Versos de Fernando Pessoa

Cerca de 1006 versos de Fernando Pessoa

Mas para que me comparo com uma flor, se eu sou eu
E a flor é a flor?

Fernando Pessoa
Poemas Inconjuntos. Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. Lisboa: Presença, 1994.

Nota: Trecho do poema O quê? Valho mais que uma flor, assinado com o pseudônimo Alberto Caeiro.

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Inserida por poisonwaveya

Houve um dia em que subi esta rua pensando alegremente no futuro.
Pois Deus dá licença que o que não existe seja fortemente iluminado.
Hoje, descendo esta rua, nem no passado penso alegremente.
Quando muito, nem penso...
Tenho a impressão que as duas figuras se cruzaram na rua, nem então nem agora,
Mas aqui mesmo, sem tempo a perturbar o cruzamento.
Olhámos indiferentemente um para o outro.
E eu o antigo lá subi a rua imaginando um futuro girassol.
E eu o moderno lá desci a rua não imaginando nada.

Fernando Pessoa
Poesias de Álvaro de Campos. Lisboa: Ática, 1944.

Nota: Trecho do poema Realidade, escrito em 15 de dezembro de 1932.

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Inserida por pensador

Guardo ainda, como um pasmo
Em que a infância sobrevive,
Metade do entusiasmo
Que tenho porque já tive.

Quase às vezes me envergonho
De crer tanto em que não creio.
É uma espécie de sonho
Com a realidade ao meio.

Girassol do falso agrado
Em torno do centro mudo
Fala, amarelo, pasmado
Do negro centro que é tudo.

Fernando Pessoa
Novas Poesias Inéditas. Lisboa: Ática, 1973.
Inserida por pensador

Goethe diz, com verdade, que o Deus de cada homem é como esse homem; não será então o Deus do maior homem o maior Deus?

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Inserida por AdagioseAforismos

Deus é racionalista, porque Deus é mesmo Razão.

Fernando Pessoa
Aforismos e afins. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Inserida por AdagioseAforismos

⁠Quando te vi, amei-te já muito antes.
Tornei a achar-te quando te encontrei.
Nasci pra ti antes de haver o mundo.
Não há coisa feliz ou hora alegre
Que eu tenha tido pela vida fora,
Que não o fosse porque te previa,
Porque dormias nela tu futuro,
E com essas alegrias e esse prazer
Eu viria depois a amar-te.

Fernando Pessoa
Fausto – Tragédia Subjectiva. Lisboa: Presença, 1988.

Nota: Trecho do poema MARIA: Amo como o amor ama.

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Inserida por erika_beato

⁠Quando as crianças brincam
E eu as oiço brincar,
Qualquer coisa em minha alma
Começa a se alegrar.

E toda aquela infância
Que não tive me vem,
Numa onda de alegria
Que não foi de ninguém.

Se quem fui é enigma,
E quem serei visão,
Quem sou ao menos sinta
Isto no coração.

Fernando Pessoa
Poesias. Lisboa: Ática, 1942.
Inserida por pensador

⁠A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te ouço a passada
Existir como eu existo.

A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.

Fernando Pessoa
Poesias. Lisboa: Ática, 1942.
Inserida por rodrigo_marzullo

Fiquei doido, fiquei tonto...
Meus beijos foram sem conto,
Apertei-a contra mim,
Aconcheguei-a em meus braços,
Embriaguei-me de abraços...
Fiquei tonto e foi assim...

Sua boca sabe a flores,
Bonequinha, meus amores,
Minha boneca que tem
Bracinhos para enlaçar-me,
E tantos beijos p'ra dar-me
Quantos eu lhe dou também.

Ah que tontura e que fogo!
Se estou perto dela, é logo
Uma pressa em meu olhar,
Uma música em minha alma,
Perdida de toda a calma,
E eu sem a querer achar.

Dá-me beijos, dá-me tantos
Que, enleado nos teus encantos,
Preso nos abraços teus,
Eu não sinta a própria vida,
Nem minha alma, ave perdida
No azul-amor dos teus céus.

Não descanso, não projecto
Nada certo, sempre inquieto
Quando te não beijo, amor,
Por te beijar, e se beijo
Por não me encher o desejo
Nem o meu beijo melhor.

Fernando Pessoa
Pessoa por conhecer: textos para um novo mapa. Lisboa: Estampa, 1990.
Inserida por marcosarmuzel

⁠Ah, meu maior amigo, nunca mais
Na paisagem sepulta desta vida
Encontrarei uma alma tão querida
Às coisas que em meu ser são as reais. [...]

Não mais, não mais, e desde que saíste
Desta prisão fechada que é o mundo,
Meu coração é inerte e infecundo
E o que sou é um sonho que está triste.

