Versos sobre Mim

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Vou procurar um amor bom para mim - no qual me reconheço e me reencontro, me refaço e me amplio, me exploro, me descubro.

Eu não sei, mas acho que a gente olha e pensa: “Quero pra mim”. Mas dá um frio na barriga, um tremor, um medo de depender de alguém, de sofrer, de escolher errado, de lutar por algo que não vale a pena. Porque o coração nem sempre é mocinho. Foi por isso que corri, tentei fugir, mas quando tem que ser, não adianta, será.

Fica combinado assim: você louco por mim, eu louca até o fim.

Martha Medeiros
MEDEIROS, M. Poesia Reunida. Porto Alegre: L&PM, 1999.

Você pode falar o que quiser de mim, bem ou mal não ligo. Eu sei quem eu sou e você nunca vai conseguir me mudar.

Quando você foi embora, duas lágrimas de mim escorreram. Uma dos olhos, que logo chegou ao chão. Outra no coração, que congelou e cristalizou-se. Com o tempo, essa gota cristalizada vai escorrendo aos poucos, me cortando cada dia um pouco mais por dentro.

Nada é mais dessemelhante a mim mesmo que eu mesmo; daí por que seria inútil tentar definir o meu caráter por qualquer outra coisa que não a variedade; a mutabilidade é uma parte integrante de minha mente de um modo tal que minhas crenças se alteram de um momento para outro: algumas vezes sou um sombrio misantropo, em outras me sinto intensamente feliz em meio aos encantos da sociedade e aos prazeres do amor. Há momentos em que sou austero e piedoso[...], então subitamente me torno um franco libertino. [...] Em suma, um protéico, um camaleão e uma mulher são todos criaturas menos mutáveis que eu.

Eu tenho medo da força absurda que eu sinto sem você, de como eu tenho muito mais certeza de mim sem você, de como eu posso ser até mais feliz sem você.

E logo vai amanhecer. Os trabalhadores vão se levantar e vão procurar por mim no estaleiro, e dirão: ele tá bêbado de novo.

Mas enquanto eu tiver a mim não estarei só.

Clarice Lispector
Água viva. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.

Eu posso não ser totalmente perfeito, mas algumas partes de mim são realmente excelentes.

Quero cruzadas e martírio. O mundo é demasiado pequeno para mim. O mundo é pequeno demais. Estou cansada de tocar guitarra, fazer malha, passear, parir crianças. Os homens são pequenos e as paixões são curtas. Irritam- me as escadas, as portas, as paredes, irrita-me o dia a dia que interfere na continuidade do êxtase. Existe pois o martírio - tensão, febre, da continuidade da vida - firmamento em perpétuo movimento e brilho total. Nunca se viram estrelas empalidecer ou cair. Nunca adormecem.

Anaïs Nin
NIN, A., A Casa do Incesto, Assírio e Alvim, 1993

Agora deixo que a vida decida por mim...

Eu prefiro amar alguém que eu nem saiba o nome. Eu prefiro amar a mim mesma. E boa sorte pros que ainda tentam, vejo vocês no fundo do poço. E no fim, seus amores só os chamarão de passado e experiências infrutíferas.

Acho que é bonito existir em alguém do jeito que você existe em mim.

Deixai vir a mim as criancinhas, pois delas é o reino de Deus.

Depois de ter cortado todos os braços que se estendiam para mim; depois de ter entaipado todas as janelas e todas as portas; depois de ter inundado os fossos com água envenenada; depois de ter edificado minha casa num rochedo inacessível aos afagos e ao medo; depois de ter lançado punhados de silêncio e monossílabos de desprezo a meus amores; depois de ter esquecido meu nome e o nome da minha terra natal; depois de me ter condenado a perpétua espera e a solidão perpétua, ouvi contra as pedras de meu calabouço de silogismos a investida húmida, terna, insistente, da Primavera.

E quando descobri que minha felicidade só depende de mim, me livrei de tanta coisa desnecessária.

Tento ser muito legal com todo mundo, se você gosta ou não de mim, o problema já é seu.

Os poetas mentiram pra mim, Roberto Carlos mentiu para a gente. O amor não é manso assim. Ele pega, invade e devora a gente.

Acho que seus amigos estão com raiva de mim por eu ter roubado você. Eles vão sobreviver. Mas é possível que eu não a devolva.