Voar
A poesia é um abismo sem fundo. Quando você pula nunca mais volta, e tem a liberdade de voar eternamente.
Não sou Anjo, e nem tenho asas pra voar e te envolver. Mas tenho braços pra te dar carinho e te aquecer!!!
As pessoas pulam pedindo a Deus pra que possam voar, por que do contrário elas caem como uma pedra, pensando até chegar lá em baixo por que, mas porque eu pulei, eu continuo caindo, e só tem uma pessoa que me faz sentir que eu possa voar, você!
O pensamento é como uma gaivota..
Livre a voar.
Por isso vivo a voar..em meus pensamentos.
Vôos rasantes..
Infinitos..
Distantes.
As vezes me sinto um simples anjo em meio ao apocalipse que não sabe para onde voar e nem ao menos onde pousar.
"Não é que adoramos estar sozinhos; é que adoramos voar muito alto e, quando voamos alto, a companhia fica cada vez menor até desaparecer... Não somos os mais inferiores a desejar atingir os cumes, embora a multidão não ascenda até a eles."
Eu sabia da possibilidade de voar... Eu sabia que era apenas uma questão de tempo pra me atirar das alturas... O que eu não sabia, é que o primeiro passo para se voar longe, é aprender a ter os pés no chão!
Existe uma frase, muito interessante, que diz que “Quem ama deixa o objeto amado livre para voar, se ele voltar, é porque você o merece, se não voltar, é porque você nunca o teve.”. Esta frase é muito bonita, bonita e verdadeira. Porém, também existe uma outra frase, tão verdadeira quanto à primeira, que diz que “Quem ama cuida.”. Mas se as duas frases são verdadeiras, como saber a qual seguir, se elas são de certa forma contraditórias? Isso é simples, basta saber a situação. O amor é como um pássaro, que como tal precisa ser livre para voar.
Mas assim como um pássaro ele também pode se ferir. Se machucar muito. O pior, é que muitas vezes este grande ferimento não vem de uma vez só, mas sim aos poucos, em pequenos ferimentos fragmentados. Muitas vezes ele consegue se levantar e seguir sozinho, consegue voltar para casa, voltar para seu lar. Mas para isso ele precisa que estes pequenos ferimentos sejam tratados, precisa perceber que está tudo bem. Mas muitas vezes ele é esquecido, e estes ferimentos se acumulam, chegando a tal ponto que ele está longe não porque está livre, mas sim porque está tão ferido que já não tem forças para voltar, não sozinho.
E é nessa hora que ele mais chama atenção, pia, pia e sussurra, em busca de ajuda, em busca de cuidado. Mas o engraçado é que muitas vezes esse ‘pios de dor’ são confundidos com ‘pios de liberdade’. E sofrendo, cada vez mais sofrendo, chega a um ponto que o pássaro perde as forças até mesmo pra piar, até mesmo para insistir com a sua vida. Porque ninguém percebe isso? É tão difícil assim?
Em muitos casos, esse é o momento que marca o fim da vida do pássaro, e essa morte veio não por ele ter sido livre, mas sim por ter se ferido inúmeras vezes, e ter tido estes ferimentos ignorados por aquela na qual ele mais confiava, na qual ele mais buscou apoio. Na maioria das vezes isso não é intencional, mas se deve pelo simples fato de ter sido confundido com a liberdade. Mas não, isso não é ser livre. Isso não é ser feliz Isso não é viver.
Ser livre, sim, ser livre é importante, mas mais importante do que ser livre é importante ser cuidado, sentir que você tem alguém para quem voltar. Por mais belo que possa ser, um pássaro é frágil, e muitas vezes pequenas coisas, como uma simples pedrinha, são capazes de causar grandes estragos no mesmo. E então, já parou pra pensar se o seu ‘pássaro’ é livre, feliz, ou se está longe porque está ferido?
Não é justo perder as asas no momento em que se descobre tê-las. É preciso poder voar, é preciso ter uma visão estratégica das janelas. Ver o sol e não poder tê-lo é absurdo.