Porque há em nós, por mais que consigamos
Ser nós mesmos a sós sem nostalgia,
Um desejo de termos companhia –
O amigo como esse que a falar amamos

Fernando Pessoa
Poesias inéditas (1930-1935). Lisboa: Ática, 1955.
Inserida por Maiaregina

Como um vento na floresta,
Como um vento na floresta,

Minha emoção não tem fim.

Nada sou, nada me resta.

Não sei quem sou para mim.

E como entre os arvoredos

Há grandes sons de folhagem,

Também agito segredos

No fundo da minha imagem.

E o grande ruído do vento

Que as folhas cobrem de som

Despe-me do pensamento:

Sou ninguém, temo ser bom.

Inserida por Danielsiuch

⁠A vida é um hospital
Onde quase tudo falta.
Por isso ninguém se cura
E morrer é que é ter alta.

Fernando Pessoa
Quadras ao gosto popular. Lisboa: Ática, 1965.
Inserida por viviane_1

⁠Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.

Fernando Pessoa
Poemas Completos de Alberto Caeiro. Lisboa: Presença, 1994.

Nota: Trecho do poema Não tenho pressa. Pressa de quê?, de Alberto Caeiro, um dos pseudônimos do poeta português Fernando Pessoa.

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Inserida por dhiegobalves

Para Fernando Pessoa

De quando em quando me observo ao mar
E apenas de ouvir as ondas
Em tão doce e rítmico balançar
Valeu a pena ter nascido!

Pois, como diria Fernando Pessoa: “... Amar é a eterna inocência, e a única inocência é não pensar...”

Porque ir embora pra tão longe, ir embora para o incerto. Quando poderíamos ficar aqui juntos pela a eternidade. Um amando o outro. Uma coisa que aprendi com tudo isso. Almas gêmeas não podem ficar juntas. Como isso dói, esse bichinho que entra na gente. Na verdade, que já está na gente e começa a crescer quando encontra sua cara metade, isso mesmo; estou falando do amor. Amor, o que é amor? É sofrer por algo que não podemos ter, sentir? Ou é algo que vamos tratando com o tempo? Preciso de um remédio para curar isso. Espero que a cicatriz não esteja com raízes para fora. Pois não quero mexer nessa raiz e fazer com o que abra novamente essa ferida. Mas uma coisa te digo, eu te amarei eternamente.

Álvaro de Campos

A Fernando Pessoa

(Depois de ler seu drama estático "O marinheiro" em "Orfeu I")

Depois de doze minutos
Do seu drama O Marinheiro,
Em que os mais ágeis e astutos
Se sentem com sono e brutos,
E de sentido nem cheiro,
Diz rima das veladoras
Com langorosa magia
De eterno e belo há apenas o sonho.
Por que estamos nós falando ainda?

Ora isso mesmo é que eu ia
Perguntar a essas senhoras...

O Fingidor - homenagem a Fernando Pessoa

E finge e sente
E finge e sente
Completamente,
Exaustivamente,
Que no final sente,
Tão-somente,
Que tudo fingiu
Que nada sentiu.

Para Fernando Pessoa:

Pois...Pois...
Com as suas mil faces,
as tantas faces em uma.
Com a coerência
ou incoerência,
ele foi mutação.
Sem uma alma pequena,
foi pura emoção.
Sonhou os sonhos do mundo.
Foi completamente alma,
Natural igual o levantar do vento.
Comove - me .
" Ler é sonhar pela mão de outrem"

⁠Todos os sonhos do mundo

Como Fernando Pessoa,
"tenho em mim todos os sonhos do mundo".
Vou fundo, não deixo pra lá,
não aceito: isso não dá.
Dá sim, vai por mim.
Tenho em mim toda a paciência do mundo
e acredito bem lá no fundo
que meu sonho me faz lutar
e que minha luta faz "todo o universo
a meu favor conspirar".
E você!?
Que sonhos tem?
Sonhos ainda tem?
Ou já perdeu a paciência...
e deixou de na vida acreditar?
Veja bem...
ou você tem...
ou alguém tem 😉

A vida nos exige valentia; aliás, Fernando Pessoa já nos falava isso da Felicidade.
Valentia para acolher os desertos. Valentia para fingir que os códigos vazios que tentam nos vender nos bancos de escolas e púlpitos religiosos são de algum serventia real. A verdadeiros críticos, servem como material do pensamento. Fingir, mas na alma lutar para fazer da vida algo grandioso que muitas vezes é guardar sorrisos, Colecionar abraços e nunca esquecer uma palavra que nos despertou para a alegria sincera e verdadeira.
A vida nos exige valentia. Tornar-se um amigo de nossas escuridões, jamais um algoz que faz mais inferno em nós. Procure se aproximar de si mesmo, de seus medos, angústias, tristezas, isso, isso meus caros, é vida acontecendo. As montanhas são imponentes porque silenciosamente batalham nas suas profundidades.
A vida existe valentia. Não se despeça de suas inquietações, nem as disperse. Queira-as! Mergulhe nelas e descobrirá quão grande és! .

Inserida por JRicardoescritor