Mensagens de Victor Hugo
Em certos pontos, em certas horas, contemplar o mar é sorver um veneno. É o que acontece, ás vezes, olhando para um mulher.
O homem, carnívoro, também é coveiro. A nossa existência é feita de morte. Tal é a lei terrífica. Somos sepulcro.
A noite veio. Ela achou-a tão bela, o luar tão doce, que fez um giro pela galeria que circundava a igreja. Sentiu com isso um grande alívio porque a terra lhe pareceu calma, vista lá de cima da catedral.
A felicidade que inspiramos tem algo de encantador que, longe de enfraquecer, como todos os reflexos, volta para nós mais radiosa.
Mas a sua alegria apagava-se dia-a-dia, e cobria-se de poeira, como a asa de uma borboleta que um alfinete atravessou.
O olho do homem é feito de modo que se lhe vê por ele a virtude. A nossa pupila diz que quantidade de homens há dentro de nós.
Deus ao criar o rato disse: já fiz asneira! e tratou de criar o gato, logo o gato é uma errata do rato.
Quasímodo sentia mover-se dentro de si uma alma feita à sua imagem. Essa desgraça em que vivia tornou-o mau. Era mau porque era selvagem, era selvagem porque era feio. Mas não nasceu malvado. Desde muito cedo sentira, por parte dos homens, o escárnio, o espezinhamento e a rejeição. Só encontrou ódio ao seu redor.
O organismo material humano, sobre o qual pesa uma coluna atmosférica de 15 léguas, chega à noite fatigado, cai em fraqueza, deita-se, repousa; fecham-se os olhos da carne; então, naquela cabeça adormecida, menos inerte do que se crê, abrem-se outros olhos, aparece o Desconhecido; aparece o sublime, aparece Ela...e somente Ela.
Quero beber. Quero esquecer a vida. A vida é uma invenção hedionda não sei de quem. Parte-se o pescoço a viver. A vida é uma armação prestes a vir abaixo.
Os encontros temperados com um pouco de missa são os melhores. Não há nada mais mimoso do que uma olhadela que passa por cima de Deus.
Uma amante não deve rir, porque isso nos encoraja a anganá-la. Vendo-a alegre, afugentamos os remorsos, se a vemos triste, volta-nos a consciência.
A fé, esse puro facho que aprisiona o temor, essa palavra de esperança escrita na última página, esse batel no qual pode salvar-se a tripulação...
O olho do espírito em parte nenhuma pode encontrar mais deslumbramentos, nem mais trevas, do que no homem, nem fixar-se em coisa nenhuma, que seja mais temível, complicada, misteriosa e infinita. Há um espectáculo mais solene do que o mar, é o céu; e há outro mais solene do que o céu, é o interior da alma.
(...)
Penetrai, a certas horas, através da face lívida de um ser humano, e olhai por trás dela, olhai nessa alma, olhai nessa obscuridade.
Quando o viram semear dinheiro, disseram: "É um comerciante; Quando o viram ganhar dinheiro, disseram: "É um ambicioso"; Quando o viram recusar honrarias, disseram: "É um aventureiro"; Quando o viram recusar a sociedade, disseram: "É um bruto".