Vital
IDÍLIO
Todo sonho que sonhei, despojei.
Logo que nasci trancaram-me em si.
Toda vida vivida cedida tornei.
Querendo ser tudo que sonhei
Me perdi.
Separei todos os porquês!
Porque, ser é sem enquanto!
E, nem a metafísica vai explicar.
Por quê?
São duas as estradas
Que me tomam, afinal.
Ambas paralelas, bifurcais.
A de ser tua
Conduz-me a teu final.
Logo, deixo a outra, abstrata
Sem a luz de teus sinais.
AMOR PELO NÃO
O amor?
Ah, o amor!
Amar sob o gesto de dizer
Não.
O amor sem o não é fugaz e mortal
Quando sim, contrapõe-se à razão.
Logo, é pragmático dizer sim.
Gesticula suposta indulgência
O sim é elementar e mascara
A incoerência, insensatez...
O amor é volúvel quando se atem
Ao sim.
Na sensatez do ser
Não é simplório dizer não
Entretanto, quem ama com razão
Diz não.
O sim remete à compaixão
E segrega as nuances do coração.
LEIA
Se encontrares esse poema leia.
Rasgue e jogue-o ao vento.
Para que seus sobejos se espalhem no variado universo.
Depois procure-o!
Vasculhe o coletor de lixo, as orlas e até tua casa.
Só leia e, leia!
Porque o sol, a chuva, a lua e, o moço do lixo.
O destruirão de vez...
Por fim procure-o em si.
SUPLICANTE
Se queres me negar, seja de pouquinho
Que não possa ouvir o tilitar do teu coração
Enebriar-se de rancor.
Quando fores... Saia de mansinho
Pode estar meu coração.
ABJETO
Quando o império pensar que virá
Sério! Já serei terno.
Não queira ouvir a voz que seduz!
Quando o mistério voltar
Mister será senil.
Imperativos...
Produz almas vazias.
LUSCINIA
Sob o sol ainda brando da aurora
A sutileza dos ventos pacífica sua cópula sobre a copa das árvores em bulicio.
Tinhosa, a clorofila põe -se em rosa pros acordes dedilhar.
Seu canto magestoso me embala a versejar.
Prefiro a lira do seu canto
A copla de seus versos
Suas rimas seu trovar.
O mais celebre dos poetas
Se fazia destoar.
SINESTESIA
Todos nós somos sozinhos
Na pele e na alma.
Quando adolescente a solidão
Fazia-me sentir-se o mais infeliz dos humanos.
Hoje, sinto essa necessidade de estar sozinho.
A solidão é condição sine qua non do ser humano.
Adultos são tristes e solitários.
Apesar de perigosa e viciante
Nada assustadora.
Remete ao cerne das inspirações.
Sobre o amor a solidão se acalma.
Criança possui fantasia...
Às vezes, preciso encontrar a criança
Que deixei no passado a chorar
Solidão, a fantasia!
Viva a fantasia!
Colossais figuras humanoides
Viajam na imaginação dos amantes.
NUDEZ
Me despi
Não do corpo têxtil
Me despi
Desse inócuo corpo físico
Me despi
De sentimentos índolentes que não me apraz.
Me despi
De esperanças vãs que nunca aportam o meu ser.
Me despi
Dessa indolente arrogância que se faz competir.
Me despi
E sigo assim para me vestir de sonhos
E, seguir.
Série Minicontos
IDÍLIO
No limiar da noite sobre a namoradeira.
Um longo preto estampado em flores escorria sobre o corpo. Jonny, lhe adornava os ralos cabelos negros. A vovó Deinha trançava o sonho azul do netinho Pedro, que ao pé da letra dormia envolto ao mundo de fantasias. Quando acordou, estava lá.
Série Minicontos
O NOIVO
Sob juras de amor eterno saíram em lua de mel.
Na curva dos noivos, consuma-se a separação.
NÃO GOSTO DO “NATAL!”.
Natal?!
Teoricamente nos remete à vida. Nascer.
No “natal” aproveitamos para sonhar uma vida melhor para si ou para aqueles que durante todo o ano nos eram invisíveis. Os excluídos na “roda dos expostos”.
E por que só no “natal” nos tornamos solidários, atenciosos e afáveis?
Por que não há “natal” em todos os lares, etnias e nações?
E, só nesta data param-se as guerras e os “Homens” se abraçam? Quando todo dia é dia de “natal”!
Será que ao celebrarmos damos a ele a roupagem que o momento reivindica?
Podemos então afirmar?
Claro que não! Colocamos o nascimento do Cristo tão somente como pano de fundo para uma data criada pela “burguesia e para a burguesia”.
Pois todo ano a cada "natal" JESUS morre de fome na África e nas periferias da "burguesia" diante das mesas fartas de suas festas privadas e regadas à finas bebidas.
No entanto contextualizamos o momento para explicitarmos nosso Ego, nossas Predileções.
