Vivemos
O tempo e o espaço são modos pelos quais pensamos e não condições nas quais vivemos.
As criaturas que habitam esta terra em que vivemos, sejam elas seres humanos ou animais, estão aqui para contribuir, cada uma com sua maneira peculiar, para a beleza e a prosperidade do mundo.
Nós nascemos sozinhos. Nós vivemos sozinhos. Nós morremos sozinhos. E qualquer coisa neste intervalo que possa nos dar a ilusão de que não estamos sós, nós nos agarramos a ela.
Nascemos, vivemos por um momento breve e morremos. Tem sido assim há muito tempo. A tecnologia não está mudando muito este cenário.
Nós vivemos dentro de um grande conto de fadas, do qual ninguém faz realmente ideia.
(A garota das laranjas, p. 110).
A morte não nos concerne, pois quando vivemos, a morte não está aqui. E quando ela chega, não estamos mais vivos.
Vivemos a grande invasão dos lugares-comuns, dos uivos de medíocres ecoando asnices para ocultar sua solidão deprimente.
Eu não conheço todas as flores, mas vou mandar todas que eu puder. Vivemos tempos de loucos amores, só é feliz quem sabe o que quer.
Vivemos em uma época perigosa. O homem domina a natureza antes que tenha aprendido a dominar a si mesmo.
Todos vivemos com a ilusão de que os outros, por fora, nos vejam como nós imaginamos ser por dentro. E não é assim.
Vivemos numa sociedade consumista, numa sociedade de desejos, e não de projetos existenciais. Ninguém planeja ter amigos, ninguém planeja ser tolerante, superar fobias, ter um grande amor.
Vivemos no poço escuro da web. Ou buscamos a exposição total para ser "celebridade" ou usamos esse anonimato irresponsável com o nome dos outros.
Nenhum de nós sabe o que existe e o que não existe. Vivemos de palavras. Vamos até à cova com palavras. Submetem-nos, subjugam-nos. Pesam toneladas, têm a espessura de montanhas. São as palavras que nos contêm, são as palavras que nos conduzem. Mas há momentos em que cada um redobra de proporções, há momentos em que a vida se me afigura iluminada por outra claridade. Há momentos em que cada um grita: - Eu não vivi! eu não vivi! eu não vivi! - Há momentos em que deparamos com outra figura maior, que nos mete medo. A vida é só isto?