O Pequeno Passarinho
O passarinho quereria voar para o Sol brilhante que lhe fascina o olhar;
quereria imitar as Águias, suas irmãs, que vê elevarem-se até ao fogo divino da Santíssima Trindade... Pobre dele! tudo quanto pode fazer é agitar as suas pequenas asas; mas levantar voo, isso não está no seu pequeno poder! Que será dele? Morrerá de desgosto, ao ver-se impotente?... Oh, não! o passarinho nem sequer se vai afligir. Com um audacioso abandono, quer ficar a fixar o seu divino Sol. Nada seria capaz de o assustar, nem o vento nem a chuva; e se nuvens sombrias chegam a esconder o Astro do Amor, o passarinho não muda de lugar, pois sabe que para além das nuvens o seu Sol brilha sempre, e que o seu brilho não se poderia eclipsar nem por um instante sequer.
É verdade que às vezes o coração do passarinho se vê acometido pela tempestade; parece-lhe não acreditar que existe outra coisa, a não ser as nuvens que o envolvem. É então o momento da alegria perfeita para a pobre e débil criaturinha. Que felicidade para ela, permanecer ali, apesar de tudo, e fixar a luz invisível que se esconde à sua fé!!!...
Jesus, até agora compreendo o teu amor para com o passarinho pois ele não se afasta de Ti. Mas eu sei, e Tu também o sabes, muitas vezes a imperfeita criaturinha, ficando embora no seu lugar (isto é, sob os raios do Sol), deixa‑se distrair um pouco da sua única ocupação; apanha um grãozito à direita e à esquerda, corre atrás de um vermezito... Depois, encontrando uma pocita de água, molha as penas ainda mal formadas; quando vê uma flor que lhe agrada o seu espírito entretém-se com essa flor... Enfim! não podendo pairar como as Águias, o pobre passarinho entretém-se ainda com as bagatelas da terra. Não obstante, depois de todas as suas travessuras, em vez de se ir esconder num canto para chorar a sua miséria e morrer de arrependimento, o passarinho volta-se para o seu Bem‑amado Sol, expõe as asitas molhadas aos seus raios benfazejos, geme como a andorinha e, no seu doce cantar, confia, conta em pormenor as suas infidelidades, pensando, no seu temerário abandono, conseguir assim maior influência e atrair mais plenamente o amor d’Aquele que não veio chamar os justos mas os pecadores... Se o Astro Adorado continuar surdo ao chilrear plangente da sua criaturinha, se permanecer velado..., pois bem: a criaturinha continua molhada, aceita ficar transida de frio, e ainda se alegra com esse sofrimento que, aliás, mereceu...
Ó Jesus! como o teu passarinho está contente por ser débil e pequeno. Que seria dele se fosse grande?... Nunca teria a audácia de aparecer na tua presença, de dormitar diante de Ti... Sim, aí está mais uma fraqueza do passarinho: quando quer fixar o Divino Sol, e as nuvens o impedem de ver um único raio, contra sua vontade os seus olhitos fecham-se, a sua cabecinha esconde-se debaixo da asita, e a pobre criaturinha adormece, julgando fixar ainda o seu Astro Querido. Ao acordar, não fica desolado, o seu coraçãozinho fica em paz, e recomeça o seu ofício de amor. Invoca os Anjos e os Santos que se elevam como Águias em direcção ao Fogo devorador, objecto do seu desejo.
E as Águias, compadecendo-se do seu irmãozinho, protegem-no, defendem-no, e põem em fuga os abutres que o queriam devorar. Os abutres, imagem do demónio, o passarinho não os teme, pois não está destinado a ser presa deles, mas da Águia que contempla no centro do Sol do Amor.
Por tanto tempo quanto quiseres, ó meu Bem-amado, o teu passarinho ficará sem forças e sem asas; permanecerá sempre com os olhos fixos em Ti. Quer ser fascinado pelo teu divino olhar, quer tornar‑se a presa do teu Amor... Um dia, assim o espero, Águia adorada, virás buscar o teu passarinho e, subindo com ele para o Fogo do Amor, mergulhá‑lo‑ás eternamente no ardente Abismo desse Amor, ao qual se ofereceu como vítima...
(História de uma Alma, Ms B 5rº-vº)