Viajando
Sonhar quase acordado é estar com um pé entrantrando nos sonhos enquanto o outro já nele está viajando.
rojanemary ❤
Na madrugada,
viajando em pensamentos,
sou transportado
quase que de imediato
numa velocidade que nem percebo
entre o tempo e o espaço,
verdades de fato, pertinentes desejos
e, num certo momento, retorno
pra o lugar de onde saí
sigo pra o leito, deito e tento dormir.
VIAGENS PELO INTERIOR DO CONGO – Parte 4
Marcial Salaverry
Durante o tempo em estive no Congo, efetuei diversas viagens por essa região. As estradas continuavam sempre a mesma “maravilha”, ou piores ainda, dependendo da quantidade de chuva que caísse. Todavia, em outras viagens passei por outras situações, no mínimo curiosas. Contá-las-ei aleatoriamente, sem especificar em tal ou qual viagem.
Em certa ocasião, estávamos chegando a um dos inúmeros “bacs” necessários para a travessia dos diversos rios que cortavam a região, fui surpreendido pela atitude do barqueiro que se limitou a dar de ombros diante de meu pedido para atravessar. Certo de que estava esperando o “matabisi” (gorjeta) , preparei-me para enfiar a mão no bolso, quando Alexander cutucou meu braço, apontando para o meio do rio. Lá estava, nada mais nada menos, do que um alegre grupo de hipopótamos brincando, justamente no caminho da balsa. Com aqueles alegres animaizinhos que, possivelmente deveriam estar ensaiando para o coral de Domingo, tal a farra e a cantoria, não havia a mínima condição de travessia, pois se eles resolvessem nos convidar para a festa, não sobraria nem um só pedacinho da balsa, ou do jipe e, lógico de nós mesmos, pois o hipopótamo tem aquela expressão simpática do gordo bonachão, mas é uma fera quando incomodado.
Só nos restou ficar aguardando que terminasse a “festinha”, e os simpáticos bichinhos fossem para outro lugar, para descansar, pois se eles resolvessem dormir por ali mesmo, teríamos que esperar muito tempo. Felizmente os “hipos” são muito metódicos, e tem seus lugares próprios para repouso. Assim sendo, após quase 4 horas de espera, pudemos finalmente atravessar o rio.
Em outra ocasião, tivemos um problema muito mais complicado do que encontros com elefantes, leões ou hipopótamos. Foi uma espécie de entrevero com o pior dos animais que poderíamos ter encontrado : uma patrulha de soldados bêbados. Por falta do que fazer, um pequeno pelotão de 14 soldados do “glorioso” exército congolês, resolveu “patrulhar” aquela estrada. A meio de caminho, resolveram “encher a cara” com o famoso “vin de palm”. Para melhorar tudo, cruzaram conosco. Quando perceberam a aproximação do jipe, armaram uma espécie de tocaia na estrada, para surpreender-nos. Conseguiram. Calculem nosso susto, ao ver aquela turba, brandindo metralhadoras e revólveres, ordenando nossa parada.
Obviamente, paramos. Pelas divisas, calculei que a turba estava chefiada por um sargento, justamente o mais bêbado de todos. Maravilha. Comecei a ver o tamanho do pepino que nos esperava. Respirei fundo, procurando disfarçar o que estava sentindo, dirigi um amável sorriso ao dito cujo, chamando-o da “mon capitain” .
Primeiro ponto. O sargentinho adorou ser chamado de “capitão”. Quis ver tudo. Documentos, que quase examinou de cabeça para baixo (o documento, não ele). Quando começou a abrir as malas e viu as peças do mostruário seus olhos brilharam com as diversas camisas e calças lá existentes. Não preciso dizer que meu mostruário ficou seriamente desfalcado... Ainda bem que já estava terminando a viagem. Coisas do Congo... Agora, que posso estar contando, posso assegurar que não é nem pouquinho agradável a sensação de estar diante do cano de uma metralhadora, principalmente levando-se em conta que estava nas mãos de um soldado bêbado. Bastava um soluço qualquer, e eu não estaria aqui escrevendo estas reminiscências. Depois que tudo passou, Alexander e eu nos entreolhamos aliviados. O único prejuízo foram as camisas e calças “presenteadas” aos soldados. Seguimos viagem em paz.
