Versos de Fernando Pessoa
Mas eu não tenho princípios. Hoje defendo uma coisa, amanhã outra. Mas não creio no que defendo hoje, nem amanhã terei fé no que defenderei.
Os psiquiatras sabem (às vezes) como trabalha o espírito doente, mas não como trabalha o espírito são.
Mas como é que eu sei que estou consciente? Estou consciente de que estou consciente? Será isto possível?
Que a consciência da própria inimportância é o acume do conhecimento da vida.
Que homem de gênio não é obcecado por um sentido de missão?
A ação aperfeiçoadora de um amor puro, seja ele por uma mulher ou por um rapaz, é um dos encantos do mundo.
Eu gosto tanto de ti que tenho vergonha de mim. Há todas as razões boas para eu não gostar de ti, menos a de eu não gostar, porque gosto. É fantástico a gente sentir o que não quer e ter um coração independente.
"O Poeta é um fingidor", Fernando Pessoa sabia bem o que quer dizer isso, pois levou a vida a inventar outras mil pessoas, com o fim de esconder quem de fato era: Um gênio incompreendido, um débil fingidor da sua real essência mortal e decadente... é dessa matéria que se forjam os poetas geniais.
Um dos aspectos da desigualdade é a singularidade – isto é, não o ser este homem mais, neste ou naquele característico, que outros homens, mas o ser tão somente diferentes deles.
(Aforismos e afins)
A diferença entre Deus e nós deve ser não de atributos, mas da própria essência do ser. Ora tudo é o que é. Portanto Deus é não só o que é mas também o que não é. Confunde-nos de Si com isso.
(Aforismos e afins)
Be complete in everything, for to be complete in anything is to be right. All roads arrive at the same place.
Sê inteiro em cada coisa, pois ser inteiro em qualquer coisa é estar certo. Todos os caminhos vão dar ao mesmo lugar.
(Aforismos e afins)
Tudo quanto o homem expõe ou exprime é uma nota à margem de um texto apagado de todo.
Mais ou menos, pelo sentido da nota, tiramos o sentido que havia de ser o do texto; mas fica sempre uma dúvida, e os sentidos possíveis são muitos.
[Bernardo Soares]
"É talvez o último dia de minha vida. Saudei o sol levantando a mão direita, mas não o saudei dizendo-lhe adeus. Fiz sinal de gostar de o ver".
(Poemas inconjuntos - Alberto Caeiro)