Versos de Fernando Sabino

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Quando eu era menino, os mais velhos perguntavam: o que você quer ser quando crescer? Hoje não perguntam mais. Se perguntassem, eu diria que quero ser menino.

A gente sofre muito: o que é preciso é sofrer bem, com discernimento, com classe, som serenidade de quem já é iniciado no sofrimento. Não para tirar dele uma compensação, mas um reflexo.

Mas a convivência é feita também de silêncio, e distância.

Se lhe posso dar um conselho, é este: não tente apanhar o fruto verde para que ele não apodreça na sua mão.

O ar não é silencioso? O vento não faz barulho? E que é o vento senão ar? A música é o silêncio em movimento.

O importante não é dizer, é saber. Cartas coisas não se dizem, porque dizendo, deixam de ser ditas pelo não-dizer, que diz muito mais.

Viver devagar é que é bom, e entreviver-se, amando, desejando, sofrendo, avançando e recuando, tirando das coisas ao redor uma íntima compensação, recriando em si mesmo a reserva dos outros e vivendo em uníssono. Isso é que é viver, e viver afinal é questão de paciência.

Só é sincero aquilo que não se diz.

O menino é o pai do Homem

Um verdadeiro romance é sempre a interpretação desajeitada de um sonho.

São vidas. Sendo vidas, nada mais nos resta fazer senão irmos vivendo.

Tem de ser equilibrista até o final. E suando muito, apertando o cabo da sombinha aberta, com medo de cair, olhando a distância do arame ainda a percorrer - e sempre exibindo para o público um falso sorriso de serenidade. Tem de fazer isso todos os dias, para os outros, como se na vida você não tivesse feito outra coisa, para você como se fosse a primeira vez, e a mais perigosa. Do contrário, seu número será um fracasso.

Infidelidade é como apanhar seu sócio furtando dinheiro do caixa. A relação está dissolvida.

Há pessoas que têm o dom de inspirar-me uma fulminante simpatia à primeira vista - quase sempre aliás, injustificada.

Vou escrever alguma coisa que não sei o que seja, justamente para ficar sabendo. E que só eu posso me dizer, mais ninguém

Tudo que sentia era saudade da sua presença. Chegava tarde da noite, encontrava a casa às escuras. Era obrigado a atravessar silenciosamente a sala e subir para o quarto, resistindo à tentação de bater à sua porta sob o pretexto de saber se por caso ela ainda estaria acordada.

A consciência é inútil, sem uma convicção adquirida.

Agora o fruto de tão maduro parece que se rompe, vai apodrecendo.

- Você está nervoso, cansado, é isso.
- Cansado desta vida. Vontade de me mudar para do Rio, ir para um lugar sossegado, ter um filho, criá-lo longe daqui, constituir uma família, compreende? Levar uma vida decente. Não nasci para isso. Só você, que me conhece melhor, pode me compreender. Nós somos diferentes um do outro, eu sei; mas você sabe que eu não nasci pra isso. Eu queria ser um homem simples, direito... Um homem como meu pai.

E eu continuava assistindo à erosão da minha vida, sem que pudesse fazer nada. Muitos menos compreender Isabel.

Até que um dia resolvi imitá-la.