paradinha, só pra esticar esse tempo de abraço que fez meu coração pulsar de um jeito que jamais nenhum outro fará.

Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são.

Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.

“Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl, te levará até ao fim do mundo”. Mas o fim do mundo, desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta, é o mesmo Entepfuhl de onde se partiu. Na realidade, o fim do mundo, como o princípio, é o nosso conceito do mundo. É em nós que as paisagens têm paisagem. Por isso, se as imagino, as crio; se as crio, são; se são, vejo-as como às outras. Para quê viajar? Em Madrid, em Berlim, na Pérsia, na China, nos Pólos ambos, onde estaria eu senão em mim mesmo, e no tipo e género das minhas sensações?

A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos.

Fernando Pessoa
SOARES, B. Livro do Desassossego. Vol.II. Lisboa: Ática. 1982. 387p.

E eu impávida finjo que não tenho dono. Pontas de cigarro apagadas eu recebo. Um dia vou pegar fogo. De noite fico sozinha no escuro, vazia, pousada num canto do chão. Meu silêncio fede. Ai de mim, que sou o receptáculo da morte das coisas.

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.

Vou sair para ver o mar e me perder entre os labirintos que distanciam nossos passos. Vou te procurar entre as estrelas e os satélites distraídos, que confusos me ditaram caminhos errados e esparsos.

Vou chegar atrasada e distraída,
como quem saiu do trabalho e foi direto pro bar.

Vou pedir um hi-fi inocente
e olhar toda hora pro relógio
como se estivesse alguém me esperando em outro lugar.

Vou rir bastante, manter um ar distante
e esquecer quanto tempo faz.

Vou perguntar pelos amigos e, se aceitar carona,
deixar cair um brinco no banco de trás...

Martha Medeiros
MEDEIROS, M. Poesia Reunida. Porto Alegre: L&PM, 1999.

Nunca mais vou pensar em você, nunca mais
Tanto faz um a mais entre tantos finais
Eu não vou semear fantasias e melancolia
Nunca mais, nunca mais...

Vai passar né? Eu sei. Com o tempo eu não vou mais olhar sua foto, nem sofrer, nem pensar o quanto é infeliz tudo o que aconteceu. Tomara que passe logo. Porque a vontade de te ressuscitar ás vezes, me domina.