Havia outra particularidade interessante nessas viagens. A maioria dos comerciantes não gostava muito de usar cheques, por falta de confiança no sistema bancário do País. Seus compromissos eram sempre pagos em dinheiro. Então, no último dia de visita em cada praça, era feita a “coleta”. Passávamos em todos os clientes, efetuando os recebimentos, e o dinheiro todo era colocado em um daqueles baús. Era o próprio “Baú da Felicidade”... Agora, calculem o que poderia ter acontecido se “aquele” baú, não estivesse estrategicamente colocado no fundo do jipe, e os soldados o tivessem aberto...
Felizmente as calças e as camisas encontradas interromperam a busca.
Essas viagens rodoviárias pelo interior do Congo, sempre mostravam ainda um outro lado, que merece um destaque especial. Era o trabalho das Missões Católicas. Geralmente instaladas em rincões bem afastados dos principais centros, os missionários procuravam fazer um trabalho humanitário e social digno de nota. Quase sem recursos, somente com doações de particulares, procuravam melhorar a vida das crianças da região, ensinando-as a ler e escrever. Esbarravam em um problema sério, que era o poder das crenças locais, que sempre eram um entrave para o trabalho dos missionários.
Além desse serviço humanitário junto aos locais, também davam abrigo a viajantes com problemas, como ocorreu comigo. Enfim um trabalho nem sempre reconhecido, razão pela qual quero prestar minha homenagem a esses heróis dedicados, os missionários e missionárias, que prestavam um serviço humanitário de extraordinário alcance. Realmente a dedicação com que esses abnegados se dedicavam ao trabalho era impressionante. A qualquer hora do dia ou da noite, em caso de qualquer necessidade, não hesitavam em ir às aldeias para socorrer quem precisasse de seus serviços. Eram professores, enfermeiros, médicos, parteiros, mecânicos, enfim tudo que fosse necessário. A remuneração que recebiam à guisa de salário era ridícula, algo como o salário de nossos professores, que sequer lhes permitia morrer de fome, pois não poderiam ser enterrados, por falta de recursos, e mesmo assim, com todas essas condições adversas, cumpriam sua missão. Tenho que registrar essa fato como reconhecimento à sua ação. Ainda há que se levar em conta que as Missões sempre estavam em locais isolados e, por isso, sofreram com as barbaridades cometidas durante as lutas pela independência... Triste demais...
A história continua, e como sobrevivi a tudo, posso sempre estar desejando a quem o desejar, UM LINDO DIA...
Estar com você é igual estar viajando
Nos seus olhos viajo pelo seu universo
Nos teus lábios viajo em cada verso
No teu ser viajo me sentindo dono do mundo.
Estamos todos viajando no mesmo
barco, o Planeta Terra.
E cada ser, independente da espécie, é uma vida, um ponto de luz que brilha.
Somos todos Animais
Somos todos vidas ❤
Paisagens em movimento
Quando vocês estiverem lendo isto aqui, estarei viajando. E estarei bem porque estarei viajando. Vem de longe essa sensação. Não apenas desde a infância, viagens de carro para a fronteira com a Argentina, muitas vezes atolando noite adentro, puxados por carro de boi, ou em trem Maria Fumaça, longuíssima viagem até Porto Alegre, com baldeação em Santa Maria da Boca do Monte. Outro dia, seguindo informações vagas de parentes, remexendo em livros de História, descobri que um de meus antepassados foi Cristóvão Pereira de Abreu, tropeiro solitário que abriu caminho pela primeira vez entre o Rio Grande do Sul e Sorocaba, imagino que talvez lá pelo século XVII ou XVIII. Deve estar no sangue, portanto, no DNA. Como afirmam que “quem herda aos seus não rouba”, está tudo certo e é assim que é e assim que sou.
Pois adoro viajar. Quem sabe porque o transitório que é a vida, em viagem deixa de ser metáfora e passa a ser real? Para mim, nada mais vivo do que ver o povo e paisagem passar e passar além de uma janela em movimento. Talvez trouxe esta mania dos trens (janela de trem é a melhor que existe), carros e ônibus da infância, porque mesmo em avião hoje em dia, só viajo na janela. Quem já viu de cima Paris, o Rio de Janeiro ou a antiga Berlim do muro sabe que vale a pena.
