Vinho: textos e poesias que celebram sua essência
Na adega do Platão
anda tudo farto e contente,
há vinho pra toda a gente
a palpitar do garrafão...
Há convívio e união,
com pitéus de harmonia,
ante a branca poesia
nas árias improvisadas,
e nas talhas atestadas
tudo impera em alegria.
I
Nestas boas convivências
está o mundo aqui sentado
entre saias, rumba e fado
trovam-se estas apetências...
São diversas indulgências
a mandado do coração,
mais um copo, uma canção
sempre altiva e divertida,
- e assim se goza a vida
na adega do Platão.
II
Azeitonas de conserva,
misturadas com temperos,
e talhadas de alguns peros
ofertadas por Minerva;
há bom vinho de reserva,
que se sorve e se consente,
no gabar de toda a gente
há sempre um trinar castiço,
com bom queijo, bom chouriço
anda tudo farto e contente.
III
Após as dentadas míticas
nos petiscos que aparecem,
há os Ícaros que agradecem
o primor das santas críticas...
E nas farras analíticas
Prometeu é deus e crente,
porque não fica indiferente
aos conselhos de Japeto,
prevendo que no palheto
há o vinho de toda a gente.
IV
Mais um brinde é aviado
pelas honras de Hefesto,
arde como um manifesto
muito limpo e açucarado;
é condão todo encorpado
nos cantares de pé prá mão...
A tertúlia em comunhão
num lugar franco e elísio,
com as artes de Dionísio
a palpitar do garrafão.
V
Outro copo, mais uns migos
dão convite a outro deus,
o supremo e grande Zeus
entra em paz com os amigos,
venham outros mais antigos
ou de outra geração...
Poseidon traz o trovão
que achou por entre mares,
e com rimas e cantares
há convívio e união.
VI
Cantam Ninfas, dão-nos Graças
todo o bom e o bonito,
junto à paz de Hermafrodito
a encher de novo as taças;
há castanhas e há passas,
muitos risos e magia...
E entre a grande cantoria
este Outono é Primavera,
onde encanta a boa Hera
com pitéus de harmonia.
VII
Farinheira, vinho e bolo
para Héstia, mãe da Terra,
e até Ares deixa a guerra
nos poemas com Apolo,
o seu garbo é um consolo,
todo ele é simpatia,
como sábio que nos guia
no guião deste apetite...
E a beleza de Afrodite
ante a branca poesia.
VIII
Até Demeter está feliz
junto ao céu das talhas lusas,
bebe a meias com as Musas,
e com a bela Artemis.
Tudo o que este nume diz
sai da alma das rodadas,
e então as lindas Fadas,
sem manias ou critérios,
improvisam seus mistérios
nas árias improvisadas.
IX
Psique trinca a divindade,
Eirene sorri ao mundo,
Cronos parte moribundo
sem entrar na sociedade,
Hélios pede alacridade
pelas mesas alindadas,
com risotas avultadas
Zefiro ri do poente,
outros riem no consciente
e pelas talhas atestadas.
X
Entra Atena, emocionada,
como luz de um labirinto,
diz que vai beber do tinto
e fica até de madrugada...
Manda a deusa venerada,
tão divina e tão sadia...
A singular sabedoria
fala alto mundo afora,
e nestes filhos de Pandora
tudo impera em alegria.
António Prates
Beija-me com os beijos de tua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho.
Beije-me ele com os beijos da sua boca; porque melhor é o seu amor do que o vinho.
Que a vida lhe traga vinhos e flores que adornem sua alma como num jantar à meia luz. E que, assim com a taça cheia, lhe seja saborosa, prazerosa e suave.
Já disse mais bobagem sobre vinhos do que sobre qualquer assunto, isto porque é impossível transformar em palavras as qualidades ou defeitos de um vinho, ou as sensações que ele provoca, assim como é impossível, por exemplo, descrever um cheiro e um gosto. Tente descrever o sabor de uma amora. Além de amplas e vagas categorias, como "doce", "amargo", "ácido", etc., não existem palavras para interpretar as impressões do paladar. Estamos condenados a imprecisão ou ao perigoso terreno das metáforas. Tudo é literatura.
de vinhos e de amores
dispenso amadores
traga-me um bem encorpado
para saciar minha sede
me deixar suado
encha meu copo
beija meu corpo
deixa-me aquentado
com teu sabor amargo
beijando minha boca
até deixar-me
embriagado
Se um cavalheiro não é bom com as palavras,
é bom que seja ao menos bom conhecedor de vinhos,
pois um bom vinho ganha os sorrisos de todas as mulheres.
Não são motivos para beber vinhos, são vinhos para me embebedar de motivos. Em sua medida, ele ajuda o corpo e o espírito como um combustível de energia. Não atoa, ele é o sangue de Cristo, o renascimento de Osíris, os Desejos de Dionísio.
"Bons pratos, bons vinhos, bons amigos, enquanto Tânatos ainda nos deixa por aqui. Entrar no mistério é inevitável."
(Gladston Mamede. Fragmentos de um Discurso Manducatório. Instituto Pandectas, 2022)
Os melhores vinhos são os mais velhos, são saborosos e prazerosos. Seu vasilhame já envelhecido pelo tempo, mas de um paladar embriagante.
Feitos das melhores uvas, esmagadas e sugado o melhor suco.
Vinho que embriaga e nos faz entrar em sintonia com tudo de bom que a alma pode alcançar.
Uma taça é pouco, depois de terminada queremos mais e mais.
A confiança é como uma delicada taça de cristal, que enchemos com os melhores vinhos ao lado de quem amamos. Porém, se for quebrada, não há como reconstruí-la ou substituí-la, e não é sobre taças que estou mencionando.
Opostos
"Ele era o oposto.
Calado,maduro, quieto e seguro.
Gostava de vinhos, queijos e MPB.
Eu estressada, infantil e ciumenta.
Gostava de pizza, cerveja e forró
Mas, eu o amava sinceramente!"
☆Haredita Angel
Sangue e Suor
Sob o sol do sul das terras brasileiras,
Plantam-se uvas, crescem videiras.
Fazendas produzem vinho,
A crueldade é a realidade.
Trabalhadores sem voz e sem escolha,
Escravos da terra, vítimas da ganância,
Lutavam por sua liberdade em vão,
Enquanto suas dores a terra molha.
Seu sangue e seu suor,
Misturados ao sabor do vinho.
Os rótulos não mostram a realidade,
Do trabalho forçado.
Cada gota dos vinhos,
Evocas àqueles que trabalham,
Sem salários justos, sem condições,
Em nome do lucro,
Em detrimento de suas vidas e emoções.
Não devemos nos entorpecer,
Com o gosto amargo do sangue e do suor,
Lutemos para que nunca,
Tal dor volte as nossas taças.
O silencio total do meu quarto é a minha desolação, os pássaros cantando por detrás da janela fechada é como os gritos das almas que vagam no inferno, é isso, esse é o meu inferno, esse é o meu próprio destino, apenas um ser vivo tentando sobreviver, sem ninguém, sem nada, sem palavras e sem pessoas.
O caótico ciclo da vida nos leva a lugares inusitados, tipo, dentro de si mesmo, vendo tudo e não vendo nada, a solidão é sólida como um bloco de tijolos, fria como um edredom molhado do vinho que você derrubou enquanto tentava esquecer que estava vivo, enfim, não é tristeza, é apenas, metamorfose.