Será que no íntimo a cada “natal” não cuidamos prioritariamente dos nossos desejos frustrados durante os doze meses passados?
É de bom alvitre dizer que passamos pelo tempo sem ver o tempo! Assim como passamos por nossos amigos, irmãos e semelhantes, frustrando-os de um singelo abraço. Salvo em dia de “natal”.
Sobre o simbolismo do novo comemoram-se tudo que passou.
O ano que para alguns fora bom ou Ruim, para outros nem existiu. Então, você já parou para pensar em que contexto se realiza o “natal”?
Talvez seja certo dizer que na pratica existem os que encontram nesta data a espera ansiosa de seus ente queridos para a tradicional reunião familiar a fim de “matar” saudades. Em outros casos, para aparar arestas. Saldo daquele ano “ruim”.
Há também os que pleiteiam ostentar poder, seja financeiro, político, religioso e Etc.
Por essas e outras, devemos repudiar a hipocrisia deste “natal”.
Todavia é de bom senso nos perguntar. Quantas crianças Sírias, palestinas... Não possui Natal todo dia o ano todo?
Quantas ALEPPOS, PALESTINAS... Não veem as luzes natalinas, se não das balas traçantes que cortam os céus e os sonhos de suas “Velhas Crianças” todo dia o ano todo?
Quantos bons “velhinhos” descem às lareiras dos muitos campos de refugiados em todo o mundo todo dia o ano todo?
Quantas “Crianças Velhas” existem asiladas sem “papai Noel” e que todos os seus natais são tristes e findos?
Enquanto adornamos o “natal” com “carinhas de anjos” e luzes natalinas, ALEPPOS, PALESTINAS... Sepultam seus “Anjos sem Cara” sob as luzes das balas que cortam os seus céus!
“Papai Noel” não é um bom velhinho!!!!
Ele mentiu pro meu Pai! Esperei-lhe por todas as noites todos os anos e ele não veio.
Meu Pai em lagrimas me falou que seu trenó não pode subir o morro...
Ah! Só agora posso compreender que meu pai mentiu para cessar meu sofrimento, minha angustia.
O natal é sim revelador da extrema desigualdade social universo a fio
Por isso, eu não gosto do “natal”.
POEMA ÍNTIMO II
São muitos os que estão comigo.
Muito mais aqueles que me acompanham.
Outros, diversos, me “abraçam”...
No entanto, muito, muito mais
Que os muitos...
São os poucos a me afagarem!
Sigo caminhando nesta ilusão.
Nas calçadas repletas...
Nas entranhas dessa procissão ...
Me vejo em todos os rostos.
Me sinto em todas as mãos.
Não fico, não sigo, não saiu
Do chão.
Se penso que sou ...
Sou a solidão.
A VIAGEM
A vida é o rio que passa apressado.
Então, se vê, já são 6 horas.
Nem bem navegamos, sexta-feira.
De olhar para a margem...
Passaram-se 60 anos!
E nesse paradoxo de emoções
Às margens dessas águas fugaz
Esperança, a criança que deixei
No passado a chorar...
À noite naquela euforia
Paira em sua orla a contar.
NADA É EXATO!
Por que motivo ou Razão
Somos todos desiguais?
Por quê?!
Todos os iguais são banais!
Ninguém é exato
Tampouco feliz
Permaneço eu! Deveras.
A madrugada que passou
Não é mais!
As aves, os rios, e montes,
Jazz...
Como seria o normal?
Se não fosse banal.
DIALÉTICA
Eu, tão insolente,
Quase insólito.
Você, ali, evidente.
Ângulo, cortês.
Teses a mim!
Em síntese,
Pises de mansinho
Pode estar meu
Coração.
SONHO GRENÁ
Hoje, olhando para trás, vejo tudo tão pouco e fugaz.
Só mesmo o relógio na parede, o sonho grená
Serão capazes de parar o tempo.
Porque o tempo não pára, não pára não.
Seu sonho que pára o tempo!
Para se fazer franzino meu sonho grená.
Dentro de mim estradas sem volta
Dentro de mim caminhos sem fim
Dentro de mim seus deuses de nanquim.
Série minicontos
CHÃO DE GRIS
Naquela manhã de março se fazia outono no hemisfério sul.
Sob a sombra do cajueiro em frangalhos o sol nas bancas de jornal refletia o verde oliva a sucumbir a clorofila de uma nova primavera.
Dos amantes, passantes e brincantes.
O pasquim flutuante sobre o carmim do asfalto anunciava um mau agouro:
Em seu reino tupiniquim nascia um rei torto.Quando acordei estava morto.
ILUSÃO
Peguei passagem naquele bondinho suburbano.
Somente o último acento me cabia.
franzinos se fez meus sonhos.
Serenado o dia
A noite se fazia
Pouc ao sofá jaziam
Não sei se sentia pena
Ou se é pena o que sentia.
Pobres ali vigia o limbo
Da emoção...
Envoltos na fantasia.
Outros tantos sem razão
Se vão.
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