Topo qualquer negócio por uma viagem. Quando mais jovem, cheguei a fazer mais de uma vez São Paulo-Salvador de ônibus (na altura de Jequié você entende o sentido da palavra exaustão), há três anos naveguei São Luís do Maranhão-Alcântara num barquinho saltitante (na maré baixa, você caminha quilômetros pelo manguezal), e exatamente um ano atrás, já bastante bombardeado, encarei Paris-Lisboa de ônibus, e logo depois Paris-Oslo de ônibus também. Não por economia, a diferença de avião é mínima — mas por pura paixão pela janela. Sábia paixão. Não fosse isso, jamais teria comprado aquela f i ta de Nina Hagen numa lanchonete de beira de estrada nos Países Bascos (tristes e feios) à margem dos Pireneus, ou visto a cidadezinha onde nasceu Ingrid Bergman, num vale belíssimo na fronteira da Suécia com a Noruega.
Para suportar tais fadigas, é preciso não só gostar de viajar, mas principalmente de ver. Para um verdadeiro apaixonado pelo ver, não há necessidade sequer de fotografar, vídeo então seria ridículo. Quando não se tem a voracidade de registrar o que se vê, vê-se mais e melhor, sem ânsia de guardar, mostrar ou contar o visto. Vê-se solitária e talvez inutilmente, para dentro, secretamente, pois ninguém poderá provar jamais que viu mesmo. Além do mais a memória filtra e enfeita as coisas. Até hoje não sei se aquela Ciudad Rodrigo que vi pela janela do ônibus, envolta em névoas no alto de uma colina no norte da Espanha, seria mesmo real ou metade efeito de um Lexotan dado por meu amigo Gianni Crotti em Lisboa. Cá entre nós, nem preciso saber.
Mando esta da estrada, ando com o pé que é um leque outra vez. Lembro um velho poema de Manuel Bandeira — “café com pão/ café com pão” — recriando a sonoridade dos trens de antigamente. Pois aqui nesta janela, além dela, passa boi, passa boiada, passa cascata, matagal, vilarejo e tudo mais que compõe a paisagem das coisas viventes, embora passe também cemitério e fome. Coisas belas, coisas feias: o bom é que passam, passam, passam. Deixa passar.
Caio Fernando Abreu, in Pequenas epifanias
todos estão sorrindo... e eu aqui.
todos estão viajando... e eu aqui.
todos estão felizes... e eu aqui.
agora todos estão tristes... e eu aqui.
todos estão chorando... e eu aqui.
todos estão chateados... e eu aqui.
todos estão namorando... e eu aqui.
todos estão dançando... e eu aqui.
todos estão passando... e eu aqui.
Mente desatenta viajando por ai
procurando o que me falta o meu motivo pra sorrir
Com os olhos marejados e o coração aflito
um frio na barriga e um vazio infinito
é bom ter um grande amor e que seja de verdade
Ruim é somente quando vem a distancia e com ela a dor da saudade...
Semáforo
No espaço que desvia a presença
e, faz presente a ausência
viajando...
sigo a caminhar... saltando
sobre as estrelas do universo
e nessa amarelinha metafísica
encontro um pouco disso
...que já nem sei o nome.
Viajando... Gotas de chuva riscam o vidro do ônibus... Apesar de estar fechado para o ar puro lá fora, imagino o gosto do cheirinho de terra molhada... Espero que eu chegue logo... Espero que não chegue... Espero que me perca...
Diante de você não consigo dizer uma só palavra,
Horas e horas viajando no seu rosto,
O corpo sente um calafrio, os pés parecem flutuar
Nosso olhos se encontram em uma dimensão não conquistada.
Perco-me no brilho do teu olhar.
Essa inquietação domina meu todo, como um mudo tentando lhe fazer que você entenda por linguagens de sinas esse amor atormenta, que me faz delirar e começar de novo.
- Eu só queria poder estar pela estrada viajando muito, curtindo o por-do-sol de ângulos diferentes, sentindo DEUS em cada curva da estrada, em cada vento no meu rosto, em cada brilho de diferentes olhares em meus olhos.
Isso aliviaria um pouco da minha dor.